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Indústria farmacêutica vende menos mas fatura mais

Por Agencia Estado
Atualização:

As vendas da indústria farmacêutica estão encolhendo em unidades no País, mas crescem em valor. De março de 2001 a março deste ano, o setor vendeu 1,081 bilhão de medicamentos, 2,1% abaixo do mesmo período imediatamente anterior. Basicamente por conta dos reajustes de preços, o faturamento aumentou 3,9% e cravou R$ 10,7 bilhões. O resultado da estagnação do mercado é que as indústrias farmacêuticas começam a rever os planos de investimento e admitem postergar novos empreendimentos. Os dados de mercado referem-se aos remédios que exigem receita médica e fazem parte de levantamento recente do IMS Health, que mede o setor. O relatório aponta queda de vendas em unidades de 7,7% em março e de 1,2% no trimestre. Desde dezembro de 2000, quando o governo regulamentou e controlou os preços de medicamentos, foram autorizados três aumentos, todos abaixo dos pleiteados pelos laboratórios, o último deles em fevereiro. Em dólar, a queda de vendas em doze meses do setor, dominado pelas multinacionais, é de 19,4%. Segundo um executivo do setor, a entrada dos genéricos no mercado não estimulou o crescimento do consumo, mas, principalmente, a substituição de produtos mais caros por outros mais baratos. A assessoria do Grupo Pró Genéricos estima que os novos produtos, introduzidos no mercado em fevereiro de 2000, já respondem por 9% do volume das vendas e por 5% do faturamento. Os genéricos são apontados como um dos fatores da redução dos preços médios do setor, de R$ 4,90 para R$ 4,07, entre os 12 meses terminados em março de 2000 e em março de 2002, conforme os dados do IMS Health. A Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma) confirma que o tamanho do mercado não vem aumentando e que o avanço do faturamento em reais deve-se ao reajuste de preços. "No Brasil, a venda de medicamentos depende de o cliente sacar dinheiro e ir à farmácia comprar. Se tiver um problema que afeta a renda, afeta a venda", disse o presidente da Abifarma, Ciro Mortella, citando que 2001, marcado pelo controle de preços e mudança na tributação, foi um ano ruim. A entidade já detectou sinais de desaceleração de investimentos. Mortella explicou que é natural que as empresas tenham "mais cautela", por conta dos controles mais rígidos, da transição de mercado e até do cenário político, além do fraco desempenho. Já foram anunciados investimentos de US$ 200 milhões para 2002. "A questão é saber quanto seriam, não fossem as condições atuais", disse. A Sondagem Conjuntural da Indústria, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ouviu este ano 20 laboratórios, com vendas anuais de R$ 3 bilhões e concluiu que 29% têm interesse em investir no aumento da capacidade de produção ou em eficiência produtiva. Em 2001, a taxa era de 57%. O laboratório Sanofi-Synthélabo, por exemplo, confirma o projeto de investir R$ 100 milhões na expansão da fábrica do Rio, mas está renegociando com a matriz na França o prazo do projeto. O presidente da subsidiária brasileira, Hélio Anastácio, diz que talvez o projeto demore seis meses a mais para ser iniciado e a obra completa, antes prevista para três anos, poderá chegar a cinco anos. "Se o mercado retomar o ritmo, voltamos ao prazo inicial", afirmou.

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