Publicidade

Idoso ajuda filho e engrossa lista de novos inadimplentes

De 2 milhões pessoas que ingressaram na lista de devedores em 12 meses até abril, 900 mil têm mais de 61 anos

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

Quase a metade dos dois milhões de brasileiros que engrossaram a lista de inadimplentes nos últimos 12 meses até abril é de idosos e essa foi a faixa etária que puxou a inadimplência no período. Enquanto o total de inadimplentes cresceu 3,2% entre abril de 2018 e abril deste ano, a fatia de devedores com mais de 61 anos de idade aumentou 10,5%. Havia 8,6 milhões de idosos inadimplentes em abril de 2018 e esse contingente subiu para 9,5 milhões em abril deste ano, segundo a Serasa Experian, empresa de informações financeiras.

PUBLICIDADE

“Os idosos representaram 45% do aumento do total de inadimplentes e são apenas 18% da população adulta”, afirma o economista da Serasa, Luiz Rabi. Um dos fatores que tem contribuído para o aumento do calote dos idosos é o avanço dos preços dos itens mais consumidos pelas pessoas da terceira idade. Em 12 meses até março, a inflação da terceira idade cresceu 5,37%, segundo a Fundação Getulio Vargas. É um resultado que supera o Índice de Preços ao Consumidor(IPC), calculado pela mesma instituição, que subiu 4,88% em igual período.

Outro fator é que os idosos também acabam sendo usados como fonte de renda para socorrer familiares que perderam o emprego, diz o economista. Assim, muitos, após atingirem o limite do crédito consignado da aposentadoria, vão ao mercado buscar outras linhas de financiamento. Eles acabam ficando sem condições de honrar os empréstimos com a aposentadoria que resta após os descontos.

No crédito consignado praticamente não existe inadimplência, só em caso de óbito. A prestação do financiamento, que pode comprometer cerca de 30% da renda, é descontada automaticamente da aposentadoria ou pensão. Só que, quando o idoso busca outras linhas além do consignado, sobram poucos recursos para ele gastar com despesas básicas. Resultado: ele acaba ficando inadimplente.

Esse é o caso do aposentado Nivaldito de Souza, de 62 anos, que já devia para um banco desde meados do ano passado e em janeiro deste ano acumulou pendências com outra instituição financeira. “Já estou sem margem no consignado porque peguei um crédito para reformar a casinha da praia. Não pego empréstimo só para mim, mas para os filhos quando precisam”, conta. Depois do desconto do consignado, sobra um pouco mais de R$1,2 mil. “Só com remédios gasto R$ 500 por mês, não dá pra viver”, reclama.

Depois do desconto do crédito consignado, sobra pouco da aposentadoria, diz Nivaldito de Souza, de 62 anos, que gasta R$ 500 por mês só com remédios Foto: JF DIORIO/ESTADÃO

A pensionista Solange Fernandes Alves da Costa, de 64 anos, é outra idosa que comprometeu o limite do consignado e fez empréstimos por fora para ajudar dois filhos desempregados. Ela ficou inadimplente novamente em março, depois de ter limpado o nome no ano passado. “Vou tentar renegociar a dívida de R$ 4 mil logo, porque é horrível ficar inadimplente.”

A pensionista Solange Costa, de 64 anos, comprometeu o limite do consignado e fez outros empréstimos para ajudar os filhos desempregados Foto: JF DIORIO/ESTADÃO

Luz. Contas de luz, água e gás, isto é, despesas básicas, puxaram a inadimplência do consumidor em abril deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as dívidas com bancos ficaram estáveis, aponta a Serasa. Dados do Banco Central que mostram que a inadimplência dos empréstimos no sistema financeiro vem desacelerando desde 2017. 

Publicidade

Rabi explica que geralmente os inadimplentes dão prioridade para quitar primeiro as pendências com o sistema financeiro para não ficar bloqueado no cartão de crédito e no cheque especial.

Dos dois milhões de brasileiros que engrossaram a lista de inadimplentes nos últimos 12 meses a maior parte foi pelo fato de ter atrasado o pagamento de contas de serviços de utilidade pública. “Não pagar essas contas de serviços é um claro sinal de gravidade, mas é contornável”, diz Rabi.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.