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'Indignados' cercam Parlamento na Espanha

Protesto contra austeridade é reprimido pela polícia e deixa 64 feridos e 26 presos

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Antes comuns apenas na Grécia, as cenas de violência entre a polícia e grupos de manifestantes contrários à política de austeridade chegaram agora à Espanha. Ontem, em Madri, pelo menos 64 "indignados" ficaram feridos e outros 26 foram presos durante um protesto que resultou no cerco do prédio do Parlamento, onde novas medidas de rigor vêm sendo discutidas nessa semana. A multidão pedia a demissão do primeiro-ministro, Mariano Rajoy, que deve anunciar amanhã um novo pacote de aumento de impostos e de cortes de custos e investimentos públicos.A manifestação, chamada 25-S - em alusão à sua data - vinha sendo convocada desde agosto nas redes sociais. Só no Facebook, mais de 50 mil pessoas teriam deixado mensagens aos vários grupos que participavam do movimento "Ocupe o Congresso". Desde que o apelo à mobilização foi lançando, o governo temia protestos de massa. Ontem, eles aconteceram. Enquanto porta-vozes de Rajoy falavam em 6 mil manifestantes, as imagens veiculadas pela imprensa mostravam uma multidão muito maior concentrada na Praza Neptuno, junto ao Parlamento.Com gritos de ordem, os "indignados" denunciaram os "desmandos" dos mercados e o "sequestro da soberania do povo pela troica" - Comissão Europeia, BCE e FMI. Outros grupos pediam "um Congresso mais representativo". No final da tarde, aconteceram os primeiros confrontos, supostamente porque um sindicalista teria escalado a barreira de segurança para afixar uma bandeira do Sindicato Andaluz de Trabalhadores.As imagens registradas pela agência Reuters mostraram a seguir agentes das Unidades de Intervenção Policial (UIP), as tropas de choque espanholas, dispersando a massa a golpes de cassetetes e prendendo manifestantes de maneira aleatória. Em menor número, os policiais foram encurralados. Os "indignados" reagiram com chutes e socos e jogando objetos nos agentes que haviam feito prisioneiros. Depois dos primeiros enfrentamentos, o efetivo policial foi reforçado com mais 1,3 mil homens.Pressionados, os secretários de Estado do Partido Popular (PP) de Mariano Rajoy saíram em defesa do premiê. "A última vez em que o parlamento foi cercado e tomado foi na tentativa de golpe de Estado", comparou Maria de Cospedal, secretária-geral do partido, referindo-se aos eventos de 1981. A mobilização na Espanha vem crescendo na mesma medida em que o governo de Rajoy se aproxima de um pedido de socorro a Bruxelas. Essa perspectiva cresceu quando o presidente do BCE, Mario Draghi, estabeleceu o pedido de socorro ao Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE) como uma condição prévia à compra de dívidas públicas de um país em crise pela autoridade monetária. A condição, que surpreendeu Espanha e Itália, ampliou a pressão nos bastidores sobre Rajoy para que ele aceite o socorro - e a intervenção da troica.

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