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'Incentivaram o consumo, não as empresas'

Avaliação do IBGE sobre os efeitos das medidas após a crise de 2008 é de que o setor privado não foi estimulado a investir

Por Daniela Amorim (Broadcast) e RIO
Atualização:

A rodada de incentivos do governo à atividade econômica após a crise de 2008 levou a uma recuperação do emprego e da produção industrial no momento seguinte, mas não impulsionou a criação de negócios. Em 2010, o País recuperou parte das indústrias extintas no pior momento da crise, em 2009, mas não conseguiu voltar ao nível pré-crise, segundo a Pesquisa Industrial Anual 2010, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No universo da indústria extrativa e de transformação, o número de empresas aumentou 0,22% na passagem de 2009 para 2010, de 299.082 para 299.753 empresas. No entanto, o montante ainda ficou 3,02% menor que a quantidade registrada em 2008, quando o País possuía 309.089 empresas industriais. "A decisão de novos investimentos e de abertura de empresas depende de outras variáveis que não só os incentivos, por exemplo, de desoneração tributária que o governo fez, com redução de IPI e Cofins", avaliou Rodrigo Lobo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE. "Isso incentivou muito mais o consumo do que a abertura de empresas", As medidas tomadas à época remetem às novas tentativas do governo de impulsionar a atividade econômica brasileira em meio a um ambiente de crise na Europa. Após a desaceleração na economia iniciada em 2008, que culminou em um recuo de 0,3% no PIB do País em 2009, a equipe econômica tomou algumas ações direcionadas ao setor industrial, como redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) nas atividades de eletrodomésticos, veículos automotores, produtos da construção civil, móveis e bens de capital. A incidência do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF) foi reduzida nos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre outras medidas para incentivar a aquisição de bens de capital e reduzir o custo do investimento. Segundo o IBGE, mesmo com tantos estímulos ao investimento e à produção interna, a indústria não foi capaz de crescer no mesmo ritmo da demanda interna. "A velocidade de crescimento da demanda interna, motivada pelo aumento da renda, do emprego e das condições do crédito, foi muito maior do que a capacidade das empresas de se estruturar para atender a essa demanda crescente. Isso fez com que o volume de importações em 2010 fosse bastante significativo, tanto de bens de capital quanto de consumo", explicou Lobo. A pesquisa toma como exemplo o setor automotivo, cuja balança comercial passou de um superávit de US$ 5,1 bilhões em 2007 para um déficit de 6,9 bilhões em 2010, apesar de todos os incentivos.A nova rodada de incentivos, semelhante à adotada na ocasião anterior, pode surtir efeito na produção no segundo semestre, mas não deve impactar com força os investimentos no setor, mais uma vez. Na avaliação da economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), o governo tem boas intenções, mas a adoção sucessiva de medidas de curto prazo pode até postergar a decisão dos empresários da indústria de fazer investimentos. "O governo quer ajudar a economia, mas também pode gerar uma postergação. Essa política de medidas de curto prazo, com ações que duram dois ou três meses e depois voltam ao que era antes, dificulta até a decisão de investimentos. Essas questões mudam a todo momento, então o empresário espera para ver qual será a próxima medida", alertou Silvia, que defende um movimento de mais longo prazo, menos transitório.

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