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Inflação estável é precondição para crescer, diz Meirelles

Segundo presidente do BC, estabilidade de preços ainda está se consolidando

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Por Redação
Atualização:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou há pouco que a experiência internacional mostra que a inflação baixa e estável é precondição para o crescimento econômico. "Países que crescem de forma sustentada têm inflação mais baixa e estável", disse Meirelles, lembrando que a alta nos preços é mais danosa para as camadas de baixa renda. Segundo ele, o Brasil tem uma experiência ainda curta e recente de inflação baixa e o quadro de estabilidade de preços no País ainda está sendo consolidado. Na apresentação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, intitulada Dividendos da estabilidade, Meirelles apresentou uma tabela, em que mostra a experiência de comportamento de inflação nos EUA e no Reino Unido, de 1980 a 2006, e o compara com o Brasil. Os quadros mostram que, nos períodos de maior inflação, a taxa de crescimento da economia caía e, nos períodos de inflação menor, o crescimento se acelerava. Ele também mostrou que nos períodos de menos volatilidade nos preços, o Produto Interno Bruto (PIB) também se acelera. "Além de alongar o horizonte de previsibilidade dos agentes econômicos, reduzindo as incertezas e favorecendo os investimentos, a inflação baixa e controlada preserva o poder de compra dos salários e contribui para a melhora na distribuição de renda, sustentando a demanda e assegurando crescimento por mais tempo", disse Meirelles. O presidente do BC também defendeu o sistema de decisão colegiada sobre a taxa de juros que, segundo ele, diminui o risco de erro. Meirelles lembrou ainda que, apesar da queda do nível de inflação no Brasil desde 1994, ainda persiste uma cultura inflacionária em mecanismos de indexação na economia brasileira. Crédito Ela afirmou, também, que há uma correlação entre inflação em queda e aumento do crédito. De acordo com Meirelles, a redução dos preços tende a aumentar a confiança dos consumidores e a elevar a possibilidade de planejamento futuro das famílias. Ele acrescentou que a elevação do crédito verificada desde 2004 foi acompanhada de uma queda das expectativas de inflação doze meses à frente. A redução da inflação, segundo Meirelles, também ajuda a elevar o prazo médio dos empréstimos bancários. Para o presidente do BC, a elevação do crédito junto com o ganho de renda tem ajudado a sustentar o ritmo de crescimento das vendas no varejo. Durante sua exposição inicial, Meirelles também fez questão de traçar uma correlação entre a queda do risco Brasil e a elevação das taxas de investimento. Segundo Meirelles, a realização dos investimentos é fundamental para que a economia consiga responder ao crescimento da demanda, que segundo ele é vigoroso. Tarifas bancárias Em resposta aos questionamentos sobre o nível elevado das tarifas bancárias, Meirelles afirmou que não cabe ao BC fazer tabelamento ou controle de preços e que a legislação brasileira estabelece a livre concorrência. "O BC não tem função de tolerar ou não preços", disse. Ele manifestou apoio ao requerimento a ser apresentado pelo presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), convidando a diretoria da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para discutir o assunto. "É importante discutir diretamente com o setor privado", disse. Concentração bancária Meirelles tentou mostrar que o grau de concentração bancária não tem necessariamente relação direta com os níveis elevados de spreads bancários (diferença entre o custo de captação dos recursos pelo banco e a taxa de juros cobrada em empréstimos) praticados no Brasil. Ele confirmou que, atualmente, os três maiores bancos nacionais possuem 45% dos ativos do sistema financeiro, mas destacou que há outros países em que a concentração bancária é muito maior. Na Suécia, por exemplo, os três maiores bancos detêm 95% do mercado. Em Portugal, este índice é de 90%. Na Suíça, de 88%; na África do Sul, de 76%, e na Alemanha, de 65%. E Meirelles citou ainda mais cinco países com concentração bancária superior à brasileira. "Mesmo países com nível de spread extremamente baixo têm concentração bancária bastante superior à do Brasil", disse ele, que manifestou apoio ao projeto que dá poder ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de analisar fusões e aquisições do sistema financeiro. Meirelles afirmou também que a inadimplência é uma componente importante do spread. Segundo ele, o alto índice de inadimplência no Brasil pode estar relacionado a dificuldades de cobrança, por exemplo por conta de demora no poder Judiciário, que levaria os consumidores a acharem melhor não pagar suas dívidas. Cadastro positivo Outro ponto destacado por Meirelles como possível fonte do spread bancário elevado é o baixo incentivo aos bons clientes por conta da ausência do cadastro positivo. Novamente, ele manifestou apoio ao projeto que está na Câmara. No ano passado, o governo disse que usaria o texto deste projeto mencionado por Meirelles para editar uma medida provisória regulamentando o cadastro positivo. Meirelles também destacou que o governo decidiu, em 2006, aumentar a cobertura da central de risco de crédito do Banco Central, que passará a registrar operações de crédito superior a R$ 3 mil. Atualmente, ela só cobre operações acima de R$ 5 mil. "Esse projeto está em andamento já com os recursos orçamentários liberados para a sua execução", disse. O presidente do BC ainda destacou que o crescimento acelerado do crédito tem incluído novos clientes no sistema financeiro e, por isso, os bancos ainda tem "ineficiência" na cobrança e ainda um baixo nível de informações sobre o histórico destes clientes, o que impede a queda do spread bancário. Para Meirelles, as medidas tomadas pelo governo, como a criação da conta-salário, ainda vão surtir efeito sobre os spreads bancários, sobretudo quando elas estiverem plenamente em funcionamento. A conta-salário, por exemplo, vai atingir todos os contratos apenas a partir de 2009. Matéria atualizada às 13h46

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