26 de abril de 2021 | 14h38
Depois de uma negociação feita em menos de uma semana, iniciada na última quinta-feira, 26, a Hering anunciou sua incorporação ao Grupo Soma, em um negócio avaliado em R$ 5,1 bilhões. Essa é a primeira vez que a marca de confecções centenária muda de dono após 140 anos dentro da mesma família.
Companhia agora passará a fazer parte do Grupo Soma, que é dono das marcas Animale e Farm; veja principais pontos da história da empresa:
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26 de abril de 2021 | 09h49
Atualizado 27 de abril de 2021 | 07h34
Em uma negociação relâmpago, o Grupo Soma (dono de marcas como Animale e Farm), fechou acordo para incorporar a Hering, segundo fato relevante divulgado nesta segunda-feira, 26. O negócio avalia a centenária marca de confecções em R$ 5,1 bilhões, valor bem superior aos pouco mais de R$ 3 bilhões que a Arezzo havia oferecido em uma oferta considerada hostil pela companhia na semana passada. O movimento animou as ações da Hering, que fecharam o dia em alta de 26%, a R$ 28,62 – um ganho de valor de mercado equivalente a R$ 965 milhões em um só dia.
O negócio esquenta de vez a disputa da consolidação do varejo brasileiro, em que as empresas tentam correr para ganhar musculatura em um mercado cada vez mais acirrado. O fechamento do negócio com a catarinense Hering coloca o Grupo Soma em um novo patamar entre os varejistas nacionais. A companhia, até aqui, se limitava à atuação no mercado premium. Agora, vai para o segmento de massa, ganhando musculatura.
O preço pago pelo Grupo Soma avaliou o papel da Hering em cerca de R$ 33, quando eram negociados na bolsa na última semana em torno de R$ 22. O valor de mercado da Hering na sexta-feira, 23, era de pouco menos de R$ 3,7 bilhões. O preço pago pela companhia está cerca de 37% acima deste valor.
Conforme mostrou reportagem do Estadão desta segunda-feira, diversas varejistas estão se movimentando para sair fora de sua zona de conforto e virar uma "consolidadadora" do mercado. Segundo Marcos Gouvêa de Souza, fundador da consultoria Gouvêa, a situação do mercado exige pressa, pois agora a empresa que não se movimentar rápido corre o risco, lá na frente, de acabar adquirida por outra que se movimentou com antecedência.
As conversas começaram depois da proposta da Arezzo. Segundo apurou o Estadão, a família não havia gostado da oferta (que considerou baixa), mas o movimento da calçadista foi suficiente para chamar a atenção de outros interessados. As negociações com a Soma foram relâmpago. Começaram na quinta-feira, e a rapidez surpreendeu até quem estava envolvido no negócio.
O grande objetivo da família Hering era conseguir a avaliação que o negócio chegou a ter antes de a pandemia de covid-19 causar uma desvalorização nos papéis da companhia, derrubando seu valor de mercado. Foi uma equação simples: o Soma chegou muito perto do que a Hering pedia, e as conversas andaram rápido, uma vez que havia disposição da família em vender.
Outra questão que pesou favoravelmente na proposta do Soma, em relação à da Arezzo, foi a aproximação. Enquanto a oferta da calçadista foi considerada por fontes de mercado como "quase hostil", que deixava a empresa com cara de negócio antigo e desvalorizado, o Soma soube valorizar o legado da Hering, tanto no preço quanto na condução das conversas. Os donos da Hering devem ter participação na gestão do novo grupo, pelo menos temporária.
Embora o executivo Roberto Jatahy, do Soma, vá ter o comando dos negócios nas mãos, as conversas para a compra da Hering contemplaram bastante terreno para a família fundadora da companhia.
O atual presidente da Cia. Hering, Fabio Hering, deve assumir a presidência do conselho do Grupo Soma após a combinação de negócios das duas empresas. O filho dele, Thiago Hering, continuará como CEO da marca Hering. Em teleconferência com investidores sobre a fusão, Fábio foi o primeiro a falar. O empresário lembrou que se relaciona com executivos do Grupo Soma há quase dez anos e que, em reunião com a família fundadora da malharia, a decisão teve repercussões positivas.
“Ivo Hering (presidente do conselho da Cia. Hering) lembrou que ao conhecer Jatahy, eu disse que ele poderia me suceder na empresa. Era uma época em que nem se falava no Thiago (Hering) me suceder”, contou Fábio. “Parece uma negociação veloz, e foi. Mas temos vínculo antigo com o Soma”, explica.
Roberto Jatahy, disse ainda, em teleconferência sobre o negócio, que algumas marcas do Soma podem partir para o modelo de franquias, modelo já adotado pela Hering. “Temos baixo conhecimento em gestão de franquias”, disse. Ele apontou que a experiência dos executivos da Hering nesse quesito deve proporcionar essa evolução às marcas que já estavam no portfólio do grupo.
O executivo disse ainda que a companhia deixará à disposição da Hering uma área de estamparia e que o parque industrial da varejista de moda básica deve contribuir com quase todas as marcas do grupo. “Calculamos R$ 200 milhões em sinergias a serem capturadas no período de 2 a 3 anos”, completou o diretor financeiro do Grupo Soma, Gabriel Lobo.
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26 de abril de 2021 | 17h01
O Grupo Soma, em um rápido movimento, fechou negócio para incorporar a catarinense Hering por R$ 5,1 bilhões, batendo a oferta da Arezzo, que ofereceu pouco mais de R$ 3 bilhões. O acordo veio em um momento em que as varejistas brasileiras buscam vias de crescimento em meio à pandemia de covid-19, com aquisições e investimentos em tecnologia. Mas quem, afinal, é o Soma, esse “novato” que agora virou dono de uma marca de 140 anos?
Com origem na fusão da Animale e da Farm, ocorrida em 2010, o Soma já tinha certa musculatura: eram 264 lojas ao fim de 2020 e mais de 5,3 mil funcionários no País. Após realizar sua estreia na Bolsa, em julho do ano passado, em operação que captou R$ 1 bilhão, o Grupo Soma focou em um plano de expansão e digitalização, sempre com foco em marcas premium.
Conhecida por suas aquisições, a companhia tem nove marcas: Animale, Farm, Fábula, A. Brand, Foxton, Cris Barros, Off Premium, Maria Filó e ByNV (Nati Vozza) – esta última adquirida após o IPO, por conta de sua forte presença digital. Nada, porém, que se compare ao negócio gigante, fechado em uma negociação de apenas três dias com a família Hering.
A composição acionária do Soma é pulverizada: o presidente Roberto Jatahy (fundador da Animale) tem 16% e é o maior acionista. Todos os negócios que foram adquiridos ao longo do caminho, porém, ficaram com alguma participação: Cris Barros e Nati Vozza, por exemplo, têm hoje 1,56% e 0,87%, respectivamente. A fatia em negociação no mercado equivale a 37% do negócio. Com o acordo com a Hering, haverá nova diluição entre os acionistas principais.
Segundo Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail, o Grupo Soma hoje é lucrativo porque a fusão das marcas Farm e Animale foi um processo que soube explorar as sinergias entre os dois negócios e harmonizar as culturas. “A Animale era maior que a Farm, com estrutura e gestão mais robustas. Mas a Farm tinha duas características interessantes: presença internacional, com colaborações com marcas estrangeiras e vendas nos Estados Unidos, e uma operação digital mais forte.”
O consultor afirma que processos de fusões e aquisições não são garantia de sucesso – mas o Soma conseguiu um saldo positivo de suas operações. “O crescimento por aquisição de marcas não é fácil de fazer, mas, no caso do Soma, deu certo porque foi feito de maneira estruturada, com gestão profissionalizada e uma visão estratégica de longo prazo mais consistente. A empresa era muito saudável, tanto é que depois se credenciou para o IPO.”
A companhia também colhia frutos de uma digitalização avançada ainda antes da pandemia. Parte desses resultados é um sistema chamado “código do vendedor”, em que os funcionários ganham comissão por vendas online. “O Grupo Soma herdou um processo que a Farm fazia muito bem e que depois foi estendido para o grupo como um todo. Mais de 20% da venda total era online e, dessa porcentagem, grande parte era realizada por vendedores das lojas”, diz Serrentino.
Com a aquisição da Hering, o Grupo Soma, que possui apenas marcas do segmento premium, entra em uma área na qual ainda não atuava: o de produtos que também conquistam o consumidor pelo preço. Além disso, o Soma terá de lidar com uma cultura que mistura varejo e indústria, uma vez que a Hering concentrava a maior parte de sua produção dentro de casa. A marca foi criada em 1880 e tem forte tradição fabril.
A Hering tem potencial de escala muito grande, além de ter presença internacional e um alcance de mercado maior que o Grupo Soma, diz Serrentino. “Tem inclusive base fabril que pode ser usada para os outros negócios do grupo, que faz alguma produção internamente, mas tem muita coisa terceirizada. Então, a aquisição traz vários ativos. E, obviamente, cresce a musculatura do Grupo Soma.”
O presidente do Grupo Soma, Roberto Jatahy, disse nesta segunda-feira, 26, que o potencial de mercado do conglomerado saltou de R$ 30 bilhões para R$ 110 bilhões, com a compra da Hering. "Isso mostra o novo potencial de crescimento que temos", diz Jatahy. "A Hering traz aumento de mercado potencial e complementaridade de marcas.”
Outro trunfo do Soma na negociação com a Hering foi o reconhecimento do legado da empresa de 140 anos. Jatahy garante que a marca Hering seguirá com independência. "Temos a vantagem de ter um CEO que traz a marca no seu sobrenome. Thiago Hering segue com independência na gestão da marca", afirma. / COLABOROU TALITA NASCIMENTO
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