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Inflação de 2006 será a menor dos últimos nove anos

O total deverá ser de 2,5%, contra 4,54% de 2005

Por Agencia Estado
Atualização:

O consumidor paulistano deverá mesmo fechar o ano usufruindo da menor taxa de inflação dos últimos nove anos. A queda dos preços na cidade em junho, de 0,21% - a terceira consecutiva - segundo o Índice do Custo de Vida (ICV), do Dieese, aponta para uma taxa de inflação em torno de 2,5% no encerramento de 2006. Será um índice positivo, sim, mas menor que o de 4,54% registrado no ano passado, quando o consumidor não havia ainda incorporado em seu orçamento os ganhos de renda registrados neste ano. A previsão é da coordenadora do índice, Cornélia Nogueira Porto, que informa ainda que se sua expectativa for, de fato, confirmada, o ICV-Dieese anotará na sua série a menor taxa nos últimos nove anos, superando apenas a variação de 0,49% no encerramento de 1998. Este ambiente favorável ao consumidor não é, porém, uma indicação exclusiva do ICV. Na última quarta-feira o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Paulo Picchetti, já havia feito a mesma observação ao comentar a deflação de 0,31% registrada em junho pelo seu índice e reduzir sua expectativa de 4% para 2,5% no ano. Cornélia admite que antes do resultado do ICV em junho ela trabalhava com uma inflação beirando mais os 3% do que os 2,5%. Até então ela não estava certa de que a tarifa de energia elétrica na capital fosse receber um reajuste negativo de 1,9%. Mas o ICV de junho, apesar de ter mostrado perda de fôlego na velocidade de queda - de -0,37% em maio para -0,21% -, passou a acumular no período de 12 meses encerrado no mês passado uma inflação de apenas 2,44%. No ano o ICV só subiu 0,73% já incluindo a variação do mês passado. Estas taxas acumuladas indicam que se o atual cenário, com câmbio baixo, manutenção de investimentos, queda de juros e blindagem econômica contra as turbulências internacionais, a inflação terá muito pouco a subir daqui para o final do ano. Processo recessivo Cornélia ainda descartou a tese defendida por alguns analistas do mercado financeiro de que o atual cenário de deflação é conseqüência de um processo recessivo instalado no País. A atividade, pelo contrário, defende a coordenadora, vai vem. Ela citou os dados da produção industrial de maio, divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dando conta de uma expansão de 1,60% sobre abril, sem os efeitos sazonais, e de 4,8% sobre maio do ano passado na comparação original. Além dos dados correntes de atividade provarem o contrário do que defendem alguns no mercado, continua a coordenadora do ICV-Dieese, a queda dos preços no semestre tem origem nos produtos alimentícios in natura e semi-elaborados, sensíveis aos desajustes climáticos, e aos problemas pontuais causados pela ocorrência de febre aftosa na pecuária doméstica e gripe aviária no mundo, o que incorreu em menor exportações das carnes e frangos brasileiros. A mesma configuração do caráter de sazonalidade que influenciou o segmento dos alimentos com conseqüências sobre a inflação influenciou a variação dos preços que compõem o grupo Transportes, em especial o do álcool combustível que subiu expressivamente ao longo do primeiro semestre em resposta a entressafra de cana-de-açúcar, mas que agora encontra-se em queda vertiginosa. Ainda dentro do grupo Transportes, contribuiu para a deflação (1,32%) a mudança de política, que permitiu a implantação do Bilhete Único para a utilização no pagamento das passagens do Metrô. Eletrodoméstico Até mesmo a queda de preços no segmento de eletrodomésticos (0,18%), que poderia ser atribuída, em primeira instância, a uma retração econômica, recaiu sobre os produtos que não são considerados como de primeira necessidade. "Tive o trabalho de analisar este segmento. Percebi que os preços que mais caíram foram os de aparelhos de som, microondas e televisores, cujas compras podem ser postergadas em favor de um momento mais favorável no que se refere à taxa de juros." "O consumidor não é mais o idiota de tempos atrás e que se preocupava apenas se a prestação cabia ou não no seu bolso. Hoje ele faz associações e sabe que com a inflação atual a taxa de juros tende a cair mais", diz Cornélia. Ela acrescenta ainda que os indicadores do Dieese, ao longo do tempo, têm se mostrado bastante aderente ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, e que é utilizado para balizar a meta de inflação. Isso pode ser, também, um indicativo de que a inflação pelo IPCA pode vir a fechar bem mais baixo do que prevêem atualmente os analistas do mercado.

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