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Hora de repensar a cidade

Mais de dez anos após a aprovação do Plano Diretor de São Paulo e o Município não pode mais esperar pelos necessários ajustes nos rumos de seu modelo de desenvolvimento. A cidade é um organismo vivo e dinâmico. Seu planejamento requer adaptações mais ágeis e mecanismos de captação das suas alterações. Um dos maiores desafios do novo Plano Diretor será o equacionamento do sistema de mobilidade na cidade e o inevitável adensamento da malha urbana. Muitas cidades do mundo passaram e estão passando por problemas semelhantes e suas experiências devem ser consideradas, aperfeiçoadas e utilizadas conforme sua adaptabilidade ao nosso modelo de desenvolvimento. A primeira lição é a criação da chamada parceria 3P: pessoas (sociedade), (poder) público e (setor) privado. O governo e todos os demais envolvidos nesse processo devem se unir para forjar medidas em benefício da cidade, que causem o mínimo de desconforto à maioria da população. Nesta linha, uma das alternativas interessantes é entremear na cidade quadras adensadas com quadras menos adensadas, instituindo fronteiras verdes, que envolvem áreas de menor verticalização, novas tipologias de ocupação e espaços públicos de qualidade. Isso trará a sensação de uma cidade menos compacta, ainda que se mantenham os mesmos níveis de ocupação por área quadrada. Incentivar e induzir de forma eficiente o desenvolvimento de polos com características de uso misto e autossustentáveis. Nas cidades compactas, o adensamento planejado em polos desse tipo cria condições para diminuição dos deslocamentos. Ao favorecer a mobilidade, esse modelo ainda propicia economia de escala suficiente para a implantação de espaços públicos de alta qualidade. Trabalhar no aproveitamento e na manutenção dos espaços compartilhados é outro fator de extrema importância. Desde o plantio de vegetação em pilares de pontes e viadutos - formando paredes verdes por toda a cidade - até um modelo eficiente de preservação e conservação das áreas públicas são ações a serem avaliadas. Temos de pensar a longo prazo para o melhor aproveitamento do espaço urbano e sua infraestrutura. A combinação de planejamento eficiente, políticas responsáveis de uso do solo, controle do desenvolvimento e bons projetos poderá fazer com que o Município se adense na medida de sua necessidade, sem que a população tenha a sensação de morar num ambiente sufocante, mas, ao contrário, sinta-se vivendo numa cidade aprazível. Projetar racionalmente os espaços para melhorar a segurança é outro ponto relevante. O projeto de novos edifícios deve considerar como melhorar o acesso visual aos espaços públicos, diretamente, por meio de câmeras ou outras tecnologias que permitam que a população, de forma coletiva e sem maiores riscos, possa vigiar as ruas, ajudando a mantê-las mais seguras. E isso vale também para os prédios prontos, em função do barateamento e da facilidade de acesso a essas tecnologias. Pensar de forma inovadora não pode faltar no cardápio de soluções. À medida que a cidade se torna mais densa e começa a enfrentar restrições de recursos, ideias não convencionais devem permear o tratamento dos novos desafios. Nesse sentido, a priorização do transporte público de qualidade e alternativas para sua otimização devem estar sempre presentes. E, por fim, trazer a natureza para mais perto das pessoas. A mistura cidade-natureza ajuda a suavizar as arestas da metrópole construída e provê aos moradores espaços de descanso longe da agitação da vida urbana. É essencial a adoção de uma estratégia firme e eficiente na criação de recintos verdes urbanos diferenciados, transformando os parques e rios da cidade em verdadeiras áreas para atividades comunitárias. Isso torna a cidade esteticamente agradável, melhora a qualidade do ar, diminui a temperatura nas ilhas de calor e traz muita qualidade de vida para seus habitantes, o que é o objetivo de todos.

Por Claudio Bernardes
Atualização:

* Claudio Bernardes é presidente do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) e reitor da Universidade de Secovi.

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