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Hora e vez do Fed

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Por Celso Ming
Atualização:

Há anos uma reunião do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) não era aguardada com tanta ansiedade. Terça-feira, 12 sisudos senhores comandados pelo presidente Ben Bernanke tomarão a decisão de rever ou não os juros básicos (Fed funds), que desde junho de 2006 estão estancados nos 5,25% ao ano. Desde o estouro da bolha imobiliária americana, em julho, o mercado vem esperando por um corte generoso dos juros para que fique facilitado o resgate de empresas, bancos e aplicadores que há semanas estão sangrando com a crise do crédito imobiliário de alto risco (subprime). Embora venha prometendo todos os esforços a seu alcance para virar o jogo, Bernanke parece relutante a derrubar os juros, talvez porque tema com isso premiar operações irresponsáveis de bancos, companhias de crédito imobiliário e especuladores. Ele sabe, também, que não pode produzir resultados isolados. Um corte dos juros agora não poderia chegar once and for all, como indenização de um seguro que não se repete. Teria de inaugurar um período relativamente longo de afrouxamento monetário. E, como quinta-feira reconheceu o ex-presidente do Fed Alan Greenspan, hoje o comportamento da inflação americana (em alta) talvez não permita esse luxo. Foi por isso que até agora o principal alívio proporcionado pelo Fed foi a redução de 0,5 ponto porcentual dos juros cobrados dos bancos nas operações do redesconto. Bernanke várias vezes deixou claro que o objetivo é desobstruir as veias do crédito bloqueadas pela perda de confiança e não injetar anabolizantes no sistema circulatório que distribuíssem bem-estar ilusório para logo em seguida revidar com mais inflação. A advertência dos analistas é a de que as quebras provocadas pela crise podem contaminar a economia americana e, por extensão, também a mundial. O patrimônio do americano médio, lembram eles, está sendo desvalorizado pelo mercado e bastaria a percepção de perda de riqueza para levá-lo a derrubar perigosamente o consumo e, a partir daí, também a atividade produtiva. Em outras palavras, o que está sendo contraposto a Bernanke é a tese de que o risco maior não é o de uma esticada da inflação, mas um mergulho na recessão cujas conseqüências ninguém pode prever. Muitos analistas internacionais avançam no argumento de que um corte dos juros de apenas 0,25 ponto porcentual seria insuficiente se o objetivo a atingir é evitar o pior. Na semana passada, reunidos na cidade de Basiléia, na Suíça, os presidentes dos bancos centrais - Bernanke inclusive - admitiram que a crise pode, sim, desembocar numa recessão. Mas fizeram questão de pontuar que é baixa a probabilidade de que isso aconteça. Isso parece sugerir que Bernanke não irá além de um corte de 0,25 ponto porcentual. Talvez entenda ele que seja melhor esperar até a reunião de outubro para só então iniciar a temporada de afrouxamento. Mas o mercado está aflito e tem demandas urgentes. Pressiona por um alentado afrouxamento monetário agora e sabe-se lá como reagirá se Bernanke não se mostrar a distribuir moleza.

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