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Indústrias de alimentos voltam à ativa, mas desabastecimento continua

Empresas retomam atividades das fábricas e pretendem enfrentar grevistas, se necessário, para distribuir produtos; índice de falta de produtos subiu, e produtos mais críticos são feijão, farinha, arroz e vegetais

Foto do author Fernando Scheller
Foto do author Márcia De Chiara
Por Fernando Scheller , Nayara Figueiredo e Márcia De Chiara
Atualização:

As grandes indústrias de alimentos do País chegaram a uma situação-limite e estão empenhadas em retomar a atividade das fábricas e a distribuição de produtos. Nesta terça-feira, 29, a catarinense Aurora anunciou que, após quatro dias de paralisação, os funcionários vão voltar ao trabalho na quarta-feira, 30.

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A ideia da empresa é cumprir a determinação da Justiça de retorno às atividades. Ao Estado, a empresa afirmou que a Aurora negociará com caminhoneiros e recorrerá à força policial, se necessário, para garantir o escoamento da produção.

Indústriade alimentos do País chegoua uma situação-limite com a paralisação de caminhoneiros Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

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A Aurora está enfrentando problemas tanto no campo, onde tem suínos e aves prontos para o abate, quanto nas unidades produtivas, onde há estoques de alimentos prontos que precisam ser escoados. A cooperativa Aurora é formada por 70 mil famílias rurais, 12 cooperativas agropecuárias e 16 plantas industriais, que processam 1 milhão de aves, 20 mil suínos e 1,6 milhão de litros de leite por dia.

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A BRF, da mesma forma, passou o dia de terça-feira empenhada em garantir o transporte de ração para suas unidades de criação e a entrega de animais vivos às unidades de criação. Fonte próxima à empresa afirmou que funcionários foram até os pontos de concentração de caminhoneiros nas estradas para negociar a liberação de cargas. Em alguns pontos, a companhia se deparou com manifestantes agressivos, recorrendo, nesses casos, ao apoio das polícias militar e rodoviária.

Consultada pela reportagem do Estadão/Broadcast, a fonte disse que os esforços estão concentrados sobretudo na garantia de alimentação aos animais. A BRF, que é dona das marcas Sadia e Perdigão, deverá, após o fim das manifestações, informar os prejuízos que sofreu  ao mercado.

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Líder no setor de carne bovina no mundo, a JBS – proprietária das marcas Friboi e Seara – informou que retomou parcialmente as atividades de unidades que haviam sido paralisadas totalmente.

Aos poucos. De acordo com uma fonte do setor de alimentos, no entanto, a situação não deve ser normalizada até o fim da semana. Em virtude dos diferentes insumos necessários ao abastecimento de uma grande indústria de alimentos processados – diferentes tipos de proteína animal, embalagens e demais insumos –, só seria possível voltar à carga total de produção entre quatro dias e uma semana após a normalização da situação nas estradas.

Desabastecimento. A falta de produtos perecíveis, como frutas, verduras, legumes, carnes, ovos e leite, continua nos supermercados dos Estado de São Paulo e na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Já nos supermercados de Minas Gerais o quadro se agravou e o desabastecimento começa a atingir produtos não perecíveis, como massas, pães em geral, cereais e enlatados, revela um levantamento da Associação Mineira de Supermercados.

Na terça-feira, o fluxo de caminhões na Ceagesp, o maior polo atacadista de itens in natura, foi 10% de um dia de movimento normal. Entraram 115 veículos vindos principalmente do interior de São Paulo e do Cinturão Verde da Grande São Paulo. Na percepção de Flávio Godas, economista da Ceagesp, houve alguma melhora na oferta de verduras. “Senti um pouco mais de confiança dos produtores de regiões mais próximas, mas o problema persiste para aqueles que têm de percorrer longas distâncias, especialmente de fora do Estado.”

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A situação de desabastecimento se repete nos supermercados. “Os efeitos da greve não acabaram para os supermercados paulistas”, disse o superintendente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Carlos Correa. Nas suas contas, em nove dias de greve dos caminhoneiros, os supermercados de todo País deixaram de vender R$ 2,4 bilhões em produtos perecíveis.

O superintendente da Apas e representantes de cadeias de produção de alimentos se reuniram com o governador de São Paulo, Márcio França, para relatar a situação do abastecimento. Caminhões com mercadorias enfrentam bloqueios em rodovias do Estado. O governador, segundo Correa, se comprometeu a voltar a conversar com esses manifestantes para desobstruir esses pontos. Desafio. A prova de fogo para os supermercados será nos próximos dias, quando a população recebe o salário e vai às compras do mês, geralmente itens de maior volume, como arroz, feijão e óleo, por exemplo. “Se não conseguirmos fazer a reposição dos estoques, a ruptura (falta de um determinado produto na prateleira) será maior”, disse o executivo.

Uma pesquisa feita pela Neogrid, empresa especializada em cadeia de suprimentos, em 25 mil lojas de supermercados espalhadas pelo País, mostra que o índice de falta de produtos que estava em 7,1% no dia 21 de maio, quando a greve começou, subiu para 8,6% no dia 26. Os produtos mais críticos são feijão, farinha, arroz e vegetais.

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