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Incertezas eleitorais pressionam o dólar e moeda pode cair nos próximos meses

Porém, especialistas dizem que, com economia fraca, divisas de emergentes como o real devem se beneficiar pouco com o movimento de desvalorização

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

A menos de 100 dias para as eleições americanas, com os partidos republicano e democrata realizando suas convenções nacionais em agosto, estrategistas em Wall Street acreditam que a crescente incerteza eleitoral pode ser mais um fator para ajudar a enfraquecer o dólar no mercado internacional. 

Mas se a moeda americana pode testar novas mínimas nos próximos meses, os analistas veem com mais cautela as divisas emergentes, que tendem a se beneficiar menos desse movimento, por conta do fraco crescimento econômico previsto para a região e forte piora fiscal, tendo o Brasil como um dos líderes em aumento de gasto público. No caso do real, os bancos e consultorias seguem projetando a divisa americana acima de R$ 5,00 pelo menos até meados de 2021.

Donald Trump disputa reeleição em meio à pandemia de covid-19 Foto: Nicholas Kamm/AFP

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Os estrategistas em Nova York do Citigroup acreditam que o mercado deve começar a monitorar mais de perto a eleição nos Estados Unidos a partir de agosto e setembro. Até agora, os ativos pouco tem refletido a disputa eleitoral, até porque a pandemia do coronavírus não dá sinais de trégua nos EUA e em outras partes.

Para o Citi, a eleição “pode ser negativa para o dólar, mas não tende a ser positiva para as moedas de emergentes”. Uma das razões é o forte crescimento da dívida pública dessas economias por conta da pandemia, das quais o Brasil lidera a expansão de gastos públicos, só perdendo para EUA e Japão. Por isso, casas como Rabobank, JPMorgan, Credit Suisse, Commerzbank e Bank of America não veem o dólar abaixo de R$ 5,00 este ano. “A situação fiscal do Brasil, que já era precária, vai ficar ainda mais vulnerável. As reformas fiscais se tornaram mais importantes e urgentes”, disse o economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, em live do Estadão.

A analista de moedas do Commerzbank, Alexandra Bechtel, acredita que o real tende a se beneficiar apenas temporariamente da fraqueza do dólar. A razão é que os fundamentos da economia não mudaram e os riscos persistem, sobretudo pelo lado do coronavírus e das contas fiscais.

Nos EUA, historicamente, o dólar costuma se fortalecer em anos de eleição americana, mas em 2016 a moeda se enfraqueceu e este ano pode acontecer o mesmo, disse o estrategista de moeda do Macquarie Group, Gareth Berry, em entrevista recente à rede de televisão americana CNBC. Para ele, divisas como o iene e o euro tendem a ser os “portos seguros” preferidos dos investidores nos próximos meses. “Estamos bastante pessimistas com o dólar. Vemos escopo para um amplo enfraquecimento durante a eleição presidencial.” O índice DXY, que mede o comportamento da moeda americana ante divisas fortes, estava ontem no menor nível desde 2018. Ante o franco suíço, o dólar é negociado no menor patamar em cinco anos.

Especuladores

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Um indício da tendência do dólar fraco é a movimentação de especuladores na Bolsa de Futuros de Chicago, a CME. Nas últimas semanas, esses agentes têm ficado crescentemente “comprados” em euro, ou seja, acreditando na valorização da moeda europeia, que na semana passada atingiu as máximas em 21 semanas ante o dólar. Com a divisa dos EUA, as apostas passaram recentemente a ficar “vendidas”, quando o investidor ganha com a queda da moeda. “As eleições nos EUA sugerem alguns riscos negativos para o dólar”, observam os estrategistas de moedas do Bank of America.

A liquidez sem precedentes no mercado financeiro internacional tem contribuído para esse movimento de fraqueza do dólar, mas a incerteza eleitoral pode ajudar a enfraquecer ainda mais a divisa, sobretudo em um momento em que a recuperação da atividade americana tem dado mostras de estar patinando, enquanto a europeia ganha impulso e a região aprovou um fundo de recuperação bilionário. A economista do banco Wells Fargo, Sarah House, destaca que o aumento dos pedidos de auxílio-desemprego na semana passada para além do previsto foi um dos sinais mais claros de que a recuperação dos EUA está estagnando.

O grupo financeiro holandês ING projeta queda de 7% para o dólar em 2020, influenciado pela liquidez elevada na economia mundial.

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