RIO e SÃO PAULO - Sob pressão de aumentos de preços disseminados, a inflação oficial no País alcançou 1,25% em outubro, o maior resultado para o mês desde 2002, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo divulgados nesta quarta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa foi a mais elevada deste ano, superando até as expectativas mais pessimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma alta mediana de 1,06%. A aceleração fez a inflação acumulada em 12 meses chegar a 10,67% em outubro, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central em 2021.
A surpresa fez economistas aumentarem suas projeções de inflação para este ano, alguns deles ao patamar de dois dígitos. A LCA Consultores elevou a projeção de inflação de 2021 de 9,70% para 10,0%, enquanto o Bank of American aumentou de 9,1% para 10,1%. A última vez que o IPCA encerrou o ano acima de dois dígitos foi em 2015, aos 10,67%.
A Ativa Investimentos elevou as previsões para a inflação de 2021 (de 9,10% para 9,40%) e de 2022 (de 3,90% para 4,40%). A corretora também reviu a projeção de aumento da taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em dezembro, de 1,5 ponto porcentual para 2,0 pontos, chegando ao fim do ciclo de altas em 13,25% ao ano, considerando mais um aumento de 2,0 pontos porcentuais em fevereiro e uma alta final de 1,5 ponto porcentual em março.
Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o aumento da inflação acumulada em 12 meses e a perspectiva de inércia para 2022 reforçam a necessidade de que o Banco Central mantenha uma ação agressiva no aperto monetário, embora não com alta superior a 1,5 ponto porcentual por reunião.
“Ainda vamos ter diversos dados importantes, incluindo o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, antes da próxima reunião do Copom”, ponderou Rostagno. “O BC tem esse desafio de ancorar as expectativas, mas evitar jogar a economia em uma recessão”, completou.
O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 65% em setembro para 67% em outubro. A última vez em que a difusão ficou abaixo de 50%, ou seja, com menos da metade dos itens investigados com aumento de preços, foi em maio de 2020, quando foi de 43%.
“Lembrando que em maio de 2020 a gente estava num contexto completamente diferente, com queda muito forte do petróleo”, disse Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
Os combustíveis foram os principais vilões do último mês. A gasolina subiu 3,10% em outubro, o sexto mês seguido de aumentos. A alta já ultrapassa 38% apenas neste ano. Os consumidores também pagaram mais pelo óleo diesel (5,77%), etanol (3,54%) e gás veicular (0,84%). As passagens aéreas saltaram 33,86% em outubro.
O gás de botijão subiu 3,67%, a 17.ª alta consecutiva, acumulando elevação de 44,77% desde junho de 2020. A energia elétrica também voltou a subir, e as famílias ainda gastaram 1,17% a mais com alimentação, com destaque para o encarecimento do tomate, batata-inglesa, café moído, frango e queijo. No mês de outubro, houve alta de preços em todos os nove grupos que integram o IPCA, sendo que sete deles tiveram aumentos maiores que no mês anterior.
A alta de preços de bens e serviços monitorados pelo governo, como a energia elétrica e a gasolina, tem afetado diretamente a inflação, mas tem resultado também numa pressão indireta sobre outros itens, gerando uma inflação de custos, explicou Pedro Kislanov, gerente do IBGE. Para o pesquisador, a demanda tem se recuperado aos poucos, impulsionada pela reabertura da economia e pelo avanço da vacinação da população contra a covid-19. No entanto, o cenário atual evidencia pressão de uma inflação de custos, turbinada por aumentos nos combustíveis, gás e energia, além da alta do dólar.
“A gasolina tem impacto no frete, acaba afetando preços de outros itens também”, exemplificou Kislanov, lembrando que o IPCA está sendo pressionado por preços administrados, mas os alimentos também contribuem para a inflação elevada.
Dentro do índice, a inflação de serviços - usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação - passou de uma alta de 0,64% em setembro para 1,04% em outubro. E a de itens monitorados pelo governo saiu de 1,93% em setembro para 1,35% em outubro.
"Essa alta nos preços dos serviços tem que ser observada com certa cautela ainda, porque os serviços prestados às famílias não têm sido a principal contribuição para a recuperação do setor de serviços", alertou Kislanov. "(A alta de preços) pode ter questões que não são relacionadas diretamente com a demanda por serviços, mas também a alta de custos", completou.
O pesquisador do IBGE cita como exemplo o encarecimento das passagens aéreas (33,86%) e do transporte por aplicativo (19,85%).
“(Passagem aérea) Tem inflação de custo, por conta da depreciação cambial, já que muitos contratos de aéreas são atrelados ao dólar, e da alta no custo dos combustíveis, a alta de querosene de aviação. E tem também inflação de demanda. Com a melhora da pandemia, houve aumento da demanda”, justificou Kislanov. “No transporte por aplicativo os fatores são parecidos. Tem aumento na circulação de pessoas e tem também aumento dos combustíveis. Esses custos acabam sendo repassados para o consumidor”, contou.
A inflação de serviços acumulada em 12 meses saiu de 4,41% em setembro para 4,92% em outubro. A inflação de monitorados em 12 meses passou de 15,72% em setembro para 17,01% em outubro, o maior patamar desde janeiro de 2016, quando foi de 17,22%.
No mês de outubro, todas as 16 regiões que integram o IPCA tiveram altas de preços. A inflação acumulada em 12 meses já alcança dois dígitos em 12 delas: Vitória (12,22%), Goiânia (11,03%), Curitiba (13,48%), Campo Grande (11,41%), São Luís (11,58%), Porto Alegre (11,92%), Rio Branco (11,94%), Fortaleza (11,34%), Belo Horizonte (10,46%), Recife (10,29%), Salvador (10,38%) e São Paulo (10,22%).
As maiores contribuições para o IPCA acumulado em 12 meses são da gasolina (2,08 pontos porcentuais), energia elétrica (1,30 ponto), gás de botijão (0,42 ponto), etanol (0,41 ponto), automóvel novo (0,38 ponto) e automóvel usado (0,28 ponto).
De janeiro a outubro, o IPCA acumula alta de 8,24%, sob pressão, principalmente, dos aumentos na gasolina (1,88 ponto), energia elétrica (0,88 ponto) e gás de botijão (0,37 ponto).