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'Hoje prefiro investir no nosso negócio'

Fase de euforia com os recordes, quando se trocava a caminhonete a cada safra, já passou

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

O cenário recessivo deixou o produtor mais realista e voltado para investir no próprio negócio. “Antes o agricultor trocava de carro a cada safra, agora não tem euforia”, afirma o produtor e engenheiro agrônomo Arthur Antônio Batistella, de 56 anos, dos quais 40 na atividade.

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Ele cuida de 725 hectares da sua família em três municípios – Ourizona, São Jorge do Ivaí e São Pedro do Ivaí – que ficam num raio de até 70 quilômetros de Maringá (PR). Cultiva a área toda com soja e, na sequência, com milho. 

Nesta safra, Batistella conta que investiu mais em tecnologia. “Fizemos três aplicações de fungicidas e melhoramos as máquinas.” A mais recente aquisição ocorreu na semana passada. Comprou uma colheitadeira com plataforma de sete metros de largura e desembolsou R$ 690 mil. “Sempre investimos a renda do negócio no custeio e só buscamos financiamento para compra de máquinas.”

No passado recente, admite que chegou a trocar de caminhonete e viajar para o exterior com frequência. “Hoje prefiro investir no negócio.” 

Na última safra, quando boa parte dos produtores enfrentou quebra na produtividade da soja, Batistella se deu bem. Tirou 60 sacas por hectare porque plantou cedo e escapou da seca e da chuva. Ele só errou a mão na hora da comercialização. Na última safra, vendeu antecipadamente parte da produção por R$ 58 a saca de soja e, na época da colheita, o preço foi a R$ 79. 

Nesta safra, porém, ele fez, até agora, um bom negócio. Vendeu 40% da produção antecipadamente por até R$ 80 a saca de soja e o grão está em R$ 68. 

Batistella prevê que nesta safra vai conseguir repetir a produtividade da passada: 60 sacas por hectare. Mas tem metas ambiciosas: quer superar 80 sacas em dois anos. “Estamos contando com agricultura de precisão e todas as técnicas possíveis.”

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Cartório. Quase 30 anos no comando do 14.º Tabelião de Notas de São Paulo, o produtor Paulo Vampré também está investindo pesado em tecnologia na produção de soja. Acaba de comprar uma colheitadeira de R$ 1,5 milhão, financiada pelo BNDES. Pretende expandir a área plantada com o grão em Itiquira, em Mato Grosso. Nesta safra, cultivou 500 hectares e planeja ir para 1.400 na próxima, retomando fazendas próprias que estavam arrendadas. “Estou expandindo a área porque acredito que a economia está mais para o agronegócio.” 

Vampré investiu em máquinas novas Foto: Estadão

Administrador e advogado de formação, aos 69 anos, Vampré trabalha no cartório há mais de 50 anos, quase o mesmo tempo que mexe com o agronegócio. Começou a plantar soja em 1972, no Paraná, na fazenda do sogro, de quem herdou as áreas hoje cultivadas. “Na agricultura, acabei tomando alguns reveses por causa do tempo e fiquei só com o gado.” 

O retorno para a agricultura ocorreu sete anos atrás, quando percebeu que, por causa da evolução tecnológica, abriu-se a possibilidade de reduzir as perdas na produção. Todas as máquinas que usa têm GPS. Isso permite corrigir as deficiências do solo e atingir níveis maiores de produtividade. Na última safra tirou, em média, 59,5 sacas de soja por hectare. Nesta safra espera colher entre 65 e 70 sacas. 

Vampré conta que o dia a dia da produção é tocado pela filha e pelo genro, que são agrônomos. Ele diz que o cartório é a sua vocação. Mas notou, nos últimos tempos, que apesar de o cartório estar indo bem, é limitado perto do agronegócio. Na sua opinião, o bom desempenho do campo ocorre porque há um equilíbrio entre produção e consumo. “A China importa tudo. Brasil, Estados Unidos e Argentina batem recordes e a soja não encalha.” Diante disso, não descarta a chance de que a agricultura, tida para ele como um plano B, se torne um plano A.

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