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'Prévia' do PIB do BC indica tombo de 11% no 2º trimestre e início de recessão

Essa é a maior baixa para um trimestre na série histórica do indicador, iniciada em 2003; de janeiro a março, a economia já havia recuado 1,5%

Por Fabrício de Castro
Atualização:

BRASÍLIA - A economia brasileira registrou um tombo de 10,94% no segundo trimestre de 2020, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) divulgado pelo Banco Central (BC) nesta sexta-feira, 14. Essa é a maior baixa para um trimestre em toda a série histórica do BC, iniciada em janeiro de 2003.

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O indicador é considerado uma "prévia" do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.

Se a retração do PIB se confirmar no segundo trimestre deste ano, o Brasil terá entrado oficialmente em "recessão técnica" - que se caracteriza pelo recuo do nível de atividade por dois trimestres consecutivos. Nos três primeiros meses deste ano, a economia já havia tido retração de 1,5%.

Sede do Banco Central, em Brasília. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O resultado oficial do PIB do segundo trimestre será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) somente no dia 1.º de setembro.

O recuo entre abril de junho deste ano foi verificado na comparação com o primeiro trimestre de 2020. O valor foi calculado após ajuste sazonal, uma "compensação" para comparar períodos diferentes de um ano. 

"O segundo trimestre vai ter aquela queda mais forte, que todo mundo estava esperando. A dúvida que permanece é como isso vai continuar ao longo do ano", diz  o economista Julio Cesar Barros, da MAG Investimentos.

Segundo ele, a principal incerteza neste momento é sobre o fim dos efeitos na atividade do fim do auxílio emergencial pago pelo governo a desempregados, informais e beneficiários do Bolsa Família. "Quando esse estímulo fiscal sair, o que vai ficar é desemprego estrutural, atividade demorando para pegar no tranco e o setor de serviços em nível deprimido até aparecer uma vacina", avalia.

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Os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a economia, apesar de percebidos em fevereiro, se intensificaram em todo o mundo a partir de março. Para conter o número de mortos, o Brasil adotou o isolamento social em boa parte do território, o que impactou a atividade econômica. Os efeitos negativos foram percebidos principalmente em março e abril. Nos últimos dois meses (maio e junho), porém, o IBC-Br já demonstrou reação.

A projeção atual do BC para a atividade doméstica em 2020 é de retração de 6,4%, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho. No Relatório de Mercado Focus divulgado pelo BC na última segunda-feira, 10, a projeção de economistas do mercado financeiro é de queda de 5,62% do PIB em 2020

Para o Itaú Unibanco, a economia tem reagido bem ao processo gradual de reabertura.  "Os números de maio e junho mostram a economia se recuperando das quedas fortes que ocorreram em março e abril, período mais intenso de isolamento social", diz  Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco.

De acordo com ele,  tem ocorrido uma recuperação rápida em alguns setores da economia brasileira como varejo e indústria. Por outro lado, o ritmo está mais lento em alguns tipos de serviços, como aqueles prestados às famílias. "É o único setor que sofreu bastante e não está se recuperando rápido e representa 15% do PIB e um quarto do setor de serviços", explica.

Alta em junho

Somente em junho deste ano, de acordo com o IBC-Br, a economia brasileira mostrou crescimento de 4,89% - na comparação com o mês anterior. O número foi calculado após ajuste sazonal. Foi o segundo mês seguido de crescimento do indicador, após registrar fortes recuos em março e abril deste ano.

Entretanto, na comparação com junho do ano passado, informou o Banco Central, o índice de atividade econômica da instituição apresentou queda de 7,05%. Nesse caso, o índice foi calculado sem ajuste sazonal, pois considera períodos iguais.

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O banco britânico  Barclays revisou nesta sexta-feira suas projeções para o PIB, depois da divulgação do resultado do IBC-Br, para uma retração menor do que a esperada anteriormente, de queda de 5,7% para recuo de 5%.  "A recuperação da economia está sendo puxada por um rápido ressalto no varejo, graças às transferências do governo, enquanto os serviços ainda estão para trás. O ímpeto positivo em junho e para o terceiro trimestre nos levou a revisar as nossas projeções para o PIB", disse o economista Roberto Secemski, que assina relatório do banco.

Para ele, a tendência de recuperação gradual da atividade parece ter continuado em julho, sustentada pelo auxílio emergencial. "De maneira geral, indicadores coincidentes disponíveis para julho sugerem que a recuperação continuou, apesar de a incerteza seguir extraordinariamente alta, já que a pandemia não foi controlada em algumas partes do País", avalia.

IBC-Br x  PIB

Os resultados do IBC-Br são considerados uma "prévia do PIB". Porém, nem sempre mostraram proximidade com os dados oficiais do Produto Interno Bruto.

O cálculo dos dois é um pouco diferente – o indicador do BC incorpora estimativas para a agropecuária, a indústria e o setor de serviços, além dos impostos.

O IBC-Br é uma das ferramentas usadas pelo BC para definir a taxa básica de juros do país. Com o menor crescimento da economia, por exemplo, teoricamente haveria menos pressão inflacionária.

"O IBC-Br é uma boa métrica, mas não é o PIB, a concepção é bem diferente. Há um peso maior nas pesquisas mensais e se desconsidera a massa de renda de outros serviços, que são o core da economia brasileira", afirma  Vitor Vidal, da XP Investimentos. Ele lembra que, em momentos de crise econômica mais aguda, como em 2008/2009, houve um descolamento entre o IBC-Br e o PIB.  No segundo trimesre de 2009, equanto o IBC-Br caiu 4,1% na comparação com o mesmo período de 2018, o PIB teve queda de 2,4%.

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Para o economista, o PIB do segundo trimestre deste ano deve cair 9,8%, em comparação com o mesmo período de 2019 - o IBC-Br aponta para um recuo de 12,03%.  Na comparação do segundo trimestre deste ano com o trimestre anterior, a XP espera redução de 8,0% para o PIB, número que foi de 10,94% no IBC-Br. / COLABORARAM ALINE BRONZATI, CÍCERO COTRIM e GREGORY PRUDENCIANO

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