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Indústria naval demitiu 250 na última semana

A indústria naval, um dos poucos setores que estavam ampliando sua oferta de vagas este ano, com perspectivas de gerar dez mil novos empregos, já está demitindo

Por Agencia Estado
Atualização:

A indústria naval, um dos poucos setores que estavam ampliando sua oferta de vagas este ano, com perspectivas de gerar dez mil novos empregos, já está demitindo. A demora na liberação do financiamento de US$ 200 milhões para o Estaleiro Ilha S.A (Eisa) construir quatro navios petroleiros para a Transpetro, subsidiária da Petrobras, provocou a demissão de 250 trabalhadores metalúrgicos na última semana. Se considerados os três últimos meses, as demissões no Eisa chegam a 600 pessoas, metade do quadro de funcionários do estaleiro em junho. A perspectiva é de que no pico das obras para os quatro navios, o estaleiro geraria 3,5 mil empregos. O contrato entre o Eisa e a Transpetro foi assinado em julho do ano passado e a encomenda foi considerada como a principal alavanca do Programa Navega Brasil, lançado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 2000 para a recuperação da indústria naval. O imbroglio financeiro que barrou o negócio teve início com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que viu falta de credibilidade e capital imobilizado no setor para a concessão do financiamento. O próprio Eisa possui uma dívida de US$ 30 milhões com o banco, que ainda está sendo negociada. "Os valores a serem financiados são altos, o estaleiro tem dívidas e não possui garantias para um negócio deste porte", explica Maurício Chacur, gerente executivo de Navegação, Portos e Hidrovia do BNDES, justificando a necessidade de um seguro-garantia para a liberação do dinheiro. Motivos O problema é que os motivos alegados pelo BNDES são os mesmos que atrasam as negociações com as seguradoras. "O modelo deste contrato exigido pelo BNDES é inédito no setor naval. Existem contratos semelhantes a este, com as usinas hidrelétricas, mas que geralmente atingem a um valor de R$ 160 milhões. Neste caso do EISA, o valor é mais de três vezes superior e o risco, idem", comentou o diretor técnico da Áurea Seguros, Carlos Frederico Ferreira, que chegou a negociar com o estaleiro. Para tal montante, lembra o executivo, há ainda a necessidade de contratação de um resseguro e a dificuldade de obtenção de crédito no exterior para projetos nacionais pode atrasar ainda mais o processo. O vice-presidente do EISA, Ronaldo Peryles, diz que essa possibilidade está descartada. Mesmo que o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) tenha negado ter recebido pedido formal para a negociação, Peryles afirma que a transação está transcorrendo informalmente e o processo deve estar concluído no final de outubro. Segundo ele, a previsão é de que o primeiro navio contratado seja entregue 26 meses após o início da obra, previsto para novembro. Para o coordenador do Fórum Intersindical dos Trabalhadores na Indústria Naval Offshore, Luiz Chaves, há neste caso omissão da Petrobrás. "Quando compra um navio no exterior, a Petrobrás arca com 30% das garantias exigidas pelos bancos internacionais para liberar o financiamento. Por que não faz o mesmo no Brasil para garantir os empregos locais?", questiona. Enquanto espera pela entrega dos navios, a Transpetro conclui o afretamento de dois navios por um período de 12 anos. Cada um deles custará US$ 21 mil por dia, ou US$ 200 milhões ao longo do prazo total, mesmo valor pago pela subsidiária da Petrobras para a aquisição dos quatro navios a serem construídos pelo Eisa. A Transpetro foi procurada, mas não comentou o assunto.

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