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Indústria de petróleo e gás quer rede privada de 5G para acelerar digitalização

Entidades se mobilizam para garantir que a regulamentação que está sendo elaborada para o leilão da nova banda, no ano que vem, já traga uma frequência específica para o setor

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

RIO - A indústria de petróleo e gás quer garantir uma rede privada de tecnologia 5G para acelerar a transição digital e garantir a segurança das suas operações, cada vez mais ameaçadas por ataques cibernéticos. Pensando nisso, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás Natural (IBP) tem se reunido com outras entidades para garantir que a regulamentação que está sendo elaborada para o leilão da nova banda, no ano que vem, já traga uma frequência específica para o setor de petróleo e gás. 

Há duas semanas, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) assinaram acordo de cooperação técnica para a realização de testes do uso empresarial de redes privadas de tecnologia 5G. 

A garantia da segurança das operações é um dos motivos para a indústria de petróleo e gás querer garantir uma rede privada de tecnologia 5G. Foto: Reuters

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"A gente tem participado dessas discussões. O leilão 5G é estratégico para as ambições do nosso segmento. A gente precisa de uma estrutura adequada para que possa ter a internet das coisas funcionando até no chão da fábrica", avalia a diretora executiva corporativa do IBP, Cristina Pinho. 

As discussões têm ocorrido no Conselho Consultivo de Transformação Digital do IBP, criado há um ano, e a intenção é não esperar o leilão 5G para começar "a revolução", diz Pinho, "basta estar na regulamentação", informa. Para ela, o 5G no setor de petróleo vai ser como ouviu recentemente de alguém na indústria: "É como uma estrada que tinha três pistas e agora ganha nove".

Com a entrada da tecnologia 5G, inúmeras possibilidades digitais serão abertas, o que pode deixar espaço também para ataques cibernéticos, explica Pinho. "Dentro do IBP temos um grupo de trabalho sobre segurança cibernética, uma plataforma de compartilhamento de ameaças de ataques e como se prevenir contra esses ataques. Desde o início da pandemia para cá aumentou muito o ataque cibernético", destaca.

A digitalização cresceu mais na indústria do petróleo do que em outros setores no Brasil, atingindo cerca de 55% das empresas, contra a média de 15% da indústria em geral. Mesmo assim, o País ainda ocupa uma posição baixa no ranking do Global Index Inovation, apesar de ter subido duas posições nos últimos dois anos - da 65ª para 62ª -, mas continua atrás de vizinhos da América Latina como Chile, México e Costa Rica.

Mais investimento em tecnologia

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De acordo com o IBP, nos últimos dois anos os investimentos em tecnologia e inovação em petróleo e gás atingiram R$ 3,4 bilhões, estimulados pelo programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) obrigatório para todas as petroleiras que adquirem blocos da União nos leilões do governo. Para os próximos dez anos, a previsão é de que esse número seja multiplicado por dez, acompanhando o crescimento da produção de petróleo do pré-sal, e aproveitando a maior flexibilidade para o uso desses recursos dada recentemente por uma resolução da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) recentemente.

A mudança permitiu que as empresas decidissem onde colocar os recursos de PD&I, o que antes ficava nas mãos da agência. "Havia uma ingerência muita forte na alocação desses recursos e muitos ficaram represados porque não atendiam os critérios da agência e ela bloqueava", diz a diretora do IBP.

Segundo projeções da ANP, somente os contratos dos leilões já realizados garantem R$ 3 bilhões ao ano até 2025 em PD&I, quando o valor sobe para R$ 5 bilhões anuais até 2030.

A cobiçada região petrolífera foi inclusive a locomotiva de grande parte do desenvolvimento tecnológico brasileiro, explica Pinho, antes puxado pela Petrobrás, mas que a cada dia ganha mais colaborações da participação privada, à medida que sobem suas fatias no mercado.

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Hoje, as grandes petroleiras que atuam no País já são íntimas de soluções de robótica submarina, uso de drones para fiscalização, internet das coisas para interligar equipamentos, inteligência artificial para processar milhares de dados e analytics para prever a duração dos equipamentos, possíveis falhas, entre outros usos.

"A robotização já é antiga na indústria, a novidade é que as fábricas estão trazendo essas tecnologias para dentro dos equipamentos, eles já saem com mais confiabilidade. Existem empresas de engenharia marítima no Brasil que vem aplicando digitalização de maneira muito intensa, para que você tenha alta confiabilidade dentro d’água", informa Pinho. "Big Data, inteligência artificial e internet das coisas trouxeram para a indústria grandes possibilidades de uso dessas novas tecnologias. Tudo isso vem sendo utilizado por essas empresas, e quem não estiver usando vai ficar para trás", completa.

A gerente de tecnologia do IBP, Melissa Fernandes, dá como exemplo a Techinip FMC, que utiliza impressoras 3D para montar protótipos dos equipamentos conhecidos como "árvores de natal" usados na extração de petróleo, reduzindo o custo de produção do equipamento e aumentando a segurança. 

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Além disso, a indústria já lança mão de drones para inspeção de plataformas; ferramentas de internet das coisas para operações remotas e interconexão de equipamentos. Roupas de trabalho e equipamentos estão cada vez mais inteligentes, com macacões que avisam sobre vazamento de gases nocivos, e óculos que indicam as instruções necessárias para o bom funcionamento da operação, de manutenção, entre outras, aumentando a segurança. Segundo o IBP, as empresas brasileiras de óleo e gás ocupam a quinta colocação em investimentos em PD&I no mundo.

Startups têm sido também um poderoso motor para acelerar inovações, tanto que terão destaque no evento Rio Oil & Gas deste ano, previsto para acontecer entre 1º e 3 de dezembro, e pela primeira vez realizado de maneira virtual. "As startups são elementos muito importantes porque têm agilidade, conseguem pensar mais fora da caixa e têm menos burocracia, são menos engessadas", avaliam as executivas, lembrando que mesmo a Petrobrás, que tem um dos maiores centros de pesquisa do setor, o Cenpes, tem lançado mão das startups para dar mais agilidade nas inovações.

Mas para utilizar toda essa tecnologia é preciso também investir em conhecimento, até pela perda de vagas que é inerente a essa evolução. Com objetivo de mostrar as oportunidades que se abrem e ajudar a entender melhor as tendências do setor, a Universidade IBP inicia no ano que vem a primeira turma de um curso para executivos de tecnologia e inovação. "É um curso para saber valorar as tecnologias. Existem novas oportunidades de empregos que vão chegar com as novas tecnologias, trabalhos mais operacionais vão ser facilmente substituídos por robôs. É uma oportunidade pra gente se especializar e capacitar novas competências, novas habilidades", informa Pinho.