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IGP-M: inflação do aluguel pode ficar acima de dois dígitos pelo segundo ano seguido

Risco cresce com a desvalorização do real e a expectativa de demanda firme de commodities em meio à recuperação da economia global; indicador chegou a 28,94% no acumulado de 12 meses até fevereiro

Foto do author Thaís Barcellos
Por Thaís Barcellos (Broadcast) e Gregory Prudenciano
Atualização:

Com a desvalorização do real e a expectativa de demanda firme de commodities em meio à recuperação da economia global, tem crescido o risco de o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de 2021 tornar-se o segundo consecutivo acima dos dois dígitos, segundo economistas. O IGP-M também é conhecido como “inflação do aluguel”, por ser muito usado no reajuste de contratos. Em 2020, o indicador subiu 23,14%, o maior aumento desde 2002 (25,31%). Até fevereiro, o índice soma 28,94% em 12 meses.

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Essa nova avalanche de custos deve chegar ao varejo e está por trás das contínuas revisões para a inflação oficial do ano, que, no Boletim Focus, do Banco Central, já está em 3,87% (acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 3,75%). No Focus, o IGP-M (que mede principalmente o desempenho dos preços no atacado) sobe há oito semanas seguidas, passando, no relatório divulgado na segunda-feira, 1, de 8,02% para 8,88%. Há um mês, estava em 6,57%. Contribuem para esse movimento o câmbio mais depreciado, agora rodando próximo de R$ 5,70, e a sustentação dos preços de commodities, como o petróleo, que já subiu quase 30% no ano.

A moeda reage às incertezas fiscais e políticas no Brasil, além de, mais recentemente, a um receio de uma possível ação antecipada de redução de estímulos monetários nos Estados Unidos. Já as commodities, de maneira geral, têm ganhos com a perspectiva de recuperação global mais forte, seja pelo avanço da vacinação, seja pela manutenção de estímulos fiscais no mundo.

“De fato, nesse começo de ano surpreendeu a todos a retomada das altas das commodities e do câmbio, levando a resultados dos IGPs acima das previsões iniciais e a rodadas de revisões para cima das projeções do ano. Há, sim, risco de termos novamente o IGP-M em dois dígitos. Nossa projeção para o ano já está em torno de 9,5%”, reconhece a economista Basiliki Litvac, especialista em inflação da MCM Consultores.

Plataforma da Petrobrás no Rio: petróleosubiu quase 30% no ano. Foto: Wilton Junior/Estadão - 28/1/2020

Na GO Associados, o economista Alexandre Lohmann, um dos primeiros a alertar sobre a escalada de preços no atacado em 2020, já projeta 15% de alta para o IGP-M este ano, mas avisa que esse é um cenário conservador e que há risco de a taxa chegar de novo ao patamar de 20%. Ele explica que a projeção atual considera um valor mensal de longo prazo para o IGP-M no segundo semestre, de 0,50%, mas alerta que taxas nesse nível não são vistas desde maio de 2020 (0,28%). “Então, tem muita margem para ser mais que 15%.”

Mesmo em um contexto de apreciação do real ao longo do ano, Lohmann observa que tem de ser superior ao ganho nos preços internacionais de commodities. E, ainda que a valorização da moeda compense o movimento nos preços dos produtos básicos, o economista argumenta que o aumento contratado em matérias-primas brutas no início do ano deve continuar tendo repercussão ao longo da cadeia.

Sobre o cenário de commodities, Lohmann diz achar muito provável que o petróleo siga em alta, diante da recuperação global e da baixa produção. O milho tem estoque baixo nos EUA e pode enfrentar problemas climáticos, assim como a soja. O preço do minério de ferro deve ceder, mas depende de uma sinalização mais firme de desaceleração da economia chinesa.

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O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, está na ponta mais otimista. Ele reconhece que a pressão de câmbio e commodities, especialmente de combustíveis neste momento, está maior do que a esperada, e por isso revisou recentemente a projeção para o IGP-M do ano de 6,0% para 7,20%. Mas acha cedo para falar em alta de dois dígitos. O seu cenário considera que o indicador deve ficar acima de 10% até outubro (11,1%).

Em sua visão, a projeção já é conservadora porque considera que, após ficarem quase 50% (49,45%) mais caros no ano passado, os produtos agropecuários só devem cair 3,39% em 2021, algo inédito.

“Normalmente, a devolução não é total, mas é evidente. Isso praticamente não vai acontecer, sobretudo pela demanda firme global ligada à superação, ainda que gradual, da pandemia, e apesar da recorde de grãos e de uma leve apreciação do câmbio que a LCA projeta (R$ 4,80 no fim de 2021).”

A devolução “modesta”, por sua vez, deve começar a se materializar no segundo trimestre, com a confirmação da safra recorde em culturas importantes, diz o economista. Para os itens industriais, a perspectiva é de nova alta, de 12,42%, na esteira do aumento de 25,3% do ano passado, mas amenizada pela esperada apreciação cambial.

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