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Inflação acelera e IPCA acima de 10% no fim do ano entra no radar do mercado

Com alta da gasolina, o índice ficou em 1,25% em outubro, o maior para o mês desde 2002, e atingiu 10,67% em 12 meses, segundo o IBGE; meta perseguida pelo Banco Central para este ano é de 3,75%

Foto do author Cicero Cotrim
Por Daniela Amorim (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - Sob pressão de aumentos de preços disseminados, a inflação oficial no País alcançou 1,25% em outubro, o maior resultado para o mês desde 2002, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo divulgados nesta quarta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa foi a mais elevada deste ano, superando até as expectativas mais pessimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma alta mediana de 1,06%. A aceleração fez a inflação acumulada em 12 meses chegar a 10,67% em outubro, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central em 2021. 

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A surpresa fez economistas aumentarem suas projeções de inflação para este ano, alguns deles ao patamar de dois dígitos. A LCA Consultores elevou a projeção de inflação de 2021 de 9,70% para 10,0%, enquanto o Bank of American aumentou de 9,1% para 10,1%. A última vez que o IPCA encerrou o ano acima de dois dígitos foi em 2015, aos 10,67%.

A Ativa Investimentos elevou as previsões para a inflação de 2021 (de 9,10% para 9,40%) e de 2022 (de 3,90% para 4,40%). A corretora também reviu a projeção de aumento da taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em dezembro, de 1,5 ponto porcentual para 2,0 pontos, chegando ao fim do ciclo de altas em 13,25% ao ano, considerando mais um aumento de 2,0 pontos porcentuais em fevereiro e uma alta final de 1,5 ponto porcentual em março.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o aumento da inflação acumulada em 12 meses e a perspectiva de inércia para 2022 reforçam a necessidade de que o Banco Central mantenha uma ação agressiva no aperto monetário, embora não com alta superior a 1,5 ponto porcentual por reunião.

“Ainda vamos ter diversos dados importantes, incluindo o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, antes da próxima reunião do Copom”, ponderou Rostagno. “O BC tem esse desafio de ancorar as expectativas, mas evitar jogar a economia em uma recessão”, completou.

O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 65% em setembro para 67% em outubro. A última vez em que a difusão ficou abaixo de 50%, ou seja, com menos da metade dos itens investigados com aumento de preços, foi em maio de 2020, quando foi de 43%.

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“Lembrando que em maio de 2020 a gente estava num contexto completamente diferente, com queda muito forte do petróleo”, disse Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. 

Segundo o IBGE, o preço da gasolina acumula alta de 38,29% no ano. Foto: Werther Santana/ Estadão

 

Os combustíveis foram os principais vilões do último mês. A gasolina subiu 3,10% em outubro, o sexto mês seguido de aumentos. A alta já ultrapassa 38% apenas neste ano. Os consumidores também pagaram mais pelo óleo diesel (5,77%), etanol (3,54%) e gás veicular (0,84%). As passagens aéreas saltaram 33,86% em outubro.

O gás de botijão subiu 3,67%, a 17.ª alta consecutiva, acumulando elevação de 44,77% desde junho de 2020. A energia elétrica também voltou a subir, e as famílias ainda gastaram 1,17% a mais com alimentação, com destaque para o encarecimento do tomate, batata-inglesa, café moído, frango e queijo. No mês de outubro, houve alta de preços em todos os nove grupos que integram o IPCA, sendo que sete deles tiveram aumentos maiores que no mês anterior.

A alta de preços de bens e serviços monitorados pelo governo, como a energia elétrica e a gasolina, tem afetado diretamente a inflação, mas tem resultado também numa pressão indireta sobre outros itens, gerando uma inflação de custos, explicou Pedro Kislanov, gerente do IBGE. Para o pesquisador, a demanda tem se recuperado aos poucos, impulsionada pela reabertura da economia e pelo avanço da vacinação da população contra a covid-19. No entanto, o cenário atual evidencia pressão de uma inflação de custos, turbinada por aumentos nos combustíveis, gás e energia, além da alta do dólar.

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“A gasolina tem impacto no frete, acaba afetando preços de outros itens também”, exemplificou Kislanov, lembrando que o IPCA está sendo pressionado por preços administrados, mas os alimentos também contribuem para a inflação elevada.

Dentro do índice, a inflação de serviços - usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação - passou de uma alta de 0,64% em setembro para 1,04% em outubro. E a de itens monitorados pelo governo saiu de 1,93% em setembro para 1,35% em outubro.

"Essa alta nos preços dos serviços tem que ser observada com certa cautela ainda, porque os serviços prestados às famílias não têm sido a principal contribuição para a recuperação do setor de serviços", alertou Kislanov. "(A alta de preços) pode ter questões que não são relacionadas diretamente com a demanda por serviços, mas também a alta de custos", completou.

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O pesquisador do IBGE cita como exemplo o encarecimento das passagens aéreas (33,86%) e do transporte por aplicativo (19,85%).

“(Passagem aérea) Tem inflação de custo, por conta da depreciação cambial, já que muitos contratos de aéreas são atrelados ao dólar, e da alta no custo dos combustíveis, a alta de querosene de aviação. E tem também inflação de demanda. Com a melhora da pandemia, houve aumento da demanda”, justificou Kislanov. “No transporte por aplicativo os fatores são parecidos. Tem aumento na circulação de pessoas e tem também aumento dos combustíveis. Esses custos acabam sendo repassados para o consumidor”, contou.

A inflação de serviços acumulada em 12 meses saiu de 4,41% em setembro para 4,92% em outubro. A inflação de monitorados em 12 meses passou de 15,72% em setembro para 17,01% em outubro, o maior patamar desde janeiro de 2016, quando foi de 17,22%.

No mês de outubro, todas as 16 regiões que integram o IPCA tiveram altas de preços. A inflação acumulada em 12 meses já alcança dois dígitos em 12 delas: Vitória (12,22%), Goiânia (11,03%), Curitiba (13,48%), Campo Grande (11,41%), São Luís (11,58%), Porto Alegre (11,92%), Rio Branco (11,94%), Fortaleza (11,34%), Belo Horizonte (10,46%), Recife (10,29%), Salvador (10,38%) e São Paulo (10,22%).

As maiores contribuições para o IPCA acumulado em 12 meses são da gasolina (2,08 pontos porcentuais), energia elétrica (1,30 ponto), gás de botijão (0,42 ponto), etanol (0,41 ponto), automóvel novo (0,38 ponto) e automóvel usado (0,28 ponto).

De janeiro a outubro, o IPCA acumula alta de 8,24%, sob pressão, principalmente, dos aumentos na gasolina (1,88 ponto), energia elétrica (0,88 ponto) e gás de botijão (0,37 ponto).  

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