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'Inflação deve continuar viva e com força no ano que vem', diz economista

Coordenador do IPC da Fipe, Guilherme Moreira diz que ligeira desaceleração do custo de vida em novembro ante outubro é pontual e que setores que até agora estavam 'quietos', como os serviços, voltam a preocupar

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

Duas prévias da inflação de novembro divulgadas nesta quinta-feira, 25, o IPCA-15, da inflação oficial , e o IPC da Fipe, que mede a variação de preços na cidade de São Paulo, apontam para a mesma direção: uma ligeira desaceleração do custo de vida em relação ao resultado anterior. O IPCA-15 de novembro subiu 1,17%, depois de ter aumentado 1,20% em outubro. O IPC da Fipe da terceira quadrissemana de novembro teve alta de 0,90%, após elevação de 0,98% na quadrissemana anterior.

A perda de fôlego da inflação, segundo o economista Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe, é algo pontual. Ela ocorreu por causa do recuo dos alimentos e do esgotamento dos efeitos da tarifa de energia elétrica.

Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe; para o economista, perda de fôlego da inflação é algo pontual. Foto: Guilherme Moreira - 25/11/2021

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Apesar desse ligeiro alívio, Moreira diz que a inflação continua viva e que setores que estavam até agora “quietos”, como os serviços, voltam a preocupar com a retomada das atividades em razão do avanço da vacinação. “Viagem e excursão foi o segundo item que mais contribuiu para inflação da terceira quadrissemana, depois da gasolina”, exemplifica. A seguir os principais trechos da entrevista.

A pequena desaceleração apontada por dois indicadores, o IPCA-15 de novembro e o IPC da Fipe da terceira quadrissemana, é sinal de que a inflação começa a dar trégua ou é algo pontual?

Os índices deste mês perderam força por conta da energia elétrica e da alimentação. Saímos da bandeira de energia elétrica verde e hoje estamos na bandeira mais cara. Esses aumentos foram incorporados ao índice. Então, as contas de energia começaram a ficar iguais às do mês anterior. A alimentação perdeu força por causa do recuo das carnes e dos produtos in natura, afetados pela seca. Essa desaceleração é por causa de questões pontuais: energia e alimentos. Isso não quer dizer que o problema inflacionário esteja resolvido. Temos toda alimentação de produtos industrializados fortemente pressionada ainda. No transporte, por exemplo, não sabemos como o preço do petróleo vai se comportar. O terceiro fator é a retomada da atividade que passa a jogar pressão inflacionária em itens que estavam quietos até agora, por exemplo, os serviços.

Como o sr. vê o impacto neste fim ano do 13.º salário e da reabertura da economia nos preços?

Tradicionalmente, alguns preços sobem muito nesta época, como as carnes, entre 10% e 15%. Mas neste ano estamos vivendo um momento atípico, houve o fechamento das exportações para a China. Além disso, o poder de compra da população está muito reduzido. Mesmo com a entrada do 13.º salário, há uma queda muito forte no rendimento. Apesar disso, teremos uma movimentação extra. Todo dezembro tem aumento de preços, tanto é que esperamos para dezembro uma alta de 0,80% para o IPC da Fipe, muito próximo do esperado para o fechamento de novembro, de 0,82%. A reabertura dos serviços também tem pressionado os preços. Tanto é que, no nosso indicador, viagem e excursão foi o segundo item que mais contribui para inflação da terceira quadrissemana, com alta de 13,44%, depois da gasolina, que subiu 7,57%.

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Como fica a inflação para o ano que vem, a meta de 3,5% é factível?

Acho bem difícil ser atingida. Hoje no mercado ninguém acredita em 3,5%. Todo mundo trabalha com algo próximo de 5%. É natural que a taxa de inflação do ano que vem seja menor do que a deste ano, em torno de 10%. Quais são os fatores que pressionaram a inflação neste ano? Habitação, alimentação e transporte. Habitação tem muito de energia elétrica e essa energia não vai subir porque não tem mais para onde subir. Estabiliza ou cai, dependendo das chuvas. Tem o câmbio, que teve uma desvalorização de cerca de 40% de 2020 para 2021. Não acredito que ocorra outra desvalorização dessa magnitude. Esses dois grandes drivers da inflação, energia e câmbio, devem parar de contribuir positivamente.

Por que a inflação de 2022 não tende mais para 3%?

A inflação de 2022 não vai para 3%, mas deve ficar em torno de 5%, porque há uma série de custos que subiram no atacado, captados pelos IGPs (Índice Geral de Preços, calculado pela Fundação Getúlio Vargas). Esses custos devem continuar sendo repassados para o consumidor. Alémdisso, há a pressão dos serviços que estão com preços defasados. Uma parte das pressões de preços sai e entra outra. A inflação deve continuar viva e com força no ano que vem.