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Idosos faturam com Uber e Airbnb

Serviço de hospedagem teve alta de 110% no número de anfitriões acima de 60 anos

Por Laura Maia
Atualização:

A dificuldade de acompanhar os avanços da tecnologia não tem impedido que idosos, com 60, 70 anos, virem motoristas do Uber, anfitriões do Airbnb ou cuidadores de animais, oferecendo seus serviços em aplicativos de celular. A chamada economia do compartilhamento, além de ser um complemento de renda em tempos de crise econômica, é também uma forma de conhecer novas pessoas e se manter ativo.

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Dados levantados a pedido do Estado pelo Airbnb, plataforma que conecta usuários de mais de 190 países para aluguel de quartos e apartamentos por temporada, mostram que o número de anfitriões com mais de 60 anos no Brasil mais que dobrou entre maio de 2015 e maio de 2016. É o maior salto porcentual (110,6%) de crescimento entre as faixas etárias que oferecem o serviço do site. Hoje, das 70 mil acomodações cadastradas no País, 8 mil são de anfitriões com mais de 60 anos.

Aos 75 anos, dona Vera Lúcia, moradora de Copacabana é uma delas. Mora sozinha e aluga dois dos três quartos do apartamento da família na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Cobra, em média, R$100 a diária por quarto. O dinheiro complementa a pensão que recebe desde a morte do marido, ajudando a pagar o plano de saúde e o condomínio.

Basta conversar cinco minutos com ela para perceber que a atividade traz outros benefícios além da renda. “Pera aí só um minuto que as meninas peruanas tão saindo”, interrompe a entrevista feita por telefone na noite da última quinta-feira. Do outro lado da linha é possível ouvir instruções, em um português bem pausado e articulado, de como pegar um táxi para ir à Lapa, bairro boêmio da capital carioca. “Eu fico preocupada com meus hóspedes, parece que são meus filhos”, justifica, ao voltar ao telefone.

O diretor-geral do Airbnb do Brasil, Leonardo Tristão, observa que mais de 50% dos anfitriões com mais de 60 anos são avaliados com nota máxima pelos hóspedes. “Costumam ser ainda mais receptivos e atenciosos do que a média – já alta – dos brasileiros.”

Para a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano, especialista em demografia, a tecnologia proporcionada por essas plataformas, apenas fomentou ainda mais atividades que já eram procuradas pelos idosos. “O movimento de aposentados que voltam ao mercado de trabalho por meio da prestação de serviços sempre existiu”, afirma. “Mas essas plataformas potencializaram atividades como a do aluguel de quartos e incentivaram outras que eram impossíveis sem aplicativos como o Uber, por exemplo.”

No carro. O aplicativo, que permite pedir carros com motoristas, não revela quantos de seus 10 mil parceiros têm mais de 60 anos. Mas não é raro ver senhores dessa idade rodando como motoristas do Uber por aí. É o caso de José Rodrigues Peres, de 68 anos. Aposentado há mais de dez anos, ele trabalhou até 2015 como técnico de supervisão de montagens de equipamentos em usinas hidrelétricas, mas, quando o contrato acabou, não conseguiu mais nada na área. “Hoje, consigo tirar uns R$ 1,2 mil por semana com o Uber. Apesar dos custos do carro serem bastante altos, é o que tem me ajudado a complementar a aposentadoria”, conta.

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O pesquisador de Mercado de Trabalho do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) Bruno Ottoni acredita que, diante do envelhecimento da população e da necessidade de reformas da Previdência, daqui para a frente, haverá uma tendência cada vez maior de que os idosos busquem essa complementação de renda. “Fatalmente os idosos vão acabar sofrendo algumas perdas com as reformas que terão de ser realizadas. Do jeito que está desenhado, o sistema brasileiro está insustentável.”

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