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Inflação: 74,8% dos produtos e serviços do IPCA têm alta de preço, o maior número desde 1999

Mais da metade dos 377 subitens que compõem o indicador subiram no mês de dezembro; para especialistas, números indicam que a inflação nunca esteve tão espalhada

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Por Márcia De Chiara
Atualização:

O número de produtos e serviços que tiveram aumentos de preço em dezembro de 2021 foi o maior da série histórica do Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE para todos os meses desde agosto de 1999, segundo levantamento da LCA Consultores. No mês passado, 74,8% dos 377 subitens que compõem o indicador, que é a medida oficial de inflação, registraram variações acima de zero.

“É um recorde histórico”, afirma o economista Bruno Imaizumi, responsável pelo levantamento. Além dessa marca, mais da metade dos subitens (55,2%) tiveram os preços acelerados de novembro para dezembro. Foi o terceiro maior resultado da série histórica para esse quesito, perdendo apenas para setembro de 2020 (56,4%) e novembro de 2002 (56,2%).

Reservatório do rio Jacareí em agosto, em SP. Seca que atingiu o País em 2021 afetou a produção de alimentos e encareceu a comida. Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 17/8/2021

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Esses números indicam que nunca a inflação esteve tão espalhada e também tem forte aceleração. “A qualidade da inflação é ruim, o que é preocupante”, afirma o economista.

Ele atribui esse espalhamento recorde de alta de preços a uma combinação de vários fatores. Um deles foi a interrupção das cadeias de produção provocada pela pandemia no Brasil e no mundo. Isso pressionou custos deprodução e levou à escassez de matérias primas e componentes, resultando no encarecimento de produtos. Um caso típico é a produção de veículos, cujos preços subiram acima da inflação no ano passado por falta de chips.

O segundo fator, apontado pelo economista, foi o problema climático. A pior seca dos últimos 90 anos que atingiu o País afetou a produção de alimentos e encareceu a comida.

Fora isso, a desvalorização do câmbio pressionou preços chaves da economia, como combustíveis. Gasolina e diesel, por exemplo, têm efeito dominó nos custos de várias cadeias produtivas e setores. “Se excluirmos a lira turca e o peso argentino, o real é uma das moedas mais desvalorizadas desde o início da pandemia”, ressalta Imaizumi.

Descompasso

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Com o avanço da vacinação e a retomada da vida “quase normal”, também aumentou a demanda por serviços. E, neste caso, houve um descompasso entre a demanda e a oferta. 

O economistalembra que, em 2020, 53,3 mil estabelecimentos fecharam as portas Destes, 20,3 mil foram do setor de serviços, de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Por último, dezembro é um mês em que muitas empresas aproveitam parareajustar os preços, o que amplia as pressões.

O índice de difusão não só foi recorde em 22 anos como superou a média histórica antes da pandemia e da pandemia. Nas contas do economista, até fevereiro de 2020, a média do índice de difusão era de 51,2%. Entre março de 2020 e dezembro do ano passado, essa média subiu para 61,4%. 

A explicação para o salto entre esses dois momentos, pré-pandemia e pandemia, é que a combinação da pressão do dólar como desalinhamento das cadeias globais de produção impulsionou os preços, afirma o economista.

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