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Herdeiro de colecionador nazista poderá ficar com coleção de ‘arte degenerada’

autoridades alemãs consideram que arte confiscata pelo regime nazista pertencia a museus e por isso não seriam cabíveis reivindicações de devolução aos proprietários originais 

Por Economia & Negócios
Atualização:

BERLIM - O tesouro nazista formado por obras de arte confiscadas pelo regime de adolf Hitler poderá ficar com Cornelius Gurlitt, filho de um negociante de arte atuante à época do nazismo.

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O alemão foi considerado o legítimo proprietário das obras apreendidas em seu apartamento em Munique. A conclusão está no relatório do Departamento Alemão de Investigações Alfandegárias ligado ao Ministério das Finanças, segundo informações divulgadas neste domingo, 10, pela revista Focus e o jornal Bild am Sonntag.

As 315 peças modernistas confiscadas pelos nazistas por serem classificadas como "arte degenerada" se encontravam em museus nacionais e municipais, e por isso "não são cabíveis quaisquer reivindicações de devolução ou ressarcimento por parte dos proprietários originais", concluiram as autoridades.

Arte degenerada. O chamado "Tesouro de Munique" foi confiscado no apartamento de Gurlitt em fevereiro de 2012 mas a apreensão fó foi tornada pública há uma semana após uma reportagem da revista Focus. Ao todo foram apreendidas 1.406 pinturas, desenhos e gravuras.

A procuradoria-geral de Augsburg abriu inquérito contra Gurlitt por sonegação de impostos. Em 1940, o pai do colecionador, o marchand Hildebrand Gurlitt, comprou do Ministério nazista da Propaganda mais de 200 objetos de "arte degenerada" por 4 mil francos suíços.

Entre as obras estavam quadros de Pablo Picasso (Família de fazenreiros), Marc Chagall (Passeio) e de Emil Nolde (Porto de Hamburgo). No ano seguinte, o negociante morto em 1956 adquiriu do Estado nazista outras 115 peças modernistas.

Em fevereiro de 2012, durante vistoria das autoridades ao apartamento do herdeiro de 79 anos, em Munique, os investigadores apreenderam os livros-caixa de seu pai, segundo a revista Focus. No livro havia nomes de colecionadores judeus dos quais Hildebrand adquiriu os quadros, a preços módicos.

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Foram apreendidas também 181 obras que provavelmente pertenceram a um colecionador de Dresden, que as vendera antes de fugir do terror nazista, informa a revista.

Segundo as autoridades alfandegárias, os herdeiros desse colecionador teriam direito à devolução das peças. O mesmo se aplica a pelo menos 13 outros quadros, que foram ou obtidos por organizações nacional-socialistas recorrendo à coação dos proprietários, ou vendidos sob pressão.

Indignação. Michael Hulton, herdeiro do negociante de arte judeu Alfred Flechtheim, disse à Focus que está "indignado que as autoridades alemãs – que, afinal, há tantos anos enfatizam a necessidade de honrar o preceito da transparência, no tocante à arte roubada pelo regime nazista – tenham mantido esse achado secreto, por tanto tempo":

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A revista alemã noticiou que a historiadora de arte berlinense Meike Hoffmann, encarregada do aspecto científico do caso, também criticou o longo silêncio dos investigadores sobre as obras apreendidas. Ela já entregou seu parecer provisório ao procurador-geralReinhard Nemetz, que orienta as investigações. E declarou que, se não se agir agora, finalmente, tudo está ameaçado de acabar num "desastre".

Cornelius Gurlitt se pronunciou, pela primeira vez desde a divulgação do caso, numa carta à revista Der Spiegel. Ele pede que o veículo "não mencione mais" o nome Gurlitt. Aparentemente, a preocupação do colecionador é que seu pai, que foi diretor da Associação de Arte da Renânia e Vestfália, não fique associado ao regime nazista, segundo informações da Deutsche Welle.

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