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Indústria decepciona e reforça pressão nos juros

Produção industrial subiu 0,2% em novembro, bem menos que o mercado esperava, levando analistas a projetarem queda maior na Selic

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - A produção industrial voltou a frustrar as expectativas na reta final de 2016. Apesar do avanço na fabricação de automóveis e caminhões, a indústria brasileira ficou praticamente estável na passagem de outubro para novembro, com ligeira alta de 0,2%, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados pelo IBGE. Analistas do mercado previam um crescimento em torno de 1,5%.

Ligeiro aumento da produção em novembro não repôs perdas, dizem analistas Foto: Marcos de Paula/Estadão

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De janeiro a novembro de 2016, a queda acumulada pela indústria alcançou 7,1%, com perdas em 23 dos 26 ramos investigados. O desempenho reforça o cenário ainda ruim da atividade econômica e aumenta a expectativa de um corte maior da taxa básica de juros, a Selic, dizem analistas.

Após a divulgação do resultado, o Itaú reviu sua estimativa para a Selic a ser fixada na reunião do Comitê de Política Monetária do BC, prevista para a semana que vem. O banco, que antes apostava num corte de 0,5 ponto porcentual na taxa de juros, agora projeta uma redução de 0,75 ponto.

Os dados fracos da indústria também fizeram o Bradesco revisar para baixo sua projeção para o PIB do último trimestre de 2016. Segundo cálculos do economista Igor Velecico, a estimativa para o PIB do quarto trimestre passou de queda de 0,7% para 0,9%. Por enquanto, a projeção do banco para o PIB fechado de 2016 está negativa em 3,5%, mas provavelmente será alterada para recuo de 3,6%, adiantou Velecico.

Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a indústria brasileira vive um momento de desalento e frustração. “O primeiro semestre trouxe alguma esperança, em boa medida por causa de uma taxa de câmbio mais competitiva. Mas, no segundo semestre, tudo isso vai por água abaixo. Não tem nada apontando uma quebra desse cenário, 2017 não deve começar tão bem”, previu Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.

O ligeiro aumento da produção em novembro não repôs as perdas anteriores nem reverteu a trajetória de queda no setor, corroborou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. O que há de diferente é a interrupção na disseminação de resultados negativos entre as atividades pesquisadas. Em relação a outubro, 13 dos 24 ramos investigados tiveram crescimento na produção em novembro. Onze recuaram.

Apesar do predomínio de taxas positivas, há um equilíbrio entre as atividades com crescimento e com queda. Ao mesmo tempo em que setores importantes mostraram avanço na produção, como veículos automotores e indústrias extrativas, outras atividades igualmente relevantes registraram perdas, como alimentos e derivados de petróleo.

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“Claro que o crescimento de 6,1% de veículos automotores foi importante. Mas o setor não está sozinho. Tem outras atividades que tiveram comportamento de queda e atenuaram esse crescimento. Talvez venha daí a dificuldade da previsão desses resultados. As que tiveram comportamento negativo são atividades nas quais é difícil prever o comportamento”, explicou Macedo.

Cenário. “Não há sinalização de melhora para os próximos meses. Pelo contrário, o setor industrial não está otimista”, disse o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, Aloisio Campelo. “A indústria está com muita capacidade ociosa. A demanda interna permanece diminuindo. A tendência seria que, a partir do segundo semestre de 2017, a indústria estivesse com resultados mais consistentes. Então seria uma recuperação lenta e gradual.”

O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria atingiu em dezembro o menor patamar da série histórica da sondagem do setor iniciada em 2001 pela FGV: 72,5%. / COLABORARAM ÁLVARO CAMPOS E MARIA REGINA SILVA