PUBLICIDADE

Indústria já estava conformada com a decisão

Fecomércio reclama e a Força Sindical a considera 'extremamente perversa' para os trabalhadores

Por e Marcelo Rehder
Atualização:

O setor industrial, que em outubro teve a maior taxa de crescimento desde 2003, não se surpreendeu com a decisão do Banco Central (BC) de manter a taxa Selic em 11,25% ao ano. As duas principais entidades representativas do empresariado - Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) - já esperavam esse resultado diante de um fim de ano com economia aquecida. "Essa decisão era esperada em função da manifestação do BC de interromper a trajetória de queda dos juros em outubro", disse Armando Monteiro Neto, presidente da CNI. Segundo ele, as expectativas em relação à inflação atual e futura são favoráveis, já que os temores de eventual disseminação dos aumentos de preços pontuais não se confirmaram. "A maturação dos investimentos enseja a continuidade da trajetória de crescimento sem gerar pressões inflacionárias", disse. Monteiro Neto espera que o governo retome a trajetória de redução dos juros básicos da economia nos primeiros meses de 2008. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que a decisão não surpreendeu, apesar de "ainda conservadora" para a realidade nacional. "Com o crescimento constante da atividade econômica, inclusive na área da indústria da transformação, a atitude tomada pelo BC já era esperada, e nem poderíamos imaginar uma tomada de posição diferente de seus dirigentes." A indústria automobilística, que obtém recordes de vendas de carros ancorados no financiamento, também esperava a manutenção dos juros básicos, mas acredita que o mercado não será afetado pela decisão. "Há outros fatores além dos juros que provocam demanda, como a baixa inadimplência e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)", disse o diretor da Ford, Rogelio Golfarb. As críticas vieram do setor do comércio e das centrais sindicais. "Quando o Copom decidiu interromper o ciclo de reduções da taxa básica na reunião anterior, tivemos a esperança de que fosse um episódio isolado", disse Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. "Lamentavelmente para o setor produtivo, o erro se repete e terá reflexos negativos sobre as perspectivas de crescimento da economia em 2008". Szajman argumentou que não há pressões inflacionárias e o Copom deveria ter aproveitado o cenário macroeconômico favorável do País para cortar a taxa em ao menos 0,25 ponto. "A continuidade da queda da Selic é importante para aliviar o caixa do governo, que pode usar a folga em investimentos e para reduzir a dívida pública." O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, considerou a decisão "extremamente perversa" para os trabalhadores. "Ao conservar a taxa, o Copom continua colocando trava no desenvolvimento e crescimento do País". Para ele, a medida compromete o crescimento da economia no primeiro semestre de 2008, pois cada decisão do BC leva vários meses para produzir resultados concretos na economia. "A continuar com essa política de juros altos, seremos em 2008 o patinho feio das economias emergentes do mundo." Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo), Alencar Burti, a decisão "atendeu às expectativas do mercado financeiro, mas decepcionou os empresários, que esperavam por uma redução, mesmo que pequena, da taxa". O presidente da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, Orlando Diniz, lembrou que, de janeiro a outubro de 2007, o governo pagou R$ 135,2 bilhões de juros e economizou R$ 106,6 bilhões. "Esse montante representa 3,7 vezes o que espera arrecadar com a CPMF este ano (R$ 36 bilhões)", ressaltou. Para Diniz, "não adianta manter a taxa de juros e insistir em uma política de carga tributária crescente e de gastos altos".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.