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Produção industrial recua 0,7% em agosto, no 3º resultado negativo seguido

Com esse desempenho, a indústria ainda está 2,9% abaixo do patamar pré-pandemia, segundo o IBGE 

Foto do author Cicero Cotrim
Por Daniela Amorim (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - A indústria brasileira amargou em agosto o terceiro mês seguido de perdas. A produção recuou 0,7% em relação a julho, segundo a Pesquisa Industrial Mensal divulgada nesta terça-feira, 5, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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O resultado foi pior do que o estimado por analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam um recuo mediano de 0,4%. Dos oito primeiros meses de 2021, a indústria cresceu em apenas dois deles: janeiro (0,2%) e maio (1,2%).

Para o economista sênior do Banco ABC Brasil Daniel Xavier, a queda de agosto seguiu a dinâmica esperada de impactos na fabricação de automóveis e eletrodomésticos devido à escassez de insumos. 

"Basicamente um quadro de desarranjo das cadeias produtivas globais, escassez de insumos e aumento de custos também", disse Xavier. "É um quadro um pouco mais generalizado de perda de força da indústria na margem."

Com o desempenho negativo de agosto, a indústria opera atualmente em patamar 2,9% inferior ao de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. Quando ainda crescia, em janeiro, a indústria alcançou um saldo positivo de 3,5% em relação ao pré-covid.

"Medidas do governo ajudaram o setor industrial a ficar positivo até janeiro de 2021", apontou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE. 

A indústria já acumula uma perda de 6,2% de fevereiro a agosto de 2021. Segundo Macedo, a interrupção no pagamento do auxílio emergencial e seu posterior retorno com valor menor ajudam a explicar essa perda de fôlego, mas o desempenho do setor vem afetado tanto por problemas de demanda quanto de oferta.

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"O resultado de agosto não difere muito do panorama que a gente vem apresentando ao longo de 2021. Claro que tem efeitos da pandemia sobre o processo produtivo, com desarranjo das cadeias produtivas, escassez de insumos, encarecimento dos custos de produção. E, pelo lado da demanda doméstica, a gente tem aquelas dificuldades registradas há algum tempo no mercado de trabalho", disse Macedo.

A produção de veículos teve mais um mês de queda em agosto. Foto: Washington Alves/Reuters - 20/5/2020

  

O pesquisador cita que o País ainda tem mais de 14 milhões de desempregados, massa de salários sem evolução, precarização do emprego e inflação corroendo a renda disponível das famílias. Com o avanço da vacinação da população contra a covid-19, o consumo de serviços também tem concorrido com a aquisição de bens industriais, lembrou Macedo.

De julho para agosto, houve perdas em 15 das 26 atividades investigadas pela pesquisa do IBGE, com destaque para os segmentos de outros produtos químicos (-6,4%), derivados do petróleo (-2,6%), veículos (-3,1%) e farmacêuticos (-9,3%). Apenas sete atividades industriais se mantêm operando em patamar superior ao pré-pandemia.

A XP Investimentos prevê nova retração na produção industrial em setembro, de -0,5%, embora ainda aguarde alguns indicadores para fechar essa estimativa.

"As restrições na oferta de insumos, a crise hídrica e os patamares elevados das cotações de commodities energéticas (petróleo e gás) tendem a impedir uma recuperação consistente da indústria de transformação brasileira no curto prazo", justificou o economista da XP Rodolfo Margato, em nota.

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