
30 Outubro 2015 | 02h03
Numa espécie de mea culpa, o BC suprimiu da ata a avaliação anterior de que os avanços alcançados no combate à inflação ao longo do ano mostravam que a estratégia de política monetária estava na "direção correta".
Agora, o BC diz que o impacto na inflação do reajuste de preços administrados, como gasolina e energia, e da alta da dólar será mais "demorado e intenso", com efeitos também em 2016. Segundo o BC, as suas projeções para o IPCA no ano que vem continuam subindo.
Conversa gravada. O presidente do BC, Alexandre Tombini, fez ontem uma apresentação para um grupo de deputados e disse que a questão das contas públicas afeta o combate à inflação. "Quando as metas fiscais são reduzidas, as expectativas de inflação são revisadas para cima", disse. A fala do presidente foi gravada pelos parlamentares e o Estado teve acesso.
Segundo Tombini, com as incertezas fiscais, as expectativas começaram a subir sem qualquer movimento de política monetária (política de juros). O momento, disse Tombini, é de restabelecer a política fiscal.
"Temos hoje uma política monetária dura, há espaço no futuro para trabalhar, mas o fato é que a fiscal precisa ser restabelecida, tanto nos seus fluxos quanto ao colocar seus estoques em trajetória estável", afirmou.
Mudança de roteiro. No início do ano, o roteiro que o BC traçou para lidar com a política da nova equipe econômica, de corrigir os preços administrados pelo governo, era limitar os efeitos dos reajustes à inflação de 2015. Mas o realinhamento de preços será mais doloroso do que se esperava. Além disso, a alta do dólar provocada pelas incertezas políticas e econômicas atrapalhou o roteiro.
Apesar do descrédito do mercado financeiro, o BC insistia que seria possível levar a inflação para o centro da meta em 2016. O quadro mudou na semana passada quando o BC decidiu manter a taxa Selic em 14,25% e abandonar a sua estratégia. O prazo de convergência foi transferido para 2017.
Também foi retirada a avaliação de "sinais benignos" vindos das expectativas de médio e longo prazo, o que aponta para um retrocesso em relação à melhora alcançada até a agosto quando o governo enviou ao Congresso o Orçamento de 2016 com a previsão de déficit.
Seguro do BC. Além de colocar a culpa na política fiscal, o BC disse que ela traz uma percepção negativa sobre o ambiente econômico. E acrescentou: a política monetária deve se manter vigilante. Esse é o 'seguro' para poder atuar à vontade na próxima reunião do Copom. Ou seja, mesmo que o discurso seja o de que manterá a taxa estável por um período prolongado, o BC deixou espaço para voltar a elevar os juros.
O BC mostrou uma visão mais negativa sobre os preços administrados, principal vilão da inflação este ano. Até para justificar a mudança de orientação, a projeção do banco ficou maior até do que a do mercado financeiro. O BC prevê alta de 16,9% e os analistas de mercado projetam 16,1%, segundo o Relatório Focus.
No encontro com o deputados, Tombini mostrou preocupação com a evolução da dívida púbica. "É uma situação que tem que ser atacada neste e nos próximos anos para trazer de volta a trajetória desses estoques fiscais para um padrão de declínio, de redução ao longo do tempo. Isso não é importante só para o setor público, mas também para as empresas e para as famílias", disse. / Colaborou Bernando Caram
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