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Indústria quer influir no debate de Doha

Empresários se mobilizam, cientes de que terão que abrir mais o mercado

Por Agencia Estado
Atualização:

A retomada das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) reacendeu a inquietação no setor industrial, ciente de que terá de engolir uma abertura mais ampla no mercado interno para pagar a conta dos ganhos esperados pelos exportadores agrícolas brasileiros. A partir desta semana, os industriais começam a se mobilizar para influir nas posições defensivas e ofensivas do governo brasileiro na Rodada. Eles querem também pressionar por um futuro "pacote de bondades" capaz de ir além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de preparar a indústria nacional para um ambiente de concorrência mais acirrada. Na terça-feira, o Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo vai tratar das posições brasileiras e do cenário para a Rodada Doha e também das mudanças de rumo no Mercosul, com o ingresso da Venezuela e a possível adesão da Bolívia. No dia 14, em Brasília, representantes da Coalizão Empresarial Brasileira, que mobiliza entidades dos setores industrial, agropecuário e de serviços, terão uma reunião com os negociadores do Itamaraty para marcar suas posições e evitar surpresas. "Ainda há incertezas sobre a real retomada da Rodada Doha porque nenhuma nova posição foi posta sobre a mesa de negociação. Mas não estaremos desprevenidos", afirmou Soraya Saavedra Rosar, coordenadora da Coalizão. A expectativa do Brasil e de seus sócios do G-20, o grupo de países com economias em desenvolvimento, de ver os EUA aprofundarem sua oferta de corte nos subsídios a seus agricultores e a União Européia consentir numa abertura maior de seu mercado certamente elevará a conta a ser paga pelas áreas industrial e de serviços brasileiras. Nas negociações sobre o setor industrial, Brasil e Argentina apresentaram oferta de corte equivalente ao do Coeficiente 30 da Fórmula Suíça no final de 2005. Essa oferta significa uma queda da tarifa de importação máxima aplicada por ambos os países de 35% para 14,68%. A tarifa média, entretanto, poderia subir dos atuais 11,5% para 16,15%. Esse modelo, portanto, abriria uma brecha para a elevação da proteção comercial de uma ampla gama de produtos industriais, embora viesse a expor setores como o automobilístico e o de eletroeletrônicos à concorrência externa. Essa fórmula se acomoda à atual etapa do jogo, que fecharia com ganhos mínimos na área agrícola. Como a ambição do Brasil e seus sócios do G-20 é exponencialmente maior, os negociadores brasileiros podem fazer concessões mais generosas na área industrial. Uma delas é a oferta de um corte tarifário equivalente ao do Coeficiente 20 da Fórmula Suíça, o que equivaleria à redução da tarifa máxima de importação de 35% para 12,73%. A tarifa média ficaria em 11,74%. Os EUA e a UE, entretanto, exigem algo próximo ao de uma sugestão do Ministério da Fazenda engavetada em 2005 - as quedas da tarifa máxima para 10,50% e da tarifa média para 9,79%, como prevê o Coeficiente 15. Na semana passada, o chanceler Celso Amorim descartou a possibilidade de o Brasil chegar ao Coeficiente 15. Mas insistiu que o País terá "posições ofensivas" nessa etapa da Rodada Doha. Amorim afirmou ainda que o Brasil poderá se apresentar para as incipientes negociações de abertura setorial, nas quais a participação é voluntária e o País vinha se esquivando. Obviamente, não para discutir a abertura dos setores eletroeletrônico ou automobilístico. Mas para tratar de produtos como celulose, granitos e outros nichos que serão apontados pela Coalizão Empresarial. "Vamos intensificar nossos contatos com o setor empresarial nos próximos dois meses. Temos deveres de casa a cumprir."

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