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Índia, Brasil e OMC falam em retomar Doha

Lula, o premiê indiano e o diretor da OMC já concordaram em voltar a negociar em setembro Os problemas que levaram ao fracasso de Doha

Por Denise Chrispim Marin e BRASÍLIA
Atualização:

Brasil e Índia deverão buscar o consenso sobre o tópico que levou a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) ao colapso: a margem de proteção de produtos agrícolas sensíveis dos países em desenvolvimento que dependem da importação de alimentos. Em conversa por telefone, o presidente Lula disse ao primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, que o Brasil quer ajudar a encontrar uma solução para a questão e está "disposto a jogar tudo o que puder" para a retomada da rodada em setembro. Vencedores e perdedores após colapso de Doha Líderes do G-20 - grupo de países em desenvolvimento que negocia os temas agrícolas na rodada -, Brasil e Índia divergiram sobre o pré-acordo fechado quatro dias antes do fracasso da negociação. O Brasil apoiou seus termos. A Índia rejeitou por entender que o acordo não trazia suficiente margem de proteção para a agricultura familiar. Com isso, abriram um fosso entre os dois subgrupos que coexistem no G-20 - os exportadores agrícolas e os importadores líquidos de alimentos. Singh deu a Lula um sinal de que pretende reatar o G-20 e fazer com que essa frente chegue a um consenso sobre esse tema. Dado seu alto teor de conflito, essa discussão interna foi sempre evitada pelos líderes do G-20. Na conversa, Singh disse que a Índia quer trabalhar com o Brasil pela retomada das negociações. Lula reforçou que entende as preocupações da Índia com seus produtos sensíveis e chegou a dizer que o Brasil também quer proteger a sua agricultura familiar. Mas, atento às resistências dos Estados Unidos, Lula ressalvou que o Brasil está disposto a "encontrar uma solução que não afete o sistema multilateral de comércio e resolva as dificuldades de todos". Ou seja, um meio-termo. "Todos fizemos sacrifícios para a conclusão da Rodada Doha", afirmou Lula a Singh, referindo-se à abertura do setor industrial brasileiro. "É possível alcançar o equilíbrio." Além do Brasil, outro que se esforça para ressuscitar Doha é o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, que ontem tentava abrandar as demandas de Nova Délhi sobre as salvaguardas para produtos agrícolas e convencer o governo indiano a aceitar o acordo fechado no dia 25. Nesta semana, Lamy deverá ir a Washington para remover a resistência dos EUA às demandas da Índia. Em Nova Délhi, Lamy disse ainda ser possível concluir a rodada até dezembro. "A boa notícia é que ainda há a possibilidade de concluirmos as negociações este ano. Todos os membros da OMC concordaram com isso no ano passado", disse Lamy, em encontro com o ministro do Comércio indiano, Kamal Nath. "Nadamos todo o oceano e, próximos da praia, nos afogamos", disse Lula a Singh, e este ponderou que viu o resultado de Genebra como um "revés temporário". "É possível resolver até setembro", disse Singh. "Senão, serão necessários mais três ou quatro anos para a retomada."

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