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Inflação dá susto em outubro e reforça cautela do BC

Por RODRIGO VIGA GAIER
Atualização:

A inflação brasileira teve um repique em outubro, o que ajuda a explicar o tom cauteloso adotado pelo Banco Central em relação à política de juros no país. O soluço, entretanto, não compromete o cumprimento da meta da inflação deste ano, mostraram dados divulgados nesta quarta-feira. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador "oficial" de inflação, fechou outubro com uma alta de 0,30 por cento, depois de ter avançado 0,18 por cento em setembro, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Veio tudo ruim... a inflação precisa ser monitorada sim", afirmou Zeina Latif, economista-chefe para Brasil do ABN Amro, fazendo coro aos comentários do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que frisou na ata de sua última reunião que a "prudência" passa a ter papel "ainda mais importante" no atual cenário econômico. No encontro de outubro, o Copom interrompeu o ciclo de dois anos de cortes da taxa básica de juro. A manutenção da Selic em 11,25 por cento ao ano foi decidida por unanimidade. A alta do IPCA no mês passado ficou acima das estimativas dos analistas consultados pela Reuters, que esperavam uma avanço de 0,20 por cento, de acordo com as 36 projeções coletadas. Segundo Eulina Nunes dos Santos, economista do IBGE, o repique refletiu, em boa medida, a alta de produtos sazonais, como frutas, cenoura, batata e cebola. Para a economista, esses aumentos são passageiros. "Não há nenhuma pressão relevante prevista para novembro. Não tem porque se esperar números maiores. As evidências não mostram uma mudança na trajetória de redução do indicador de 12 meses", afirmou. De janeiro a outubro, o IPCA acumulou uma alta de 3,30 por cento. Nos últimos 12 meses o avanço foi de 4,12 por cento, abaixo dos 4,15 por cento acumulados até setembro --neste tipo de comparação-- e também abaixo do centro da meta de inflação, que é de 4,5 por cento. A inflação registrada ao longo deste ano foi bastante influenciada pelo comportamento dos preços dos alimentos. A variação destes produtos até agora foi de 7,76 por cento, a maior alta apurada desde 2002, quando subiram 19,47 por cento. Em 2006, como um todo, os alimentos subiram apenas 1,23 por cento, mostrou o IBGE. "Os itens que subiram em outubro são muito sensíveis ao clima. Houve uma forte seca em outubro em áreas produtoras, mas como voltou a chover a situação tende a se normalizar", afirmou Eulina Nunes dos Santos. A economista destacou que em novembro o IPCA deve captar a queda de 5,3 por cento da tarifa de energia elétrica no Rio de Janeiro e a continuidade do movimento de queda do leite, que recuou 12,84 por cento em outubro. "Em novembro e dezembro do ano passado tivemos taxas altas que não devem se repetir esse ano pelas evidências até agora. Ficar abaixo de 4 por cento (o IPCA do ano) ainda é bem viável", frisou a economista. (Reportagem adicional de Elzio Barreto e Vanessa Stelzer, em São Paulo)

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