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Índia tenta se tornar a nova China na indústria

Burocracia e infraestrutura ruim, porém, ainda são empecilhos aos investimentos

Por Keith Bradsher
Atualização:
Primeiro ministro Modi, de maneira lenta e até imprevisível, atrai capital para as indústrias indianas Foto: Adnan Abidi/Reuters

PUNE, ÍNDIA - A massa de modelar Play-Doh, o jogo Banco Imobiliário e praticamente todos os demais brinquedos da Hasbro foram fabricados na China durante décadas. Agora, a Hasbro está mudando de rumo. Embora a empresa ainda encomende da China os brinquedos mais complexos e caros, como o eletrônico Fur Real Friends, a empresa tem contratos de produção em Turquia, Indonésia, Vietnã e México. Sua expansão mais agressiva se deu na Índia, onde a Hasbro agora compra de várias fábricas de porte considerável, e planeja a construção de outra instalação.

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As multinacionais de todo o mundo começaram a pensar seriamente no setor manufatureiro da Índia, com sua mão de obra farta e barata. Mas o investimento não significa que fazer negócios na Índia se tornou mais fácil. Em vez disso, parece que fazer negócios na China se tornou mais difícil.

O Musical Group, com sede em Hong Kong, decidiu construir a mais nova fábrica da Hasbro na Índia depois de enfrentar agudos períodos de escassez de mão de obra e rápida alta nos salários em sua fábrica principal no sul da China. Mas o Musical, como tantas outras empresas, está trombando de frente com o pântano burocrático da Índia envolvendo a questão da compra de terras, e o projeto está atrasado há meses.

"Tivemos uma negociação muito difícil com o governo local", disse Christopher Tse, diretor administrativo do Musical Group, que durante quase 35 anos obteve toda a sua manufatura da China. "É necessário mais tempo que o esperado."

Para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a situação representa um desafio político e econômico. Há mais de um ano, Modi, usando um tradicional colete amarelo e apresentando-se diante do imenso logotipo de um tigre indiano, revelou um ambicioso esforço para intensificar a atividade manufatureira.

A campanha "Fabrique na Índia" prometeu reduzir a burocracia e melhorar a infraestrutura, abrindo caminho para as grandes multinacionais e outros investidores estrangeiros. Essa foi uma das principais plataformas de sua candidatura.

Desde então, quase nada saiu como o planejado. O progresso na melhoria das inadequadas estradas, ferrovias e portos do país tem sido lento. A corrupção segue perniciosa. A poluição do ar nas cidades é ainda pior na Índia do que na China, e pode se agravar ainda mais se novas fábricas forem construídas.

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Os planos para reescrever a legislação trabalhista e o direito à propriedade de terra e reformar os impostos estaduais empacaram no Parlamento. E um esforço de Modi no sentido de dispensar a aprovação do Parlamento com ordens executivas temporárias também encontrou problemas.

'Se conseguirmos fabricar um produto de nível mundial na Índia, a dinâmica econômica da exportação será bastante lucrativa' - Rustom Desai, diretor administrativo das operações da Corning na Índia

Risco. A ordem executiva mais controvertida, e potencialmente de maior impacto emitida por Modi - facilitando a conversão de terras agrícolas em terrenos industriais -, venceu no dia 31 de agosto. Ele optou por não renová-la. A medida se converteu em um risco político nas eleições estaduais, com os agricultores temendo seu uso para expulsá-los de suas terras.

"Ainda estamos trabalhando na facilidade de fazer negócios", disse o ministro indiano de Finanças, Arun Jaitley, acrescentando que governos estaduais estavam começando a reformar suas leis de terras e trabalho.

Mas, de maneira lenta e um pouco imprevisível, o setor indiano da manufatura está começando a atrair o investimento estrangeiro.

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A Foxconn, maior fabricante terceirizada de smartphones e outros eletrônicos, que tem o maior número de suas fábricas na China, concordou em agosto em abrir de 10 a 12 instalações no oeste da Índia até 2020, empregando até 50 mil trabalhadores. Uma semana antes, a General Motors anunciou planos de investir US$ 1 bilhão no desenvolvimento de modelos de carros para o mercado indiano e quase dobrar o tamanho de sua fábrica nos arredores de Pune, inaugurada há sete anos.

A italiana CNH Industrial está construindo nas imediações uma fábrica de colheitadeiras. A Ford abriu uma imensa linha de montagem de carros no noroeste da Índia este ano, e a Daimler acrescentou à sua fábrica de caminhões uma grande linha de montagem para ônibus no sudeste da Índia.

"Se conseguirmos fabricar um produto de nível mundial na Índia, a dinâmica econômica da exportação será bastante lucrativa", disse Rustom Desai, diretor administrativo das operações da Corning na Índia, que incluem uma fábrica de fibra óptica altamente automatizada em Pune.

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Os governantes da Índia enxergam a manufatura como algo essencial para o futuro do país. Eles têm 10 milhões de jovens entrando anualmente na força de trabalho e poucas alternativas para criar empregos suficientes.

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