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Inadimplência não justifica o spread bancário. dizem economistas

Por Agencia Estado
Atualização:

Os economistas Nélson Barrizzelli, da USP, e José Castanhar, da FGV-Rio, disseram ser "uma desculpa esfarrapada" a alegação dos bancos de que o risco de inadimplência é o responsável pelas altas taxas de juros que vêm cobrando de seus clientes. Entrevistados no programa ?Conta Corrente?, da Globo News, ambos também concordaram em que a taxa de juros básica (a Selic) já deveria ter caído e que, em sua próxima reunião, dia 17 de junho, o Copom deveria reduzi-la em pelo menos três pontos percentuais. Desvio de função Segundo Barrizzelli, a questão do spread (a diferença entre o que o banco paga e o que cobra em seus empréstimos) serviu para desviar a atenção do principal problema do momento, que é a taxa Selic. Para ele, o spread é extremamente elevado no mercado porque os bancos podem ter uma atuação seletiva. "Hoje, os bancos operam com tesouraria e ganham alguns milhões, chega até a casa de bilhões num ano, justamente jogando com os títulos do governo." O resultado, na conclusão do professor da USP, é que sobra muito pouco para ser colocado no mercado, seja para o consumo ou para a produção. "Com isso, eles (os bancos) se dão ao luxo de emprestar este dinheiro dentro dos spreads que eles acham razoáveis". Argumento indevido Barrizzelli considera indevido o argumento de que a inadimplência é a responsável pelos altos spreads bancários. "E a gente fica com aquele célebre dilema: há inadimplência por que os juros são altos, ou os juros são altos por que há inadimplência?" Para ele, os bancos não podem recorrer a esse tipo de argumento, porque o seu negócio efetivo é fornecer crédito. "Se ele não sabe dar crédito, e portanto tem inadimplência, deveria parar o seu negócio. Essa é uma mera desculpa. O que existe de fato é que a taxa Selic está fora do que devia. Isso permite que eles operem muito em termos de tesouraria, e ganhem alguns milhões de reais sem fazer nenhum esforço e sem correr nenhum risco." Os dados do BC O economista José Castanhari concordou integralmente com seu colega da USP, acrescentando que o argumento da inadimplência "é uma falácia, para usar uma expressão mais cordial", até porque isso não é confirmado pelo Banco Central. Ele lembrou que, no caso dos empréstimos às pessoas jurídicas, os atrasos de mais de 30 dias são pouco mais de 2,5%. "Não só concordo com Barrizzelli de que (a inadimplência) é uma desculpa esfarrapada, mesmo porque é o papel do banco fazer empréstimo, mas também porque não é confirmado pela evidência (dos dados do Banco Central)."

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