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IGP-M mostra deflação, mas há novas pressões

Persistem focos de alta nos serviços e na construção, apesar de as commodities levarem o índice a -0,32%

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara e Francisco C. de Assis
Atualização:

A queda das commodities, especialmente as agrícolas, derrubou a inflação medida pelo Índice Geral de Preço-Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) deste mês. O indicador fechou agosto com deflação de 0,32%, depois de ter subido 1,76% em julho e atingido o pico de 1,98% em junho. Desde abril de 1999, o IGP-M não registrava desaceleração tão forte em um único mês. De julho para agosto, o índice variou 2,08 pontos porcentuais. Também desde abril de 2006 o IGP-M não acusava deflação. Apesar da mudança de rota do IGP-M, o cenário para a inflação nos próximos meses não será tão tranqüilo. "A inflação está mudando de cara", alerta o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. Fatores externos, como alta das commodities, perdem força de pressão na inflação e ficarão mais evidentes os motivos domésticos, como a alta dos preços dos serviços livres e administrados e o repasse na cadeia produtiva de elevações de outros custos, advindos da alta, no passado, das commodities, como no caso dos itens da siderurgia, usados na construção civil. "Está mais fácil cumprir a meta de inflação, mas não dá para vacilar", pondera o coordenador da FGV, fazendo referência à política de juros altos adotada pelo Banco Central (BC) a partir de abril para conter os repasses de custos para os preços ao consumidor. Segundo ele, para os próximos meses o cenário para elevação dos preços dos serviços é favorável em razão do aumento da renda dos trabalhadores, além da própria indexação de várias tarifas que são reajustadas levando em conta a inflação passada medida pelos IGPs. Quadros acha improvável que o IGP-M tenha novas deflações. Em 12 meses até agosto, o IGP-M acumula alta de 15,12% O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Antonio Evaldo Comune, faz análise semelhante à de Quadros. "A inflação bateu no seu limite de queda e a tendência daqui para frente é que ela volte a subir." Segundo Comune, a média mensal do IPC da Fipe até dezembro deverá oscilar entre 0,40% e 0,50% e fechar o ano dentro da expectativa de 6,50%. Na terceira prévia deste mês, o IPC da Fipe ficou praticamente estável. Subiu 0,35%, ante 0,34% na quadrissemana anterior. O resultado da terceira quadrissemana de agosto interrompeu uma seqüência de nove quadrissemanas consecutivas de desaceleração. A mudança de trajetória da inflação ao consumidor na capital paulista foi provocada especialmente pela tarifa de energia elétrica, que subiu 2,91% ante uma deflação de 0,12% na quadrissemana anterior. CONSTRUÇÃO Todos os indicadores que compõem o IGP-M perderam força de julho para agosto. A maior desaceleração ocorreu no Índice de Preços por Atacado (IPA), que tinha registrado alta de 2,20% em julho e teve variação negativa de 0,74% neste mês. Segundo Quadros, 80% da queda de 2,94 pontos porcentuais de uma mês para outro ocorreu em razão do recuo das commodities agropecuárias. O destaque foi para a soja que pesa cerca de 5% no índice. "A soja está presente em três dos cinco itens que tiveram maior variação negativa no IPA", observa o coordenador. Em agosto, a soja em grão no atacado caiu 13,32%, o farelo de soja, 11,75% e o óleo de soja em bruto, 13,38%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) fechou agosto com alta de 0,23%, depois de ter aumentado 0,65% em julho, com deflação em dois grupos de preços: alimentos (-0,46%) e artigos de vestuário (-0,16%). A menor desaceleração de julho para agosto ocorreu no Índice Nacional da Construção Civil (INCC), de 1,42% para 1,27%, respectivamente. Apesar da perda de fôlego dos reajustes da mão-de-obra, os preços dos materiais de construção estão pressionados e subiram 2,51% este mês, depois de terem aumentado 1,65% julho. Nenhum item do INCC teve variação negativa este mês. Esse é um foco de inflação doméstica ao lado dos serviços, alerta Quadros.

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