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Indiana lucra com carros ‘britânicos’

Tata enfrentou desconfianças ao comprar a Jaguar e a Land Rover, mas conseguiu fazer com que as marcas recuperassem seu brilho 

Por Vikas Bajaj
Atualização:

MUMBAI - Neste verão (do hemisfério norte), a Jaguar Land Rover redobrou a produção, passando a operar 24 horas em sua fábrica perto de Liverpool, Inglaterra, e criando mil postos de trabalho adicionais para atender à demanda por seu aclamado e bastante vendido Range Rover Evoque. Agora, a empresa está apressando o lançamento do muito aguardado roadster Jaguar F-Type.

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Quatro anos depois de ser adquirida por uma companhia indiana, as famosas, mas quase desaparecidas, marcas britânicas estão reconquistando parte do brilho perdido, com enormes vendas, de Xangai e Londres.

O sucesso aturdiu analistas e investidores, já que muitos afirmaram que a Tata Motors, montadora indiana, havia cometido um enorme erro, que sairia muito caro, ao comprar a Jaguar Land Rover da Ford Motor por US$ 2,3 bilhões, em junho de 2008. Na época, a Ford estava levantando recursos para assegurar sua própria sobrevivência, e vendeu as marcas por alguns bilhões de dólares menos do que havia pago quando as adquiriu anos antes.

Segundo analistas, a Tata Motors fez o que poucas empresas de mercados emergentes conseguiriam: dar uma reviravolta e administrar com sucesso uma companhia ocidental problemática. Muitas outras, incluindo a empresa irmã da Tata Motors, a Tata Steel, que pagou US$ 11,3 bilhões pela Corus Steel em 2007, têm tido problemas com aquisições feitas na Europa e nos Estados Unidos na era do dinheiro barato, antes da crise financeira.

A Tata Motors parece ter se saído bem, em grande parte porque não procurou gerir a Jaguar Land Rover a partir da sua sede na Índia. Em vez disso, deixou a administração da companhia nas mãos de executivos na Inglaterra.

Ela também se beneficiou com projetos iniciados quando a Jaguar ainda pertencia à Ford Motor, incluindo o do Evoque, que conquistou fãs, incluindo os apresentadores do programa Top Gear, da BBC, e os novos ricos chineses.

No seu último ano fiscal, encerrado em março, a Jaguar Land Rover contabilizou um salto de 27% nas vendas no varejo, para 306 mil veículos, e se tornou o motor principal de crescimento e lucro da Tata Motors. A unidade dedicada a carros e caminhões da Tata ficou estagnada nesse mesmo período, diante de uma desaceleração da economia interna e de uma linha de produtos muito pequena, que inclui cerca de uma dezena de carros de passageiros. As vendas de carros da Tata cresceram apenas 4% no ano fiscal anterior.

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Lançamentos. Analistas dizem que, para evitar os efeitos de uma recessão econômica global, esperam que a Jaguar Land Rover continue seu bom desempenho, porque ela está para lançar diversos novos modelos, incluindo uma versão redesenhada do seu Range Rover e o F-Type.

"Acho que as pessoas estavam um pouco céticas e elitistas e talvez com alguma tendência colonialista", disse Tim Urquhart, analista sênior na IHS Automotive em Londres. Mas acrescentou que "se você examinar a Land Rover e a Jaguar agora, verá provavelmente que elas têm a mais vigorosa linha de produto na sua história recente, talvez de toda a sua história".

A aquisição da Jaguar Land Rover pela Tata Motors nem sempre pareceu promissora. A crise financeira se abateu logo depois da compra fechada, e a demanda por carros de luxo despencou na Europa e na América do Norte, seus dois maiores mercados. Lutando com uma dívida de US$ 3 bilhões que teria de pagar pela compra, a Tata Motors foi forçada a injetar mais dinheiro na companhia, uma vez que não conseguiu ajuda financeira do governo britânico.

Muitos analistas questionaram se a empresa não teria pago demais e ido muito longe, especulando que o seu chairman, Rain Tata, um aficionado por carros e herdeiro da família que criou o grupo Tata de empresas, estava muito enamorado das marcas globais. No decorrer dos anos, o grupo adquiriu a empresa Tetley Tea, o Pierre Hotel em Nova York e a Daewoo Comercial Vehicles na Coreia do Sul.

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"A aquisição funcionou porque os investimentos foram cuidadosamente direcionados e eficientes", disse Phil Popham, diretor de operações globais da Jaguar Land Rover. "Nosso crescimento é sustentado por um plano financeiro disciplinado envolvendo um rígido controle de custos e investimentos direcionados."

Reservas. Analistas e concorrentes creditam essa reviravolta às reservas financeiras da Tata, que ajudou a Jaguar a enfrentar tempos difíceis, e à sua sensatez em assegurar autonomia para os administradores na Inglaterra.

"O que ajudou é que a Tata tinha sustentabilidade", disse um executivo de uma outra montadora. "E a Tata adotou uma política de não intervenção." O efeito Ford se estende além dos seus investimentos passados nas marcas e o trabalho de design e engenharia para o Evoque.

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Muitos dos motores dos carros da Jaguar Land Rover ainda vieram da Ford, embora a empresa esteja agora produzindo seus motores na fábrica na Inglaterra. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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