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Incertezas sobre o dólar reforçam riscos de investimentos

A entrada de dólares no País deve manter as cotações da moeda norte-americana em queda. As oscilações são esperadas no curto prazo. Analistas destacam que, até o final do ano, o dólar pode voltar a subir e qualquer perspectiva para o longo prazo depende do encaminhamento das reformas.

Por Agencia Estado
Atualização:

A valorização do real frente ao dólar vem atraindo investidores para fundos cambiais. De acordo com dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), estas carteiras captaram R$ 908,15 milhões em abril, perdendo apenas para a captação dos fundos de renda fixa prefixada, com R$ 1.263,87 milhões, e para a dos fundos multimercado com renda variável, que captaram R$ 979,21 milhões. Analistas alertam para os riscos do investimento e destacam que as aplicações com rendimento vinculado às taxas de juros podem apresentar uma rentabilidade mais elevada e com um risco menor. O economista-chefe da ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, avalia que as perspectivas para a trajetória do dólar são duvidosas, pois dependem de muitas variáveis. Portanto, segundo ele, destinar recursos para os fundos cambiais neste momento é assumir um risco muito elevado. ?Há duas forças contrárias que devem atuar sobre as cotações da moeda norte-americana. Por um lado, a forte entrada de recursos no mercado favorece a desvalorização do dólar frente ao real. Em oposição a isso, o real precisa estar em um patamar que favoreça as exportações brasileiras?, afirma. Penteado destaca que, nessa guerra de forças, o encaminhamento das reformas será determinante. Ele afirma que o País precisa estabilizar a dívida pública para que apresente um superávit primário ? receitas menos despesas, sem levar em conta o pagamento de juros ? de longo prazo. ?Isso depende essencialmente da reforma da previdência?, informa. Ontem, a moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 2,9140 na ponta de venda dos negócios. Hoje, no patamar mínimo do dia chegou a R$ 2,8570. Para o economista-chefe da ABN Amro Asset Management, uma cotação favorável para a competitividade dos produtos brasileiros, sem que haja uma pressão sobre a inflação, está entre R$ 3,40 e R$ 3,50. Curto prazo No curto prazo, segundo ele, a tendência para o comportamento do dólar continua sendo determinado pelo fluxo de capitais financeiros para o País. ?Trata-se de um dinheiro volátil, rápido e que acaba influenciando muito o comportamento da moeda norte-americana no mercado interno. São estes recursos que deixarão o dólar abaixo de R$ 3,00, pelo menos no curto prazo. Porém, uma cotação que se sustente por um período maior vai depender do andamento das reformas?. Ele explica que esses recursos de curto prazo vêm para o Brasil com o objetivo de alcançar uma rentabilidade superior à do mercado externo. ?A novidade agora é que esse fluxo positivo está acontecendo em um momento tranqüilo no Brasil. O processo de transição presidencial foi muito bom e o Brasil eliminou um grande risco que existia, o de ter a oposição no poder?, afirma. O economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, concorda que a perspectiva para o dólar no curto prazo é de queda das cotações, mas também ressalta que este movimento tem por base a entrada de recursos voláteis e que podem mudar de direção a qualquer momento, provocando oscilação das cotações. Isso significa que os investidores que têm recursos em fundos cambiais ou pretendem alocar dinheiro nestas carteiras devem estar preparados para períodos de forte oscilação. Perspectivas para o final do ano Diante das incertezas em relação ao encaminhamento das reformas, Penteado traça dois cenários. Em um deles, com a redução do volume de dólares para o País, em função de uma possível lentidão no andamento das reformas, a cotação da moeda norte-americana chegaria a R$ 3,50. Em um cenário oposto, o patamar mais provável, segundo ele, seria R$ 3,20. ?Não há grandes chances de que a moeda norte-americana fique abaixo disso, pois não há interesse em comprometer a competitividade dos produtos brasileiros?, afirma. Com a possibilidade da estabilização das cotações do dólar em um patamar mais elevado, investidores com tolerância ao risco tendem a direcionar recursos para fundos cambiais e para a compra de dólares. ?É preciso estar atento aos riscos de oscilação da moeda norte-americana e possíveis resultados negativos nessas carteiras em algum momento. Com taxas elevadas na renda fixa, o investidor tem uma opção mais atraente e com um risco muito menor?, informa Penteado. Segundo ele, o fundo cambial pode render em média, no acumulado de um ano, a variação do dólar mais uma taxa de 7%. ?Para que isso dê mais do que o desempenho dos juros, é necessário que o dólar chegue a R$ 3,50 em 6 de maio de 2004. O investidor vai ter que contar com a sorte para conseguir um ganho maior no mercado cambial?, afirma. Kawall tem a mesma opinião. Segundo ele, o melhor momento para entrar neste mercado já passou. Isso porque, quando as cotações da moeda norte-americana voltarem a subir, caso esta expectativa se confirme, o espaço para ganho é menor do que pode se obter na renda fixa. A expectativa do economista-chefe do Citibank para o final do ano é de que o dólar chegue a R$ 3,50. Penteado ressalta que esta orientação é diferente para investidores que buscam os fundos cambiais ou a compra direta de dólares como forma de proteger seus ativos. ?O interesse por este mercado, mesmo com todas as incertezas, é justificado para aqueles que têm dívidas em dólares ou pretendem viajar ao exterior?, destaca o economista-chefe.

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