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Inflação ao produtor tem alta recorde de 28,4% em 2021 e pressiona a indústria

Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mede a evolução dos preços dos produtos na porta da fábrica, teve a maior alta desde 2014

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que inclui preços da indústria extrativa e de transformação, registrou queda de 0,12% em dezembro de 2021, informou nesta terça-feira, 1º, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a queda, o IPP de indústrias fechou 2021 com salto de 28,39%, a maior alta anual da série histórica do indicador, iniciada em 2014.

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O IPP mede a evolução dos preços de produtos na “porta da fábrica”, sem impostos e fretes, da indústria extrativa e de 23 setores da indústria de transformação. Segundo o gerente do IPP no IBGE, Alexandre Brandão, a inflação ao produtor recorde foi causada por uma combinação de fatores que elevam os custos de produção, como alta do dólar, elevação das cotações internacionais de matérias-primas e os problemas climáticos que afetaram a produção agrícola nacional no meio do ano passado.

O primeiro fator destacado por Brandão é o dólar. A taxa de câmbio teve depreciação média de 9,8% no ano passado, segundo o IBGE. “Em outros anos, tivemos até uma depreciação maior, mas 10% não é desprezível. É um efeito que atinge de várias formas. Aumenta o preço em real das commodities (exportadas pelo Brasil) e também do que importamos”, afirmou Brandão.

Embora a depreciação cambial de outros anos possa ter sido maior, desde 2020, o descolamento dos movimentos das cotações do real e das “commodities” tem chamado a atenção entre os efeitos pouco usuais da pandemia de covid-19. 

Tradicionalmente, as cotações das moedas dos países emergentes exportadores de matérias-primas e os preços internacionais das “commodities” andam juntas: quando as matérias-primas se valorizam, o real se aprecia, ou seja, o dólar cai perante a moeda nacional.

Inflação ao produtor recorde foi causada por uma combinação de fatores que elevam os custos de produção Foto: Taba Benedicto/Estadão

Na crise atual, embora as cotações das “commodities” venham em forte recuperação desde o segundo semestre de 2020, o real não se valorizou. Entre as diversas explicações, economistas citam as incertezas em torno da política fiscal e do cenário político nacional como motivos para o dólar seguir avançando em relação ao real. “Isso reforça o movimento de alta das commodities”, disse Brandão.

A alta nos preços das matérias-primas é generalizada, apesar do alívio nas cotações do minério de ferro nos últimos meses. Com o avanço nas cotações do barril de petróleo, a alta recorde do IPP foi puxada pelos preços de refino de petróleo e biocombustíveis, que saltaram 69,72%. Sozinha, a atividade teve impacto positivo de 5,88 ponto porcentual (p.p.) na variação agregada do indicador.

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Também estão em alta as matérias-primas agrícolas, como soja, milho, açúcar e café. No caso dos produtos agrícolas, o impacto do clima é relevante, segundo o pesquisador do IBGE. “Tivemos também um clima complicado no Brasil. O inverno foi muito seco e rigoroso”, afirmou Brandão.

A alta de 2,09% nos preços da indústria de alimentos em dezembro de 2021 foi a sexta seguida. Na variação anual, 2021 foi o terceiro ano seguido em que os preços do setor avançaram acima de 10%: em 2019, 10,14%; em 2020, 30,40%; e, em 2021, 18,57%.

No acumulado do ano, o principal vilão foi o café. A atividade “torrefação e moagem de café” viu os preços saltarem 67,27% em 2021, por causa do forte “impacto do inverno rigoroso, com geada”. Outro destaque no ano foram os preços da atividade “fabricação e refino de açúcar”, com salto de 39,91%.

Segundo Brandão, outro fator por trás da inflação ao produtor é a desorganização das cadeias globais de produção da indústria, que vem provocando escassez de alguns insumos, como semicondutores. O problema, iniciado no segundo semestre de 2020, é tido como temporário, mas vem demorando, cada vez mais, para passar.

“Há ainda muita desorganização das cadeias produtivas”, afirmou Brandão, lembrando que, como muitos dos insumos são importados, o problema acaba agravado pela alta do dólar.