PUBLICIDADE

Produção industrial cai 1,3% em julho, com recuo em bebidas e alimentos

Desemprego alto, retração da renda e inflação explicam o resultado, segundo o IBGE; setor de veículos automotores também registrou queda

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - Sob as pressões de efeitos secundários da pandemia de covid-19 e da redução na demanda doméstica, a indústria brasileira começou o terceiro trimestre no vermelho. A produção recuou 1,3% em relação a junho, depois de já ter encolhido 0,2% no mês anterior, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados nesta quinta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dos sete primeiros meses de 2021, a indústria cresceu em apenas dois deles: janeiro e maio. Na passagem de junho para julho, houve redução na produção de 19 dos 26 ramos industriais pesquisados, com destaque para as perdas no setor de bebidas, alimentos e veículos. “Tem todo um desarranjo das cadeias produtivas. Escassez de insumos, encarecimento do processo produtivo”, citou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

PUBLICIDADE

Ao mesmo tempo, ele lembra que a demanda doméstica vem prejudicada pelo alto nível de desemprego, pela precarização de postos de trabalho, pela diminuição de salários e pela corrosão da renda das famílias pela inflação.

“A questão do desarranjo das cadeias produtivas, do desabastecimento de matéria-prima, é o caso mais evidente do setor de veículos, que afeta muito o resultado de bens de consumo duráveis. Os segmentos mais associados à demanda doméstica, ao nosso consumo do dia-a-dia, têm mostrado também comportamento negativo, como é o caso dos alimentos e de bebidas”, explicou Macedo.

A redução do valor e do alcance do auxílio emergencial pago pelo governo também afeta o consumo de itens essenciais, afirmou o gerente do IBGE.

“Além disso, a recente reabertura da econômica, impulsionada pelo progresso da vacinação, começa a redirecionar o comportamento da demanda, aumentando o consumo de serviços em detrimento de bens”, escreveu Andressa Guerrero, analista da Tendências Consultoria Integrada.

Indústrias de bebidas e de produtos alimentícios registraram queda na produção em julho. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 26/9/2018

O mau desempenho da indústria em julho fez o nível de produção descer a patamar 2,1% inferior ao de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. Em janeiro deste ano, quando o setor ainda crescia, o volume de produção estava 3,5% acima do pré-covid.

Publicidade

A perda de ritmo no parque fabril deve continuar pelo terceiro e quarto trimestres, prevê a economista Luana Miranda, da gestora de recursos Gap Asset.

“O problema da indústria é grave porque junta redução da demanda e dificuldade de recompor estoques por falta de matéria-prima. Quando houver normalização do fornecimento de insumos, a indústria tem espaço para crescer, por causa dos estoques que estão muito baixos, mas não deve acontecer este ano”, opinou Luana.

Quanto aos riscos relacionados à crise hídrica, a economista diz que as incertezas em relação ao fornecimento de energia limitam os investimentos na indústria. Além disso, o aumento da conta de luz também prejudica as fábricas devido ao aumento do custo.

Para André Macedo, do IBGE, ainda não é possível mensurar o quanto a indústria já foi impactada pela crise hídrica e pelo encarecimento da energia elétrica.

“O custo da eletricidade traz algum grau de incerteza e impactos negativos na produção”, avaliou Macedo. “Não descarto algum grau de impacto negativo nessa questão, entra no encarecimento de custos de produção.” / COLABOROU THAÍS BARCELLOS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.