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Imigrante sofre mais com desemprego

Em países como Espanha e Irlanda, desocupação é 50% maior entre estrangeiros do que na média nacional

Por Andrei Netto , Jamil Chade , PARIS e GENEBRA
Atualização:

Dentre os desamparados pela turbulência econômica, imigrantes em situação ilegal estão na linha de frente, afirmam instituições públicas e ativistas dos direitos humanos da União Europeia. O efeito mais visível da crise e do preconceito é o desemprego, que entre estrangeiros é 50% superior à média nacional em países como a Espanha. No Reino Unido, desde a falência do banco americano Lehman Brothers, a chegada de imigrantes caiu 50%. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), até 5 milhões de pessoas poderão perder seus postos de trabalho na Europa em 2009. Destes, estrangeiros são os primeiros afetados, ao lado de jovens e idosos, afirmam especialistas. "Os primeiros a serem demitidos estão sendo os imigrantes irregulares", atesta José Salazar, economista da OIT. Jean-Christophe Dumont, economista da Direção de Trabalho da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), reforça a constatação. Embora as estatísticas sobre o nível de desemprego de estrangeiros no segundo semestre de 2008 - quando a crise se intensificou - ainda não sejam conhecidas em toda a Europa, os primeiros números confirmam a tendência. O desemprego se concentra mais entre estrangeiros com vistos temporários de trabalho. Esses trabalhadores obtinham vagas em mercados mais sensíveis - como a construção civil -, têm menos qualificação, contratos mais precários e menos tempo de serviço. O coquetel de fragilidades, somado à hostilidade crescente da opinião pública, leva ao desemprego, diz Dumont. A falta de oportunidades é um drama conhecido dos brasileiros na Irlanda. Antes eldorados para trabalhadores com baixa qualificação, agora as empresas fecham suas portas. Leandro Dutra, 28 anos, originário do Distrito Federal, sofre as consequências na cidade de Gort. Depois de fugir de um emprego em que passou cinco dos últimos oito meses sem salário, ele agora vive de bicos. "Quando cheguei, em março de 2007, o país passava por um desenvolvimento estrondoso, com muito emprego. Depois da crise, em novembro e dezembro, 70% dos brasileiros, poloneses e lituanos perderam o emprego em semanas", disse ao Estado. "Muitos foram embora. Eu já pensei muito em ir, mas tenho impressão que as oportunidades começaram a voltar em fevereiro. Vou continuar tentando." Suzana da Costa fez a opção inversa. Depois de três meses sem trabalho na Irlanda, decidiu retornar a Anápolis há duas semanas. "Eu não tinha mais o que fazer por lá e tudo o que eu tinha poupado acabou." Segundo ela, os empregos ainda oferecidos eram literalmente disputados a tapas. Pior, os empregadores sabiam da concorrência e reduziam os salários. John Goiano, irlandês que viveu em Goiás nos anos 60 e hoje coordena a ONG Centro de Apoio Brasil-Irlanda, constatou o refluxo. "Todos estão voltando porque não há mais empregos", diz, em português fluente. Gort, município no qual se concentravam brasileiros vindos do Distrito Federal, está deserto. "Os que vieram nos anos 2000 para trabalhar em frigoríficos ou em casas de família estão voltando. Só em janeiro foram embora mais de 300." O refluxo ocorre porque em países como a Irlanda e a Espanha o desemprego entre estrangeiros é mais de 50% maior do que a média nacional. Nas principais cidades espanholas, o desemprego entre imigrantes - marroquinos e latino-americanos em especial - chega a 17%, ante 10,5% entre espanhóis. A situação obrigou o governo a tomar medidas drásticas contra a imigração ilegal. Ao mesmo tempo em que estimula o retorno voluntário, o primeiro-ministro José Luis Zapatero já reduziu as cotas para concessão de vistos em 2009 e vem apertando o cerco policial.

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