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Com crise do coronavírus, IPCA cai 0,31% em abril, 2ª maior deflação desde o início do Plano Real

Queda nos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina, teve o maior impacto no IPCA do mês passado; mínima histórica do índice oficial de preços é de de agosto de 1998, de -0,51%

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - A pandemia do novo coronavírus fez os preços da economia registrarem em abril a maior queda em mais de duas décadas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,31%, a segunda maior deflação já registrada desde o início do Plano Real, de 1994, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 8. A mínima histórica do índice oficial de preços é de agosto de 1998, de -0,51%.

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Os alimentos voltaram a pesar mais no orçamento, mas as famílias gastaram menos com transportes, artigos de residência, habitação, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais e comunicação.

A crise do petróleo, que derrubou a cotação da commodity no mercado internacional e fez a Petrobrás reduzir os preços dos combustíveis nas refinarias, deu a principal contribuição para a deflação de abril. O preço da gasolina recuou 9,31%.

Compras de alimentos pesaram no orçamento das famílias em abril, com alta de 1,79%. Foto: Alex Silva/Estadão - 17/4/2020

No entanto, a queda disseminada entre os grupos pesquisados evidencia o impacto predominantemente deflacionário da pandemia.

“É o menor resultado (do IPCA) em mais ou menos 22 anos”, ressaltou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. “Pode haver questão de demanda, menos gente nas ruas. Mas boa parte da economia realmente está parada, e a gente sente esse efeito principalmente no componente de serviços.”

A inflação de serviços acelerou de uma queda de 0,14% em março para alta de 0,25% em abril, dentro do IPCA. As passagens aéreas ficaram 15,10% mais caras, mas a coleta de preços foi feita em fevereiro, antes do agravamento do surto da covid-19 no Brasil.

“Provavelmente o maior impacto de covid (sobre os preços das passagens aéreas) será sentido agora no mês de maio”, ressaltou Kislanov.

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Sobe e desce

Se por um lado, em meio à pandemia, houve maior demanda por alimentos, por outro, caiu a procura por uma série de outros serviços.

“A gente coleta os preços todo dia. É difícil identificar um ponto específico onde começa (o impacto da covid-19). Quando começaram as medidas de isolamento social, começaram mais os impactos de demanda sobre o IPCA. As pessoas indo mais ao mercado, comprando mais alimentos no supermercado para cozinhar em casa”, mencionou ele. “À medida que teve isolamento social, as pessoas passaram a consumir menos serviços, e muitos fecharam. No caso de serviços que ainda estão abertos, houve redução de preços para atrair consumidores”, acrescentou.

As famílias voltaram a gastar mais com alimentos no mês de abril. O grupo alimentação e bebidas saiu de uma taxa de 1,13% em março para 1,79% em abril, maior impacto de grupo sobre a inflação oficial do último mês, uma contribuição de 0,35 ponto porcentual.

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Os alimentos ficaram mais caros por uma pressão de aumento na procura, mas também por questões climáticas que prejudicaram algumas lavouras, o que reduziu a oferta de alguns itens in natura.

“Tem um lado de restrição de oferta, tem um lado de aumento da demanda, principalmente no caso dos alimentos menos perecíveis”, justificou Pedro Kislanov.

A alimentação no domicílio passou de uma alta de 1,40% em março para um avanço de 2,24% em abril. Houve alta de preços na cebola (34,83%), batata-inglesa (22,81%), feijão-carioca (17,29%) e leite longa vida (9,59%). Por outro lado, as carnes ficaram 2,01% mais baratas, o quarto mês consecutivo de quedas.

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A alimentação fora do domicílio acelerou de um aumento de 0,51% em março para 0,76% em abril, puxada pela alta do lanche (3,07%). Já a refeição fora de casa teve redução de 0,13%.

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