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Inflação chega a 4,52% em 2020, a maior desde 2016

Resultado, divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, ficou acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4%; preços dos alimentos tiveram alta de 14,09%

Por Daniela Amorim (Broadcast), Vinicius Neder e Gregory Prudenciano
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - Com alta de 1,35% em dezembro, em boa parte puxada pela conta de luz mais cara, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação do País, fechou 2020 com avanço de 4,52%, o maior desde 2016. O resultado, informado nesta terça-feira, 12, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,0%, mas ainda dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. No Relatório de Mercado Focus, divulgado na segunda-feira, 11, pelo BC, a projeção era de alta de 4,37% no IPCA do ano passado.

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No ano marcado pela covid-19, os preços dos alimentos deram o tom. Quando a pandemia se abateu sobre a economia, provocando a recessão global, o IPCA chegou a registrar taxas negativas. Com as atividades paradas, os preços, especialmente de serviços, despencaram nos primeiros meses de isolamento social. Todas as previsões apontavam, na época, para um IPCA abaixo da meta do BC no ano passado.

O cenário virou a partir de meados do ano. Com a concentração da demanda em itens básicos, a alta do dólar e aumento nas exportações, os alimentos para consumo no domicílio começaram a encarecer rapidamente.

As famílias desembolsaram 14,09% a mais para comer e beber em 2020. A alta foi responsável por mais de 60% de toda a inflação do ano. O custo dos alimentos para consumo no domicílio aumentou 18,15%, enquanto a alimentação fora de casa ficou 4,78% mais cara. “No ano de 2020 os preços da alimentação para consumo no domicilio foram bastante afetados. Existem vários motivos: tanto pelas pessoas estarem mais em casa por conta do isolamento social, as pessoas precisaram fazer mais refeições em casa, como pela restrição de oferta, a questão da exportação por conta de câmbio mais desvalorizado, que favorece a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional e restringe a oferta no mercado doméstico. A questão de as pessoas terem ficado mais em casa e a questão do auxilio emergencial podem ter influenciado”, justificou André Almeida, analista da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.

Em 2020, as carnes subiram quase 18%, enquanto o arroz aumentou mais de 76%. O óleo de soja mais que dobrou de preço, alta de quase de 104%.

A decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de adotar bandeira vermelha patamar 2 – uma taxa extra na conta de luz para compensar o maior uso de usinas térmicas, mais caras – em dezembro era o que faltava para o IPCA de 2020 extrapolar o centro da meta. A taxa adicional no custo da eletricidade foi anunciada no início de dezembro e, portanto, já estava na conta dos economistas antes do anúncio do IPCA de dezembro.

Desde que o encarecimento dos alimentos entrou no radar em meados de 2020, economistas vêm apontando para o caráter temporário da alta, mas acompanham de eventuais riscos, como o da energia elétrica e repasses de preços para bens industriais. "Não é só um choque de alimentos ou de commodities, há uma série de preços subindo", ponderou a economista Elisa Machado, da ARX Investimentos.

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Preços dos alimentos tiveram alta de 14,09% Foto: Gabriela Biló/Estadão

Apesar disso, Elisa Machado espera alta de 3,5% do IPCA de 2021, aquém do centro da meta de 3,75%, considerando o fim do auxílio emergencial, que impulsionou a demanda no segundo semestre, enquanto a oferta foi limitada por diversos fatores, como a falta de insumos.

"O fim do auxílio emergencial tende a moderar o ímpeto inflacionário. Estamos olhando muito de perto se vamos ficar só com o Bolsa Família. Vai ser essencial para determinar a inflação em 2021", opinou Elisa.

O banco Santander Brasil mantém a aposta para a política monetária, com duas altas da taxa Selic no fim do ano, levando os juros básicos dos atuais 2% para 2,5% no fim de 2021.

"Foi só um número de inflação que surpreendeu para cima. Adiciona risco, mas ainda não muda esse cenário de inflação benigna e atividade fraca, que deve permitir que a Selic fique em nível baixo em 2021", previu o economista Daniel Karp, do Santander.

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