A inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) atingiu 1,29% em setembro e apresentou a maior variação mensal desde julho de 2004, quando a alta havia sido de 1,31%. Apesar de os preços de alguns alimentos, como carne e leite, já estarem em desaceleração, a comida no atacado continuou sendo a vilã da inflação. Cerca de dois terços da variação do IGP-M deste mês vieram da alta dos preços agrícolas no atacado. Com variação acumulada em 12 meses até setembro de 5,67%, a perspectiva é de que o IGP-M feche o ano em 5%, e não mais em 4%, diz o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. ''''O pior efeito do choque agrícola já passou'''', afirma Quadros, reafirmando que a inflação atual é essencialmente de alimentos. Ele reforça a argumentação com números. O grupo bovinos no atacado, por exemplo, apresentou deflação de 0,13%, depois de ter aumentado 6,26% em agosto. O leite in natura no atacado subiu neste mês 6,62% ante uma alta de 10,62% em agosto. Em ambos os casos, o economista argumenta que os repasses do atacado para o varejo já ocorreram e não há uma defasagem de preços que possa pressionar a inflação no futuro. Esse raciocínio, no entanto, não é válido para o trigo e o arroz, observa Quadros. O trigo no atacado subiu 14,33% este mês, enquanto o pão francês ao consumidor teve deflação de 0,09%. O arroz no atacado subiu 8,75% este mês e 3,37% ao consumidor. ''''Esses dois produtos têm riscos de repasse de preços para o varejo'''', pondera o economista. Ele diz que os alimentos de origem animal, como carne e leite, estão em franca desaceleração, enquanto os de origem vegetal têm preços ascendentes. Esse é o caso da soja, que subiu 11,89% no atacado este mês, seguida pelo milho (17,17%). Os preços no atacado, que respondem por 60% do IGP-M, subiram 1,83% em setembro, ante 1,31% em agosto. Os produtos agrícolas aumentaram 5,57% este mês depois de terem subido 4% em agosto. Os produtos industriais no atacado tiveram elevação de 0,59%, ante 0,44% em agosto. A inflação no varejo, que responde por 30% do IGP-M, desacelerou. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,21% ante 0,39% no mês passado. O Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que representa 10% do indicador, teve ligeira alta, passando de 0,35% em agosto para 0,39% este mês. Para Quadros, os resultados não revelam um descontrole da inflação. Ele observa também que o fato de o resultado do IGP-M de setembro ser o maior desde julho de 2004 não é algo preocupante. O economista lembra que, naquele ano, as pressões de preços estavam disseminadas por todo o índice, o que não ocorre hoje. Atualmente, as pressões estão concentradas nos alimentos. Já para a LCA Consultores, o IGP-M de setembro ficou acima das projeções, puxada pela alta dos preços agrícolas no atacado. De acordo com a consultoria, a desaceleração observada nos alimentos no atacado ainda é incipiente. SERVIÇOS De acordo com Quadros, nos resultados do IGP-M deste mês não há pressões de preços nos serviços livres, que seriam uma espécie de termômetro do desempenho da demanda. Tanto é que o grupo ''''despesas com saúde e cuidados pessoais'''', que engloba boa parte desses serviços, teve alta de apenas 0,16% no IPC deste mês, depois de ter subido 0,40% em agosto. Esse movimento também se repetiu nos gastos com educação, leitura e recreação, que aumentaram 0,28% este mês ante 0,31% em agosto. Quadros observa que os preços dos serviços administrados - como energia elétrica, que no ano apresentam deflação de 3,22%, e de outras tarifas -, com pequenas elevações neste ano, não devem ter o mesmo comportamento em 2008. ''''Os preços administrados podem voltar a ser os vilões da inflação no ano que vem'''', diz o economista. Ele explica que, como o IGP-M deve fechar este ano com variação em torno de 5% e o indicador é usado para reajustar uma série de tarifas, ele deve pressionar a inflação de 2008. Quadros também destaca que, em 2008, deverá ocorrer uma inversão, com os preços dos alimentos apresentando variações inferiores aos preços dos serviços administrados.