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Indústria tenta mapear crise externa antes de decidir encomendas

Por Denise Luna (Broadcast)
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A indústria brasileira tirou o pé do acelerador e aguarda os desdobramentos da crise que contaminou os mercados financeiros na última semana para avaliar os rumos que a economia mundial irá tomar. Pegos de surpresa em pleno mês de encomendas de insumos para a produção que vai atender à demanda de fim de ano, os industriais temem que uma possível retração da economia norte-americana leve a China de carona e, com isso, reduza dois importantes mercados para o Brasil. A melhora nos mercados nesta sexta-feira, após o Federal Reserve ter anunciado uma inesperada redução nas taxas de juros a bancos comerciais, foi considerada apenas um ajuste técnico pelas fontes ouvidas, que estimaram pelo menos 30 dias para a situação econômica se tornar mais clara. "Se essa crise continuar, poderá haver atraso nas compras do final de ano, o que é muito ruim para a indústria, porque o dirigente é obrigado a optar em fazer ou não fazer estoque, com risco de perder vendas mais para frente", avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica, Humberto Barbato. Puxada pelas vendas de celular e tendo os Estados Unidos como principal mercado, a indústria eletroeletrônica é mais importadora do que exportadora, e sofreria com um dólar em patamar mais alto, o que levaria a um aumento de preços no médio prazo. "Os próximos 20 a 30 dias serão decisivos para qualquer tomada de decisão das empresas, tanto em termos de alteração de preços como em processo de investimentos", afirmou Barbato. Preocupado com o novo cenário, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert, reuniu cerca de 60 empresários desse segmento na quinta-feira e apurou que o clima é de dúvida. "Ninguém sabe ao certo o que vai acontecer", afirmou. Ele disse considerar cedo para identificar se a crise é passageira ou se vai reverter o crescimento de até 15 por cento previsto pela Abimaq para este ano. Até o primeiro semestre, as vendas de máquinas e equipamentos aumentaram 13 por cento. "Nós exportamos mais de 30 por cento da produção, e o maior mercado consumidor são os Estados Unidos. A gente tirou um pouco o pé do acelerador para ver como fica", disse Aubert. Um pouco mais pessimista, o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, viu a atitude do Fed como um alerta. "Essa ajuda do Fed hoje injetou ânimo no mercado, mas o fato dele reduzir uma taxa que não estava programada já mostra que existe uma coisa mais grave", afirmou o executivo. Para Castro, as exportações brasileiras deverão recuar no segundo semestre e o superávit do ano ficará abaixo de 40 bilhões de dólares, inferior aos 46 bilhões de dólares projetados pelo governo. Segundo ele, a tendência, nesse momento, é de que os exportadores não tomem decisões "até dar uma clareada". Termômetro da economia, o setor de embalagens também adotou a cautela para avaliar a crise e, por enquanto, mantém a previsão de crescimento entre 1 e 2 por cento este ano. "Sazonalmente o segundo semestre é melhor do que o primeiro, mas ainda é cedo para dizer se esse ano isso vai acontecer", ressaltou a diretora-executiva da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), Luciana Pellegrino.

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