Os dois principais pontos que o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) defenderá nas reuniões que terá amanhã com o governo brasileiro serão o acesso ao mercado internacional e a defesa do comércio local. Na prática, o setor quer que o País ingresse na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a decisão do governo americano de taxar as compras de aço e pleiteia a imediata elevação para 30%, no Brasil, da alíquota de importação do produto, como prevenção contra o risco de o mercado nacional receber todo fluxo de aço que será desviado em decorrência da onda de protecionismo global. O cenário foi traçado hoje pelo vice-presidente do IBS, Marco Polo de Mello Lopes. Ele contou que as siderúrgicas terão duas reuniões amanhã com o governo, uma com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sérgio Amaral, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. Depois de ouvir o setor siderúrgico nacional, a decisão do governo brasileiro deverá ser tomada na terça-feira, em reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Espera-se para amanhã a definição das salvaguardas para a importação mundial do aço que a União Européia deverá impor. "A decisão americana fez, na verdade, com que outros países tomassem medidas protecionistas. Alguns já haviam se antecipado e adotado medidas antes, frente o risco da decisão dos Estados Unidos", argumentou Lopes. Segundo ele, o México já elevou suas alíquotas de importação do produto e a UE está em vias de fazê-lo. Conforme estimativas do IBS, que serão apresentadas ao governo, o fechamento do mercado americano e de outros mercados internacionais, numa espécie de efeito dominó, deve gerar um desvio de fluxo de comércio de 16 milhões de toneladas de aço. O problema, segundo o representante do IBS, é que este fluxo vai buscar justamente os mercados onde encontra maior facilidade para entrar. Daí porque a defesa da elevação da alíquota de importação atual, que varia entre 12% e 16%, para 30%. "Neste quadro, achamos que a elevação de alíquota tem de ser feita em caráter imediato, de forma preventiva e temporária", afirmou. Quanto ao acesso ao mercado americano, o setor avalia que o País deve entrar "de qualquer maneira" na OMC para questionar a medida. Para Lopes, o governo tem a sensibilidade de quando seria o melhor momento para adotar a decisão. Os cálculos do instituto indicam que as perdas do País com as medidas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos poderão chegar a US$ 1 bilhão nos próximos três anos. O valor cresceria gradualmente ano a ano e chegaria a um prejuízo anual de US$ 390 milhões no terceiro ano, valor pouco abaixo dos US$ 410 milhões que o instituto havia projetado anteriormente. Este valor levava em conta as restrições impostas pelos americanos para a importação de placas de aço e um grupo de cinco produtos - laminados a quente, a frio, chapas grossas, galvanizadas e folhas para embalagem -, mas as salvaguardas para este último tipo foram suspensas. Europa A briga do governo brasileiro por causa das restrições americanas não deve se estender à Europa. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, tudo indica que as medidas de salvaguardas que serão anunciadas pelos europeus serão destinadas apenas aos produtores norte-americanos. "Em princípio, as medidas não dizem respeito ao Brasil. É o que eles (europeus) estão dizendo", afirma o ministro. Lafer, que hoje desembarcou de uma viagem ao Chile e ao México, disse que existe espaço para elevação das alíquotas. "A tarifa aplicada nesse caso é inferior à consolidada, o que significa que temos espaço legal para aumentar sem maiores problemas". No entanto, quem vai decidir o assunto é a Camex. "A reunião com o IBS vai ser uma preparatória para o encontro da Camex", disse Lafer. Segundo o ministro, ele espera que os representantes do setor tragam informações detalhadas sobre os riscos que a situação pode trazer para o setor. "A análise da cadeia de produção e do seu funcionamento quem tem a sensibilidade na ponta é o setor produtivo", argumenta. Cauteloso, o ministro diz que essa questão das restrições norte-americanas tem que ser analisada com muito cuidado para não ferir outros interesses brasileiros. "É preciso avaliar o nosso interesse que, com certeza, não está numa grande guerra comercial, porque isso afetaria nossas exportações em geral", afirma. "Não estou excluindo nenhuma hipótese, mas temos que ver o que é mais produtivo para o Brasil. Uma coisa é uma retaliação EUA-Europa, pelo tamanho dos mercados. Outra coisa é o impacto de uma economia menor. É preciso tomar cuidado para o tiro não sair pela culatra", completou. Lafer destacou ainda que os EUA representam 25% da pauta de exportação brasileira, e que essas vendas têm maior valor agregado do que as realizadas com a Europa. "Então é preciso olhar o conjunto dos nossos interesses para não expandir essa discussão para além do que deve ser. Não vamos recuar diante de qualquer tipo de análise mas as análises devem ser cuidadosas".