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Indústria tem queda na produção e no emprego e estoques em alta, diz CNI

Cenário. Sondagem da Confederação Nacional da Indústria mostra deterioração dos indicadores em junho, com queda no nível de emprego e no uso da capacidade instalada; para os empresários, impostos altos continuam sendo o maior problema do setor

Por Laís Alegretti e BRASÍLIA
Atualização:

A indústria brasileira voltou a ter um desempenho ruim no mês de junho, com queda na produção e no número de empregos, segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Também revelaram uma situação ruim o uso da capacidade instalada das fábricas, que ficou no pior nível do ano, e o nível de estoques, que aumentou pelo terceiro mês consecutivo.A produção industrial caiu de 51,1 pontos em maio para 46 em junho. A última vez que o índice tinha ficado abaixo dos 50 pontos, o que significa redução da produção em relação ao mês anterior, foi em fevereiro, com 46,1 pontos. Na avaliação de Renato Fonseca, economista da CNI, a indústria "ainda está distante da recuperação".A utilização da capacidade instalada ficou em 42,9 pontos em junho, o que representa o menor valor do ano. Pelo terceiro mês consecutivo, o nível de estoques aumentou na relação com o mês anterior. Fonseca lembra que o acúmulo de mercadorias prejudica a recuperação. "O problema é que você só volta a crescer a produção depois que conseguir reduzir os estoques", comentou. Com cenário ruim para as empresas, o emprego também recuou em junho. Passou de 49,5 pontos em maio para 48,1em junho. Segundo a CNI, apenas entre as grandes empresas o número de empregados manteve-se relativamente estável.Fonseca afirma que ainda não é possível avaliar se a demissão será uma tendência para a indústria, mas diz que seus efeitos prejudicariam toda a economia. O efeito cascata, segundo ele, reduziria o consumo dos brasileiros. "E o Brasil vem crescendo por causa do consumo das famílias, não por exportações ou investimentos", diz.O documento divulgado ontem pela CNI informa que "cresceram as dificuldades das empresas industriais, refletidas no aumento da insatisfação com as margens de lucro e a situação financeira, problemas acentuados pela maior dificuldade de acesso ao crédito". A entidade coloca, ainda, que as empresas estão mais preocupadas com a falta de demanda e que a falta de mão de obra qualificada continua sendo um problema que compromete o setor e pressiona custos com pessoal. Impostos. Embora o governo Dilma Rousseff tenha tomado várias medidas para diminuir o impacto dos impostos nos custos da indústria de transformação, os empresários colocam os tributos no topo da lista de reclamações.A elevada carga tributária foi o principal problema apontado pelos industriais para o segundo trimestre do ano. Segundo o governo federal, o impacto das desonerações da folha de pagamentos para este ano soma cerca de R$ 73 bilhões. Para 2014, as desonerações previstas somam R$ 88,2 bilhões.Ainda na lista de problemas apontados pelos empresários, o item competição acirrada de mercado aparece em segundo lugar, seguido do alto custo da matéria-prima. A taxa de câmbio está na sexta posição e as taxas de juros elevadas, em oitavo. A sondagem foi realizada com mais de 1.900 empresas na primeira quinzena do mês.A pesquisa apontou, ainda, que as condições financeiras das empresas são as piores em quatro anos. Os índices de satisfação com as margens de lucro, de facilidade de acesso ao crédito e de satisfação com a situação financeira foram os mais baixos desde o segundo trimestre de 2009.Futuro. As perspectivas dos empresários continuam positivas em relação aos próximos seis meses, mas o otimismo é menor do que o registrado no mês passado. O índice de expectativa de demanda ficou em 58,9 pontos em julho, abaixo do registrado em junho, que foi de 60 pontos. Sobre a quantidade exportada, o índice de 54,2 pontos também demonstra confiança, embora menor do que no mês anterior. Para Fonseca, a desvalorização do real colabora. "As empresas podem cotar um preço em dólares mais baixo e, com isso, acreditar que vão recuperar parte desse mercado externo que perderam com a crise."

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