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Indústria reduz investimento em 26%

Levantamento da Fiesp constata corte de R$ 25 bi até maio, sem incluir os R$ 10,5 bi (US$ 5,2 bi) da Vale

Por Renée Pereira
Atualização:

Os sinais de recuperação da economia brasileira ainda não reacenderam a confiança dos investidores para desengavetar projetos. Pelo contrário. Se em janeiro a expectativa de investimento da indústria já havia sido cortada em R$ 20 bilhões, em maio o volume foi reduzido em mais R$ 5 bilhões. Isso representa uma queda de 26% em relação ao valor previsto em dezembro de 2008, de R$ 102,5 bilhões, conforme levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com 1.204 empresas. Na prática, a decisão vai reduzir o potencial de crescimento da economia, especialmente, no médio prazo. Menos investimentos significam menos empregos futuros, menos renda e menos consumo, explicam economistas. Eles destacam que hoje o País ainda está sendo beneficiado por projetos iniciados no passado, que estão ocupando mão de obra e elevando o Produto Interno Bruto (PIB). Mas a decisão de suspender investimentos agora vai impactar não apenas este ano como os demais, já que se tratam de obras de longa maturação. Na lista de investidores que resolveram frear os projetos estão grandes companhias, como Usiminas, Gerdau, Suzano, Dow Química e Vale - esta anunciou na quinta-feira redução de US$ 5,2 bilhões em investimentos (o valor, equivalente a R$ 10,54 bilhões, não consta no levantamento da Fiesp). As pequenas e médias empresas também entraram na onda de adiar investimentos para 2009, até que o cenário fique mais claro. "Como no mercado financeiro, o setor produtivo também vive o chamado efeito manada", observou o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP. Nos últimos quatro anos, o investimento foi principal motor do crescimento. Em 2008, até setembro, atingiu 20,4% do PIB. Mas, com a forte retração do último trimestre, fechou o ano em 19,3%, ainda um dos níveis mais altos desde 1994. Para este ano, a expectativa é voltar a níveis próximos de 2007, quando representava 17,5% do PIB. "A taxa só não vai cair mais porque o PIB vai diminuir", diz o analista da Gávea Investimentos, Armando Castelar. Além da demanda mais fraca, um dos fatores que pesaram na decisão das empresas de cortar investimentos foi a restrição do crédito, que praticamente desapareceu do mercado no primeiro trimestre do ano, diz o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz. Exemplo disso é que 70% dos investimentos mantidos em 2009 serão feitos com recursos próprios, segundo a Fiesp. O movimento já foi percebido pelo diretor comercial do Grupo Bener, Paulo Lerner, que vende máquinas e equipamentos. "As empresas ainda interessadas em comprar novas máquinas estão pagando à vista. Outras estão sendo financiadas por nós", diz ele, cujas vendas caíram 60%, comparado a 2008. Além de garantias elevadas, o custo dos empréstimos oferecidos pelos bancos não tem animado o setor produtivo. "Os juros estão muito altos, impossíveis de tornar qualquer investimento viável. Só estamos pegando dinheiro no banco para capital de giro", afirma Renato Maurício de Paula, diretor financeiro da companhia, que emprega 300 funcionários no polo calçadista de Franca (SP). Os planos de investimentos da companhia estão suspensos este ano até mesmo em inovação e tecnologia. "Precisamos investir, mas hoje não temos segurança na política cambial, monetária e tributária. O governo não tem feito nada para ajudar o setor de manufaturados." Mesma crítica faz o presidente da Companhia de Fiação e Tecidos Cedro Cachoeira, Aguinaldo Diniz Filho. Com quatro unidades em Minas Gerais, a empresa foi obrigada a se adequar a partir do quarto trimestre de 2008, cortando o número de funcionários e congelando investimentos. "Vamos esperar o cenário ficar mais claro." A preocupação é que a paralisia nos investimentos, considerados a parte nobre do crescimento econômico, crie um hiato entre a indústria brasileira e a de outros emergentes, como a China. Roriz destaca que, enquanto o Brasil reduziu o investimento em inovação e tecnologia, a China aumentou o volume destinado a essas áreas.

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