Essa, diga-se logo, não é mais uma jabuticaba. Bancos Centrais ao redor do mundo são especialistas em apontar para um lado e atirar para o outro em sua comunicação com o público. Na quarta-feira, por exemplo, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o Copom do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) também publicou a ata de sua última reunião e sinalizou, mesmo com dados da inflação e do emprego apontando na direção da manutenção da taxa de referência próxima de zero por mais tempo, o início da retomada da alta de juros para dezembro.
No caso brasileiro, a ata mostrou clara preocupação com as hesitações e dificuldades do governo em promover cortes de despesas e aumentos de receitas, em quadro de grave crise política e boicote do Congresso às iniciativas de ajuste. Não poderia haver menção mais explícita em relação ao tópico do que a contida no parágrafo 24 da ata, na qual o Copom considera que “indefinições e alterações” nas projeções de superávits primários trazem incertezas para as estimativas de inflação e “contribuem para criar percepção negativa sobre o ambiente macroeconômico”.
Nem por isso o Copom indicou a possibilidade de uma alta dos juros em prazo mais curto. No máximo, cumpriu tabela e tentou driblar a hipótese de que tenha aderido ao diagnóstico da existência de um estado de dominância fiscal na economia ao registrar que se “mantém vigilante”. Traduzida do “coponês”, a expressão expressa crença no regime de metas e na convergência da inflação para seu centro, ainda que não mais em fins de 2016, mas no horizonte relevante – ou seja meados de 2017.