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Indústria do luxo cai nos EUA, mas cresce no Brasil

Estudos publicados em Paris projetam queda de 5% este ano, na melhor das hipóteses e 10%, na pior

Por Andrei Netto
Atualização:

O mercado do luxo não está imune à crise. Ao contrário do que as primeiras análises indicavam no quarto trimestre de 2008, as grifes de joias, relógios, roupas, artigos em couro e acessórios também sofrem com a recessão mundial. Estudos das consultorias Eurostaf e Bain & Company projetam um recuo de 10% nas vendas em 2009. Em tempos críticos, a ostentação fica fora de moda. Os dois levantamentos foram divulgados em Paris, centro mundial da indústria do luxo. De acordo com o relatório do escritório Eurostaf, publicado pelo jornal Le Monde, a retração do mercado deve flutuar entre 5%, no melhor dos cenários, e 10%, no pior. "Nossas previsões no setor mundial do luxo se degradaram sensivelmente", afirma Nicolas Boulanger, autor do relatório que se baseia em 22 marcas. As grifes de luxo viram "um primeiro semestre muito difícil", e seu mercado de ? 170 bilhões em 2008 será reduzido a ? 153 bilhões este ano, prevê. "O segundo semestre será menos ruim porque em 2008 o luxo já estava em crise." Segundo o analista, o segmento de produtos de couro e acessórios, por exemplo, deve levar um tombo. A evolução média do setor entre 2004 e 2007 foi de 16% ao ano, mas em 2009 o desempenho deve ficar entre crescimento de 2% e queda de 3%, na perspectiva do Eurostaf. "Os líderes, como Louis Vuitton, Hermès e Gucci resistirão melhor", estima. Na projeção do instituto Bain & Company, o recuo será maior. No fim de abril, o escritório reviu suas previsões para queda de 10% neste ano, 20% só no primeiro semestre. As vendas de roupas devem cair 15%, as de joias e relógios, 12%, e as de couro e acessórios, 10%. EMERGENTES Entre os maiores mercados, o pior resultado será na América, onde o consumo deve cair 15% no ano. As vendas nos mercados emergentes, como China, Oriente Médio e Brasil, no entanto, devem crescer 2% a 7%. "As projeções indicam que China e Brasil serão os dois mercados de luxo com mais rápido crescimento até 2012", afirma o relatório da consultoria. O caso chinês, um mercado de ? 6 bilhões, é emblemático. O país responde por apenas 3% das vendas globais de artigos de luxo, contra 38% da Europa e 33% das Américas, mas deve crescer 25% em 2009. Os estudos também verificaram mudança de comportamento de consumo. "Os clientes de produtos de luxo agora gastam menos, viajam menos e estão menos confiantes", diz o relatório. Preço e luxo, segundo a pesquisa, não são mais sinônimos. Promoções e artigos mais baratos entre os de grife vêm sendo os mais cobiçados. "As marcas de luxo devem afrontar a diminuição das fortunas pessoais, a pressão sobre os preços e a desaceleração do ritmo de crescimento nos países emergentes", estima Claudia Arpizio, analista da Bain & Company. "A ostentação está obsoleta." O gabinete estima ainda que o segundo semestre será marcado pela estabilização, porém, num nível de desempenho baixo. A despeito das lojas cheias em capitais como Paris, os resultados das maiores grifes na Europa sobre o primeiro trimestre de 2009 já indicam desaquecimento. O lucro da gigante francesa Moët Hennessy-Louis Vuitton (LVMH), líder mundial e proprietária de marcas como Louis Vuitton, Hublot e TAG Heuer, caiu 7%, considerando o câmbio corrigido. As vendas de relógios suíços Zenith, uma das marcas do conglomerado, recuaram 41%. O lucro da Hermès encolheu 4,7%, um desempenho razoável se considerada a queda nas vendas, de 27%. "As vendas foram afetadas pela conjuntura econômica", disse a empresa, em comunicado oficial. Gucci, marca italiana do grupo francês Pinault-Printemps-Redoute (PPR), perdeu 3,4% dos lucros, considerando a variação cambial.

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