PUBLICIDADE

Publicidade

Indústria corre atrás de descontos

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A disparada do dólar e o enfraquecimento da economia mundial provocaram uma corrida das indústrias brasileiras dependentes de insumos importados para negociar descontos com os fornecedores no exterior. Diante da impossibilidade de substituir importações por produção local, fabricantes de eletrônicos, eletrodomésticos e de confecções, por exemplo, pleiteiam abatimento de até 30% no preço, o equivalente à valorização do dólar em relação ao real nos últimos dois meses. Ao pedir descontos, a indústria quer aproveitar o acúmulo de estoques nos fornecedores internacionais e aliviar parte da alta de custos provocada pela elevação do câmbio. Apesar dos descontos, fabricantes brasileiros não descartam a intenção de subir os preços aqui. "Estamos negociando descontos em dólar proporcionais à desvalorização do real para os próximos embarques de tecidos e rendas", afirma o presidente da Darling, fabricante de lingerie, Ronald Masijah. Ele conta que o argumento usado para pedir abatimento é que, se o preço em dólar for mantido, o negócio ficará inviável. Com uma produção mensal 300 mil peças, 20% das matérias-primas usadas são importadas. Stefanos Anastassiadis, diretor presidente da confecção de moda feminina Controvento, conta que as negociações com os fornecedores de tecidos sintéticos, hoje totalmente importados, estão muito mais duras. "Se o fornecedor não reduzir o preço para fazer frente à desvalorização do real, ameaço cortar pedidos", diz o empresário. Ele lembra que recentemente, com a alta do petróleo, os tecidos sintéticos tiveram reajustes. Agora, com o recuo da commodity, é hora de os fabricantes asiáticos darem descontos. Cerca de 80% dos tecidos e aviamentos usados pela confecção são importados. "O que importamos hoje é insubstituível por produtos locais", diz. O setor têxtil registrou no ano passado déficit de US$ 600 milhões em sua balança comercial. O quadro é semelhante na produção de eletrodomésticos, eletrônicos e eletroportáteis, segmentos altamente dependentes de peças e componentes fabricados na Ásia. "Estamos fazendo pressão junto aos fornecedores para que os preços dos importados sejam reduzidos", afirma Edson Grottoli, presidente da BSH Continental para o Mercosul. Ele explica que pedir desconto faz sentido especialmente porque os preços das commodities caíram. Duas grandes indústrias, uma de eletrodomésticos e outra de eletroportáteis, confirmam a negociação de abatimentos com fornecedores asiáticos, diante da impossibilidade de substituição desses componentes por fornecedores locais. Apesar de os abatimentos estarem ainda em fase de negociação, as companhias informam que mantêm planos de aumentar preços no mercado interno. "A indústria está negociando o que for possível de desconto lá fora", afirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos de consumo. Por causa da desacelaração mundial, os estoques de componentes nos países asiáticos estão crescendo, diz o empresário. ?INSUBSTITUIÇÃO? "Não há como substituir a grande maioria de componentes importados por nacionais. Se ocorrer será esporádica em segmentos de baixo valor agregado", afirma o sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira. Júlio Gomes de Almeida, consultor do IEDI, concorda com Silveira. "Se houver alguma substituição, será marginal." Ele diz que muitos fabricantes de componentes não existem mais e poucos setores acumularam capacitação para isso. Silveira observa que o País já perdeu, há muito tempo, a competitividade em setores industriais. Uma prova desse movimento é a forte dependência dos fabricantes de eletroeletrônicos dos componentes importados.De janeiro a setembro, a balança comercial do setor acumulou déficit US$ 17,22 bilhões, segundo a Abinee. Até setembro, o déficit foi 65% maior ante igual período de 2007. O resultado acumulado de janeiro a setembro de 2008 foi superior ao total registrado em 12 meses dos anos anteriores. Em 2007, o déficit foi de US$ 14,75 bilhões. De acordo com a Abinee, a maior parte do déficit (80%) é proveniente da compra de componentes sem similares nacionais. Um exemplo de componente que espelha a situação dessa indústria como refém das importações é a placa de circuito impresso para TVcom monitor de LCD e plasma. Se o produto fosse fabricado no País custaria cinco vezes mais em relação ao item importado, mesmo com o dólar nos níveis atuais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.