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Indústria e construção puxaram contratação

Vagas formais cresceram 6% em fevereiro, duas vezes mais que o mercado de trabalho

Por Raquel Landim
Atualização:

O avanço da formalização no mercado de trabalho está de volta neste início de ano. Em fevereiro, as vagas com carteira assinada cresciam 6% em relação a fevereiro de 2009 - quase duas vezes mais rápido que a população ocupada (alta de 3,5%), conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As vagas sem carteira caíam 0,8%.As demissões provocadas pela crise interromperam o aumento da participação do emprego com carteira assinada. O temor era que a insegurança estimulasse novamente a informalidade. Mas não foi o que ocorreu. "Esses dados evidenciam que surgem muitos novos postos, mas também estão formalizando vagas já existentes", disse Fábio Romão, da LCA Consultores.O economista atribuiu o crescimento mais intenso das vagas com carteira à recuperação do emprego industrial. Tradicionalmente a área mais formal da economia, a indústria já retomou as contratações após liderar as demissões na crise. Outro fator é o aquecimento da construção civil. As incorporadoras estão absorvendo trabalhadores que atuavam por conta própria."A formalização do mercado de trabalho está mais acelerada do que antes da crise", acredita o gerente da pesquisa mensal de emprego do IBGE, Cimar Azeredo. O coordenador técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lucio, concorda. "A economia retomou o nível pré-crise. Além disso, é um ano eleitoral que acelera os gastos e os investimentos públicos. Tudo isso colabora para o crescimento da formalização", explicou.O sonho de conseguir um emprego com carteira assinada se tornou mais palpável para os brasileiros a partir de 2004, com o crescimento mais forte da economia. Em dezembro de 2003, 43,5% da população ocupada tinha emprego formal - um dos menores patamares da década.Na prática, significa que surgiram 2,8 milhões de empregos formais a mais nas grandes cidades daquela época até agora. Por outro lado, desapareceram 165 mil vagas sem carteira. Em todo o País, foram 8 milhões de vagas formais a mais entre 2004 e 2008 (último dado disponível). "Nos anos 90, chegaram a afirmar que a carteira de trabalho tinha acabado. O problema era falta de crescimento econômico", diz Lucio, do Dieese. Na década de 90, para cada 10 empregos criados, 6 eram informais. Hoje é o contrário. Efeitos benéficos. Para o professor da Universidade de São Paulo (USP), José Pastore, o aumento da formalização do mercado de trabalho só tem efeitos "benéficos". O vínculo formal com as empresas abre as portas do crédito para os trabalhadores. As indústrias, por sua vez, investem mais na qualificação da mão de obra e conseguem melhorar sua produtividade. O governo também sai ganhando, porque arrecada mais impostos. No curto e médio prazos, a contribuição de mais trabalhadores significa um déficit menor da Previdência. O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Caetano, alerta, no entanto, que o benefício é temporário.Ele explica que os cofres públicos terão um bônus por cerca de 20 anos, mas depois pagarão aposentadoria a mais trabalhadores. "Não dá para solucionar o problema da Previdência só com formalização do trabalho".Para entenderPesquisa só abrange as metrópolesA pesquisa mensal de emprego do IBGE abrange as regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. A metodologia passou por mudanças em 2001. Por isso, não é aconselhável comparar os dois períodos. Mas, no caso da fatia do emprego formal, os economistas dizem que a diferença é pequena.

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