Inflação dá algum sinal de alívio, mas BC ainda tem trabalho árduo pela frente; leia análise

Para tentar conter alta dos preços, esta semana o Banco Central aumentou a taxa básica de juros para 9,25% ao ano; IPCA de novembro ficou em 0,95%, menos do que o mercado esperava

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Por Alexandre Calais
2 min de leitura

Não é nada que dê realmente para comemorar, mas a inflação deu, enfim, algum sinal de alívio. O IPCA de novembro ficou em 0,95%, menos do que esperava o mercado (1,1%). Com isso, é até possível que, no acumulado do ano, a inflação fique um pouco abaixo da barreira dos 10% - para isso, o índice de dezembro não poderia superar 0,68%, segundo o IBGE. Ela também ficou menos espalhada em novembro: o índice de difusão, que aponta a fatia dos itens pesquisados com aumento de preços, caiu de 67% em outubro para 63%.

Na vida real, porém, nada disso ainda quer dizer muita coisa. No acumulado em 12 meses, a inflação bateu 10,74%, nível mais alto desde novembro de 2003. Os efeitos disso são conhecidos por todos, que sofrem no dia a dia com a disparada dos preços. E o Banco Central tem um árduo caminho pela frente para fazer o IPCA voltar a patamares razoáveis.

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No receituário clássico da economia, inflação alta se combate com juros altos. É o que o BC vem fazendo. Esta semana, elevou a taxa Selic em 1,5 ponto porcentual, para 9,25% ao ano. Uma estilingada e tanto, levando-se em conta que, no início do ano, essa taxa estava em 2%. Mas os efeitos dessa subida demoram um pouco a aparecer, por isso a inflação continua tão alta.

Sede do Banco Central, em Brasília; taxa Selic, que começou o ano em 2%, chegou esta semana a 9,25%. Foto: Dida Sampaio/Estadão - 3/12/2021

O resultado do juro alto deve vir na forma de uma atividade econômica ainda mais fraca no ano que vem. Fica mais caro para uma empresa investir ou para o consumidor pegar um financiamento e comprar uma casa, por exemplo. Com a Selic nas alturas, investimentos em renda fixa se tornam mais lucrativos e seguros que aplicar em ações. Com isso, há menos espaço para empresas captarem dinheiro no mercado, sinal de uma economia disfuncional. O normal, numa economia ajustada, é ter juro baixo e que os investimentos financiem aumentos de produção nas empresas. A inflação não deixa esse jogo ser jogado.

Ninguém tem dúvida de que a disparada dos preços vai arrefecer. As projeções para o ano que vem apontam para algo em torno de 5%. Ainda alta, para padrões de países desenvolvidos. Mas, de certa forma, normal para o quadro brasileiro. 

A inflação é um problema global, fruto da pandemia da covid-19, que bagunçou as cadeias de produção. O problema é que, aqui no Brasil, também tem um componente político forte, que pode se agravar com as eleições no ano que vem. Descontrole fiscal - quando o governo gasta muito mais do que arrecada - provoca incertezas nos investidores, e isso pode afetar diretamente o câmbio. Dólar em alta gera inflação. E prejudica o trabalho do BC. É preciso estar vigilante - essa não é uma doença que se derrube com apenas uma dose.

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*EDITOR-COORDENADOR DE ECONOMIA

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