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Inflação desacelera, mas números seguem ruins e projeções para o ano pioram

Aumento de preços está mais espalhado entre os produtos e, segundo economistas, não há sinais de grandes alívios

Foto do author Cicero Cotrim
Por Cicero Cotrim (Broadcast) e Guilherme Bianchini
Atualização:

SÃO PAULO - O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, de 1,06%, até recuou em relação à taxa de 1,62% de março, mas isso não aliviou a preocupação dos economistas. Para Luis Menon, economista da Garde Asset, o recuo só ocorreu por duas coisas específicas: os efeitos do reajuste da gasolina no mês anterior e a mudança da bandeira tarifária de energia elétrica, de “escassez hídrica” para “verde”.

“A inflação não está muito pior do que no mês passado, mas continua ruim. Se desconsiderar os fatores específicos, andou de lado. A qualidade dos números é bastante negativa e não dá sinais de que vai ter grandes alívios tão cedo”, diz.

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Entre os itens que surpreenderam para cima, o economista destaca a alta de 6,13% em produtos farmacêuticos, na esteira do reajuste de até 10,89% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “O repasse foi muito grande e rápido, acima dos anos anteriores”, ressalta Menon, que também cita o avanço de 10,31% do leite.

A projeção preliminar da Garde Asset para o IPCA de maio é de arrefecimento a 0,48%, em um cenário sem reajuste da Petrobras no preço da gasolina. A estimativa de 8,60% para a inflação de 2022, porém, considera um aumento de 12% no combustível ao longo do ano, para corrigir a defasagem em relação aos preços externos. “Se a Petrobras deixar o preço congelado, podemos revisar esse número para baixo”, pondera o economista.Para 2023, a expectativa é de IPCA a 4,20%. 

Consumidores fazem compras em supermercado; inflação ficouem 1,06% em abril, a maior para o mês desde 1996 Foto: JF Diório/Estadão

Pressões espalhadas

Daniel Lima, economista do banco ABC Brasil, diz que, apesar de o IPCA de abril ter ficado próximo ao esperado, revelou um quadro qualitativo preocupante. Para ele, o cenário de curto prazo impõe uma tendência de revisão da projeção de inflação deste ano, dos atuais 8,4% para um nível próximo de 9%.

Para ele, a difusão do IPCA - que atingiu 78,2% em abril, a maior desde janeiro de 2003 (85,94%) - revela um quadro de pressões inflacionárias disseminadas por toda a cesta de produtos que compõe o índice. Ao mesmo tempo, a alta de 1,21% dos preços de bens industriais - acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 0,99% - evidencia que a queda na inflação desse grupo deve ser mais lenta do que o esperado.

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Em 2022, o quadro de inflação pressionada e os riscos de custo prazo, como um novo aumento dos preços de combustíveis, já justificam uma revisão das projeções rumo aos 9%, diz o analista. E a tendência também é de aumento da projeção de IPCA de 2023, atualmente em 4,10%, devido à perspectiva de uma inflação maior de serviços este ano, que carregue inércia para o ano que vem.

"Tudo que a gente tem discutido aponta que existe um risco relevante de um IPCA rodando no teto da meta (4,75%) ou até acima disso em 2023", diz o analista. O quadro pressionado de inflação corrente e a perspectiva de deterioração das expectativas também impõem viés de alta à projeção do banco de taxa Selic terminal, atualmente em 13,25%.

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