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Inflação agora não é preocupação principal, diz Ipea

Segundo coordenador do Instituto, vários fatores tendem a puxar os preços para baixo no País

Por Fabio Graner e da Agência Estado
Atualização:

O coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Nonnenberg, afirmou nesta quinta-feira, 18, que a inflação "claramente não é a preocupação principal" neste momento de grave crise internacional. Ele lembrou que não há indícios de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará acima do teto da meta, que é 6,5%, embora tenha ressaltado que a inflação está estabilizada em um nível pouco acima de 6%, o que é uma situação diferente dos Estados Unidos, que tenta evitar uma deflação, e da Europa, em que a inflação está em queda. "É sempre bom lembrar que o Brasil tem situação diferente dos EUA e Europa", afirmou.   Veja também: Radar da inflação De olho nos sintomas da crise econômica  Dicionário da crise  Lições de 29 Como o mundo reage à crise     Na avaliação de Nonnenberg, vários fatores tendem a puxar a inflação brasileira para baixo, como a desaceleração esperada na demanda e a queda nos preços de produtos importados. Ele destacou especialmente os combustíveis, que "devem cair muito fortemente no ano que vem", em função da redução significativa nos preços internacionais do petróleo. "A queda do petróleo ainda não chegou, mas vai chegar ao Brasil", afirmou o economista.   As declarações de Nonnenberg foram feitas na entrevista coletiva em que apresentou a Carta de Conjuntura do Ipea. Segundo ele, a inflação em 2008 teve dois momentos. O primeiro foi de elevação motivada pela alta nos preços dos alimentos e a segunda fase, mais recente, é determinada por uma desaceleração dos alimentos e maior contribuição dos demais preços. O documento do Ipea destaca, por sua vez, que nos últimos dois meses os bens de consumo têm alta mais forte de preços, "potencializado pelo desempenho desfavorável do câmbio".   Atividade   Embora evite fazer projeções, o coordenador do Ipea avalia que o Brasil vai experimentar uma "desaceleração forte" no ano que vem. Segundo ele, o tamanho dessa desaceleração vai depender de como a economia mundial vai se comportar em 2009 - se vai retomar o crescimento já no segundo semestre ou se vai voltar a crescer só em 2010. "É cedo para dizer o que vai acontecer", afirmou o economista, lembrando que os governos dos países mais importantes do mundo estão usando "artilharia máxima" para debelar os impactos da crise financeira internacional.   "Tudo isso demora um pouco para ter efeito. É cedo para saber se a retomada será no segundo semestre de 2009 ou só em 2010", disse. Para ele, no entanto, a economia brasileira crescer menos de 3% não será fácil, já que há um considerável efeito carregamento do crescimento deste ano.   Na entrevista, Nonnenberg disse que a crise já afeta a atividade econômica brasileira, notadamente no comportamento negativo da produção industrial em outubro - sobretudo em segmentos como o setor automotivo -, na queda dos preços das exportações e importações e no fluxo negativo de capital financeiro.   Ele ressaltou que até o terceiro trimestre o PIB brasileiro vinha crescendo em ritmo "positivamente surpreendente", o que faz com que a economia, mesmo com pequena desaceleração no último trimestre, possa fechar o ano com expansão próxima de 6%. O economista destacou que, não fosse a contribuição negativa do setor externo para o PIB, a expansão do País nos últimos quatro trimestres estaria na casa de 8%, que é parecida com a Índia. "Mas o resultado brilhante do PIB é um olhar no retrovisor. Os dados mais recentes indicam uma pisada no freio relativamente forte", afirmou.   Nonnenberg afirmou que, por enquanto, a crise não atingiu o emprego e não é possível dizer se ela vai ou quando vai reduzir os postos de trabalho. Um segmento que deve sofrer significativo impacto da crise é a agricultura, por conta do aperto de crédito e dos custos ainda elevados dos fertilizantes. Dados das compras de fertilizantes, segundo o Ipea, indicam um atraso no plantio agrícola.

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